Caue Fonseca | [email protected] Se resta uma - TopicsExpress



          

Caue Fonseca | [email protected] Se resta uma analogia entre o deputado federal e o jogador de futebol é a que Romário fala como jogava. Mexe-se pouco na cadeira. Olha para baixo, para os lados, parece não estar prestando atenção na pergunta do interlocutor. Mas cada resposta é um chute certeiro. As boladas atingem parlamentares, o próprio partido, a Fifa, a CBF e até a Presidência da República. Da entrevista concedida no apertado gabinete do anexo IV reservado aos novatos da Câmara, a conclusão é que Romário, 47 anos, é hoje muito mais o dedicado presidente regional do PSB do que um ex-boleiro. Ele jura não saber escalar nem mesmo os 11 titulares da Seleção de Luiz Felipe Scolari, mas não se priva de opinar sobre o líder do Brasileirão, a mobilização dos jogadores por calendário mais justo e, claro, sobre os gastos bilionários na Copa do Mundo. Entre os técnicos que o vetaram em Copas, Romário mostra mais mágoa com Zagallo do que de Felipão. Fala com amargura dos confrontos marcantes contra a dupla Gre-Nal. Sorrir mesmo, de orelha a orelha, só duas vezes. Ao mostrar a foto da filha Ivy - a menina com síndrome de Down, inspiração da sua maior bandeira na política - e ao revelar seu próximo objetivo: campeão do Mundo aos 28 anos, 1.000 gols aos 41 e deputado aos 44, Romário deseja chegar aos 50 anos eleito prefeito do Rio, em 2016. (Edilson Alves) No apertado gabinete da Câmara, Romário tem ao fundo o quadro com a filha Ivy, com Síndrome de Down, inspiração para uma de suas maiores campanhas em Brasília. E mantém a bandeira do América do Rio, o time de coração dele e do pai. Passados os três primeiros anos de mandato, o que o senhor considera sua principal conquista? A maior foi uma conquista pessoal. Foi ter credibilidade como parlamentar. No começo, as pessoas duvidavam. Se perguntavam o que eu vim fazer aqui. Achavam que eu seria mais uma dessas personalidadezinhas que vêm aqui para fazer número,cumprir o mandato e ir embora. Quando eu tomei essa decisão de concorrer a deputado federal,eu sabia que ia ter algumas dificuldades. Aí eu me elejo como o mais votado do partido no Rio e entro em um mundo 100% novo. Mas eu sempre superei dificuldades na vida e tinha consciência de que, na política, não seria diferente. Se no ano passado você me perguntasse, eu não poderia te responder. Não sabia se continuaria. Mas hoje eu estou bastante feliz. O senhor ensaiou uma saída do PSB e voltou. O que aconteceu? A minha situação no PSB do Rio era muito complexa. Nós estávamos engessados por um acordo do partido até 2020. Eu teria de concorrer, para sempre, a deputado federal. E a minha comunicação com a presidência nacional do partido era... Na verdade não era nada. Nunca existiu. Eu não sabia o por quê. O líder do partido, lá do teu Estado, o Beto Albuquerque, foi um cara importante para a minha volta. Por meio do Beto e de outros deputados eu acabei conversando com o Eduardo Campos (governador de Pernambuco) aqui em Brasília. Ele tirou o presidente do partido lá do Rio e, no dia seguinte, me convidou a assumir. Foram definidas bandeiras de início de mandato? Eu vim com uma bandeira específica, que é a das pessoas com deficiência. Foi motivado pela minha filhinha de oito anos, que tem Síndrome de Down. Nos primeiros anos de vida dela, eu participei de um monte de reuniões tanto com pessoas com capacidade financeira excelente quanto em favelas, e vi as dificuldades de quem não tem condições de dar um tratamento para o filho. Aí eu comecei a entender que a política podia abrir portas para um segmento que lá atrás era desrespeitado. Existia muito preconceito, não tinha espaço, a política pública era quase nenhuma. Hoje há um começo. Já é possível perceber mudança? Sim, é o mais legal disso. Perceber que, de uns três anos para cá, as pessoas estão levando os seus irmãos, seus primos com deficiência para a rua. É uma mudança de mentalidade. Ao longo dos anos, fui acumulando outras bandeiras: a das pessoas com doenças raras, o combate a essa praga que tomou conta do país que é o crack e essa minha postura bastante combativa