"No dia aprazado, levantei como de costume, olhei minha agenda e - TopicsExpress



          

"No dia aprazado, levantei como de costume, olhei minha agenda e vi que tinha a tal palestra na escolinha pública do bairro, mais uma atividade enfadonha, mas como auxiliaria nas atividades extra acadêmicas, achei até bom! Pensei em alguma coisa e como sempre estava com meu notebook, pen-drive, data-show e outros aparatos para ministrar aulas e palestras, fui para a universidade normalmente. Logo após o almoço, comuniquei ao Reitor que não voltaria mais naquele dia, pois iria para a escola pública do meu bairro, ao que ele apenas disse: - Boa sorte! E sorriu. Peguei minhas coisas e me encaminhei para a escola. Ao chegar, fui recepcionado por uma meninada que variava idade de 4 a uns 11 anos e pelos funcionários da escola! Amanda, a pedagoga, estava muito sorridente e quem me recebeu na porta foi a diretora que disse: - Seja bem vindo doutor Carlos, estávamos muito ansiosos pela visita do senhor! Temos expostos pela escola os vários projetos desenvolvido. Gostaria que o senhor visitasse cada um dos standes, os alunos ficarão muito satisfeitos! Aquilo me deixou de "saco cheio"! Ai, pensar que estava em uma escola pública sem nenhuma projeção! Escola que pra mim, era somente para "encher buraco", pois eu não acreditava no Ensino público, apesar de ter me formado em Escola pública federal e ter feito todas as minhas pós graduações em Escolas públicas. Pra mim, Escola pública de qualidade era somente no Ensino Superior e Pós graduações. Mas para evitar maiores constrangimentos visitei cada trabalho. Já de início fiquei surpreso com os trabalhos! As crianças se envolveram em cada tema e os trabalhos, apesar do pouco capital disponível, fizeram trabalhos muito interessantes! Quando acabei de visitar o último stand, a Amanda me disse: - Doutor, reservei uma sala das crianças de 7 e 8 anos, elas já estão aguardando o senhor, pode me acompanhar por favor? Eu segui a pedagoga muito mais animado depois de ver os trabalhos expostos, realmente eu havia me empolgado com todo aquele clima e me sentia feliz! O mais interessante é que eu estava imerso naquele ambiente, não me lembrava dos meus outros problemas! Quando entrei na sala fui recepcionado assim: - Boa tarde doutor Carlos! É um prazer receber o senhor! Foram as crianças em coro que disseram isso! Uma onda de entusiasmo me tomou e eu respondi: - Boa tarde criançada! Estou impressionado com os trabalhos de vocês! E estou muito feliz por estar aqui! Quando vi, já tinha dito isso e me deixei envolver. As crianças vieram ao meu encontro e me abraçavam, Amanda tentava contê-las mas eu disse: - Pode deixar, eu estou precisando dessas crianças muito mais que elas de mim! Recebi vários abraços e muitos beijos. É claro que as crianças mais tímidas ficaram nos lugares, mas a maioria veio até mim. Fiz uma pequena apresentação dizendo apenas meu nome e que trabalhava na Universidade e morava bem pertinho da escola deles. Pedi que cada um se apresentasse da maneira que quisessem e isso foi muito bom! As crianças tinham uma espontaneidade incrível! Aquilo não existia na Faculdade! Elas falavam o nome, do que gostavam, do que não gostavam, algumas falavam do time de futebol, outras diziam que achavam que eu tivesse aparência diferente, foi uma festa. Então, depois que cada uma falou o que quis, eu disse: - Bem... agora vamos em frente... a Amanda me disse que vocês estão desenvolvendo um projeto sobre a importância da água para a vida, é isso mesmo? - Então, fiquei encabulado! Uma menininha ruivasinha que sentava na segunda carteira da fileira ao lado da porta disse: - Seu Carlos, é verdade! Nós