"AR, Extensivo, Noite. Cabelos vermelhos, anel prateado no anular - TopicsExpress



          

"AR, Extensivo, Noite. Cabelos vermelhos, anel prateado no anular direito. Inicial G (?). [Relativamente longo] Não consigo lembrar da primeira vez que a vi. Apenas e simplesmente a observava quase todos os dias, sentada em algum canto, quieta e calada. Caderno ou celular na mão, cabeça baixa... Não encarava praticamente ninguém, tampouco parecia estar esperando por um conhecido. Sucedendo-se os primeiros dias de aula, as amizades começaram a se firmar e os círculos se fecharam. Estando em turmas diferentes, passei a vê-la cada vez menos. Jamais trocamos uma única palavra. O máximo, numa certa vez, foi uma troca de olhares na qual, por uma fração de segundo, certas sensações que eu julgava não mais possuir sussurraram na minha mente como velhos prisioneiros semimortos, arranhando sem esperança portas podres de antigos calabouços, em seus últimos suspiros de vida. Por outro lado ela provavelmente não sentiu nada. Pelo menos foi a reação que seria fisicamente visível em ambos: nada. O que se esperar da minha reação? Àquela expressão casual, beirando a seriedade e a indiferença, vez por outra quebrada por sorrisos discretos e inocentes? Àquele ar de alguém que não deseja chamar a atenção e que falha miseravelmente no intento, derrotada por vivos cabelos vermelhos? Àquele olhar curioso, que chama a atenção aos traços delicados e perfeitos de todo o rosto? Não se espera do homem mortal que se assuste à visão de criaturas semelhantes aos anjos das antigas promessas? E nunca trocamos uma única palavra... Certa vez, sem querer parecer muito deslumbrado, comentei sobre a garota entre amigos. No entanto, ao olhar para ela eles não viram nada diferente ou especial. Aqui, talvez, caiba a citação de Machado de Assis: "Tão certo é que a paisagem depende do ponto de vista, e que o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão." Vaga definição de paixão, independente de guerras ou batatas. Filosofia correta em teoria, mas impossível de levar para a prática da vida de pessoas como eu, que ainda se prendem à idealização romântica e que ocultam essa característica por questões puramente sociais e módicas. A lógica de nada serve diante da graça física que, como o mesmo Machado de Assis dizia, possui fins de perpetuar a espécie. Pele branca, média/baixa estatura, beleza de traços delicados, jeito discreto e... Cabelo vermelho. E é esse o detalhe mais importante. Não pelo fato do interlocutor ter uma larga preferência por ruivas (e eu tenho), mas por não existir combinação lógica entre atitude de discrição e cabelos que brilham como rubras luzes sobre os arcos das capelas de hóstias consagradas. Boa ideia da Igreja Católica, apesar do meu ateísmo. Linda garota, não a compreendo. E a força que governa meus pensamentos, a ciência, empurra minha mente a ela como um mistério a ser desvendado. Ou talvez como um devaneio similar aos canais de Schiaparelli ou ao éter aristotélico... É possível. Talvez a ambiguidade que me fascina seja irreal. Mas já chega, voltaríamos a Quincas Borba. Quem será ela? Do que será que gosta? Será que suspira por alguém? Será que tem medo de algo? Com o quê sonha em noites escuras? E sua voz, é tão macia quanto sua pele? Sua personalidade possui a doçura que seus lábios transmitem à minha imaginação? Como lutar contra a ciência? Fim desta reflexão sem rumo ou propósito. Apenas gostaria de perguntar... Garota de cabelo vermelho, não se sente injusta com o mundo? Tem a mínima ideia de que você é comparável em beleza, sutileza e calor, a explosões supernovas de estrelas cansadas que despejam no vazio do espaço a matéria da vida para que, numa nova história, jovens solitários possam se apaixonar e sonhar com elas? E nunca trocamos uma única palavra..."
Posted on: Fri, 06 Sep 2013 02:29:31 +0000

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