contra os gastos exorbitantes em grandes eventos: Copa do Mundo, Copa das Confederações, Olimpíada e Paraolimpíada. (Leonardo Prado,Ag. Câmara/Divulgação) Nas urnas Romário, do PSB, foi eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro em 2010. O ex-jogador recebeu 146.859 votos. Na eleição de 2016, ele planeja concorrer à prefeitura do Rio. Seria possível realizar uma Copa no Brasil gastando menos? Tenho certeza que sim. Com menos da metade do que se gasta hoje seria possível fazer uma excelente Copa e deixar o brasileiro feliz com um evento dessa magnitude. E esse 60% de sobrepreço aí ? que infelizmente a gente sabe que aí entra o roubo do dinheiro público ? poderia melhorar hospitais, escolas, a acessibilidade. Os problemas serão até maiores depois dos eventos, porque, para gastar bilhões, você tem de deixar legado. Na minha concepção, são 12 arenas novas e pouquíssimas melhorias em aeroportos, pouquíssimas em mobilidade urbana. Qualificação profissional, quase zero. A gente está perdendo essa grande oportunidade. Isso é incompetência ou má-fé? Isso aí é roubo. Inclui a maioria dos parlamentares, que participa dessa sacanagem. Enquanto a impunidade prevalecer no país, vai ser muito difícil a gente mudar. Apesar de que, com todas dificuldades, depois dessas manifestações, dessas passeatas, o Brasil teve uma melhora. A Casa deu algumas respostas. Colocou em votação alguns projetos importantes. Mas é uma coisa nem a médio prazo, é a longo prazo. Ano que vem, a população vai ter a chance de dar uma resposta nas urnas. Definitivamente o povo acordou. As pessoas nos seus Estados sabem quem é do bem, quem é do mal. Quem faz uma política séria e quem não faz. Acredito que 60% a 70% dos políticos no ano que vem vão ser renovados. E o seu projeto político? Se candidatar à reeleição em 2014? A minha preferência era me candidatar novamente a deputado federal. Mas, dependendo das pesquisas mais à frente, pode surgir uma candidatura a senador. Mas o meu sonho mesmo é ser prefeito do Rio em 2016. Eu vou ter 50 anos. Como o senhor avaliou a aliança Eduardo Campos e Marina Silva? Eu achei bastante positiva. Apesar de serem pessoas bem diferentes até na forma de fazer política, o que eles têm em comum de bom: são dois políticos do bem. Duas pessoas que querem fazer uma política nova e não esse roubo que tem acontecido no governo atual. O senhor foi mais próximo do governo e da presidente Dilma. Com o tempo, se afastou. Por quê? Se amanhã tiver um evento, não precisa nem ser das minhas bandeiras, mas se eu for convidado e eu entenda que seja bom para o país, eu participarei. Mas, desde o começo, eu nunca tive muito acesso a ministérios e muito menos à presidência. Eu não sei por quê. Mas o importante é que eles sabem que eu escolhi um lado. Se eles estão do outro lado, não posso fazer parte. Foi dito que nem 10% do investimento na Copa seria público. Já está em 98% (Antonio Scorza/AFP)Romário ao lado do ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira, um dos seus desafetos declarados O senhor não se preocupa em passar imagem negativista, de quem torce contra a Copa? Não, pelo contrário. Ninguém mais do que eu desejou essa Copa e ninguém mais do que eu deseja que seja um sucesso. Estou na mesma torcida de todos. Mas se alguém disser que o que está acontecendo em relação à Copa no Brasil é positivo para o país, eu vou chamar de mentiroso. Ou pode ser ignorância. Eu vivo todo dia a Copa. Meu gabinete aqui está sempre em cima de TCU, CGU, TCE, Polícia Federal, Ministério Público... A gente quer saber! Outros, por não ter essa bandeira, não acompanham. Agora, se alguém me vê como corneteiro, eu só lamento. Ninguém mais do que eu desejou essa Copa (...). Mas se alguém disser que o que está acontecendo em relação à Copa é positivo para o país, vou chamar de mentiroso. Em relação à postura de ex-jogadores, como o Ronaldo, o senhor também tem sido crítico... Olha, eu aprendi a respeitar a opinião das pessoas, mas isso não significa que eu tenha que concordar. Eu acho que hoje, quem apoia a CBF, quem apoia a Fifa ? não digo as entidades em si, mas as pessoas que fazem parte delas ? é contra o Brasil. Isso é um efeito dominó: vai para a educação, vai para a saúde, vai para todos os outros lados. A Fifa montou um Estado dentro do nosso Estado. É a dona do país. Não posso concordar com isso. O Jérôme Valcke prometeu que os ingressos da Copa iriam ser os mais baratos da história. Na África do Sul foi R$ 40. O mais barato aqui é R$ 150. Tem coisa que não bate. Se o cara não tem nem palavra, não dá pra confiar nada a ele. Sem contar as falcatruas, as pilantragens, as sacanagens, a roubalheira que esses caras fazem dentro das entidades. A troca de Ricardo Teixeira por José Maria Marin na CBF foi de seis por meia dúzia? Pô, o José Maria Marin é ladrão de medalha, de terreno da prefeitura, de energia do vizinho... Como é que um cara corrupto desse jeito pode ser presidente da CBF? Eu queria entender a concepção da nossa presidenta e do nosso Ministério do Esporte. Início da Copa do Mundo, Maracanã, bilhões de pessoas assistindo e estarão lá: Dilma e Aldo Rebelo ao lado de (Joseph) Blatter e José Maria Marin. São dois caras que não condizem com um evento desses. Bom, se eles querem isso, tudo bem. Eu vou é fazer o meu trabalho. Onde poderia haver economia? Olha, que esses 12 estádios precisavam ser inteiramente reformados, eu concordo. Eu joguei em todos eles, foram 20 e poucos anos, sei das deficiências que cada estádio tem. Mas porra, não é R$ 1 bi, R$ 1 bi e meio! Brasília, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Amazonas. Vou falar só desses quatro. Não se pode gastar quase R$ 1 bilhão nesses estádios. Brasília já é um exemplo. Depois da Copa das Confederações, houve vários jogos do Campeonato Brasileiro.Mas o que é novo, é bom, depois já não é tão bom. No primeiro jogo, deu 72 mil pessoas. No segundo, 50 mil, depois 40... No último deu 13 mil. Para que gastar? Para roubar. Foi dito pela presidente Dilma lá atrás, quando ministra, e pelo presidente da CBF na época (Ricardo Teixeira) que nem 10% do investimento na Copa seria público. Já estamos em 98%. Eu não posso compactuar com isso. Quem apoia a CBF, a Fifa, não as entidades, mas as pessoas que fazem parte delas, é contra o Brasil. Isso é um efeito dominó: vai para a educação, para a saúde... O senhor tem uma reunião marcada com o Bom Senso FC, que terminou adiada. O que achou dessa iniciativa? É, não fui eu quem adiou. A minha ideia era fazer uma audiência pública aqui na Câmara, não só com os jogadores, mas com os outros órgãos que fazem parte desse processo de um calendário melhor para o futebol brasileiro. Aí a CBF marcou no mesmo dia e na mesma hora uma reunião com os jogadores. Eles propuseram se dividir, mas eu falei que não. Vai todo mundo lá pra conseguir esse objetivo de melhorar a vida de vocês. Até parabenizei a CBF, já que a minha audiência despertou eles. O futebol brasileiro passou do tempo de os jogadores tomarem iniciativa. Não se pode jogar 80, 85 jogos em um ano. Não pode férias e pré-temporada somar 5 dias. Trabalhador não pode trabalhar sete dias por semana. E no que um parlamentar pode auxiliar nisso? Eu estou trabalhando em um projeto em cima da Lei Pelé, que responsabilize dirigentes pelo descumprimento de leis trabalhistas. Na prática, é aprimorar uma lei para que se cumpra o que já é lei. O melhor seria chegarmos a um calendário com 30 dias de férias, 20 de pré-temporada e uma parada no meio do ano para os clubes realizarem amistosos no Exterior, que é bom para a cara do futebol brasileiro. É minha obrigação, né? Eles passam por aquilo que eu já passei. De um domingo a outro, eu já cheguei a jogar quatro vezes. A GRANDE GLÓRIA (José Doval, Banco de Dados) Ao lado do amigo e capitão Dunga, Romário levanta a taça do Tetra após vencer a Itália, na copa dos EUA-94: diz-se que atacante deu o título ao Brasil, sem conquista desde 70 A GRANDE MÁGOA (Jurandir Silveira/Agencia RBS) Cortado por lesão pelo técnico Zagallo, Romário perdeu a chance de ir à sua terceira Copa, em 1998, e chorou: apesar da promessa de recuperação a tempo, não foi à França Farpas entre estrelas Dois dos principais ídolos do futebol brasileiro trocaram farpas na última semana. Os ex-atacantes têm posições antagônicas sobre a realização da Copa de 2014. Romário, estrela do tetra em 1994, faz duras críticas à organização do evento. Ronaldo, astro do penta em 2002, não só defende como faz parte do comitê que prepara o país para receber a competição. Ao ser questionado sobre o porquê de existirem opiniões tão divergentes dentro do Brasil a respeito da importância de sediar o evento do ano que vem, Ronaldo foi duro e rebateu as constantes críticas feitas pelo ex-companheiro de equipe. - Estou lutando por uma coisa que estamos construindo. É muito fácil alguém ser oposição, tentar destruir, sentado na sua casa, sem acreditar no projeto, sem acreditar em nada, e só tentar destruir os outros - afirmou. Romário rebateu de imediato. - Eu, particularmente, adoro mulher! Mas aprendi a respeitar o gosto de cada um... - afirmou, batendo no calcanhar do ex-colega, que esteve envolvido em confusão com travestis. Qual é o seu sentimento hoje em relação à Seleção Brasileira? Consegue torcer? Torço, torço. Mas eu não acompanho futebol. Não sei dizer quem são os 11 titulares do Felipão. Não é por causa dessa minha briga com a CBF, não. Mesmo quando eu jogava, eu nunca fui muito de assistir a jogos. Hoje, por ter que estar em vários lugares por causa da política, tenho pouco tempo. E outro motivo é que o futebol está muito ruim. Acabou a técnica. Por exemplo: o Cruzeiro vai ser o campeão. O Cruzeiro é um timaço? Não é. Na verdade ele é só um time, os outros não são nem isso. Da Seleção, eu era um crítico, dizia que não tinha condições de levar nem a Copa das Confederações. Mas o Brasil acertou. Os jogadores entenderam a filosofia do Felipão, veem nele e no Parreira os dois últimos campeões. Ninguém tem a qualidade e a moral que eles têm. E começou a dar certo. Hoje, é uma das quatro favoritas, com Espanha, Alemanha e Argentina. Ficou alguma rusga com o Felipão pela não convocação em 2002? Não, aquilo ficou para trás, para mim e para ele também. A gente se encontrou duas vezes desde então, uma no Rio e outra em Fortaleza, conversou e tudo mais... Na verdade eu gostaria muito de ter feito parte daquele grupo. Seria bicampeão mundial, mas não aconteceu. Para mim foi negativo. Mas também teve outras vezes em que não me chamaram e perderam. Nessa, infelizmente, fui eu que perdi (risos). O senhor acredita que poderia estar naquela final de 1998? Cara, da Copa de 1990 até essa que o Felipão ganhou, de 2002, era para eu estar em todas não fosse pela concepção de dirigentes, de treinadores, de que eu era um criador de caso, intempestivo, essas coisas. Copa do Mundo, fora a minha (a do Tetra, em 1994, nos Estados Unidos), eu iria em 1990 (na Itália) e não estava 100%. Aí eu não fui à de 1998 (derrota na final para Zidane, na França) e 2002 (o Penta com Felipão, Ronaldo Nazário e Ronaldinho, no Japão-Coreia). E duas Olimpíadas também. Em 2000 (na Austrália), o Vanderlei (Luxemburgo) resolveu não levar ninguém acima de 23 anos porque uma psicóloga disse que não fazia bem para a cabeça dos jogadores. Tomaram porrada e saíram. E, na anterior (em 1996, nos Estados Unidos), o Zagallo resolveu levar Rivaldo, Bebeto e Aldair porque ele tinha biquinho comigo. Porque eu não era filhinho dele. Se deu mal também. Teve algum jogo contra a dupla Gre-Nal que ficou marcado na sua carreira? Cara, negativamente. Flamengo e Grêmio no Maracanã, em 1997. Que a gente empatou de 0 a 0 lá e depois eles empataram em 2 a 2 e foram campeões da Copa do Brasil. E teve um jogo lá no Beira-Rio que me marcou muito, em 1998. Eu havia falado para a comissão técnica da Seleção Brasileira que, em determinado dia, eu ia estar bom para jogar. Era o segundo jogo da segunda fase da Copa (3 de julho, data de Brasil x Dinamarca pelas quartas de final). Aí a Seleção jogou e dois dias depois eu entrei em campo pelo Flamengo em um amistoso contra o Inter. A gente empatou em 1 a 1, e eu fiz o gol. Eles não confiaram no que eu tinha dito. Da Seleção, eu era um crítico, dizia que não tinha condições de levar nem a Copa das Confederações. Mas o Brasil acertou.
Posted on: Sun, 10 Nov 2013 11:47:37 +0000

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