conseguimos pesquisar muitas coisas legais! Aquele negócio... é.. como que chama mesmo?... é... ahhh o ciclo da água, isso, isso mesmo.. é muito bacana... nós nem pensava que tinha esse treco! O Romário, apontando para um garotinho de fisionomia alegre e agitada, disse que o pai dele falou que quando ele tá pintando um carro, ele bebe muita água. Ele falou que o pai dele falou que precisa beber muita água para limpar as veias! Isso é verdade? Todos nós rimos muito e eu disse: - É verdade! O pai do Romário tá certíssimo! O menino não se continha de alegria e disse: - Vou contar pro meu pai isso tudo! Tá vendo? Não falei? Meu pai sabe tudo! Ele é mais sabido que muito professor! Meu pai é o maioral! uh uh... quando eu crescer também vou ser pintor, igualzinho a ele! E a conversa foi se estendendo! A criançada era super curiosa e foi se familiarizando comigo. Quando percebi eu estava sentado no chão da sala, eles tinham afastado todas as cadeiras e alguns, mais desembaraçados sentavam no meu colo e outros ficaram em volta de mim, a pedagoga tirava fotos e nós batíamos papo sobre a importância da água, sobre os indicadores de saúde da água e sobre tudo que envolve a água! Eu fiquei super feliz e quando me dei pelo tempo, já estava na hora de ir, pois os meninos tinham que sair as 17:00 horas e já eram 16:45 horas. Amanda pediu a palavra e disse: - Desculpe doutor, mas precisamos liberar as crianças, já esta na hora! Os pais e responsáveis já vem buscá-las! Eu me assustei com tanta leveza e sutileza daqueles momentos, distribui beijos e abraços em quase todas as crianças. As mais tímidas apenas me deram a mão e eu as guardei, cada rostinho, dentro do meu coração e da minha cabeça. Me levantei, despedi das crianças, da professora e disse: - Criançada, muito obrigado por tudo que vocês fizeram por mim! Como eu aprendi hoje! Vocês me ensinaram demais! Não sei nem o quanto, mas foi muito! Depois vou marcar com a Amanda outro dia pra vir até aqui! Vocês querem? A resposta foi unânime e em coro! - Queremos sim Carlinhos! E todo mundo deu uma gargalhada. Eu sai acompanhado da Amanda. Estava extremamente empolgado! A curiosidade e espontaneidade das crianças era única, isso desaparecia completamente na Universidade! Percebi que a Escola, sem sombra de dúvidas estava à medida que vai se avançando nos anos, acabando com o instinto de busca e aprendizado! Percebi que nós, professores, queremos uma homogeneidade entre os alunos e isso não é legal! Precisamos respeitar o ritmo de cada pessoa, mas as convenções e a dualidade do certo e errado acaba com o processo de descoberta! Conversei com Amanda e a agradeci calorosamente! Dei uma abraço comovente na moça, passei pra ela meu cartão e ainda acrescentei meu número particular, pedindo que ela fizesse contato, pois queria desenvolver um projeto mais extenso com a escola! Disse que queria aprender mais e elogiei a escola e a pedagoga em especial! Disse pra ela, além de outras coisas o seguinte: - Amanda, me perdoe por minha impertinencia e vaidade! Se não fosse pela senhora, eu jamais teria vivido essa experiência maravilhosa! Essas crianças são maravilhosas! Vocês tem tesouros com vocês! Estou realmente muito surpreso! Muito, mas muito obrigado pela oportunidade! Por favor, me ligue e vamos marcar para você ir até a Universidade! Vamos elaborar um projeto junto com as crianças! Ela apenas disse, com toda simplicidade e elegância: - Nós é que agradecemos doutor! O senhor abrilhantou nossa escola! Não tenho palavras para agradecer! Essa porta que o senhor esta abrindo é uma das mais valiosas que recebemos na história dessa escola! Tenho certeza de que faremos um trabalho maravilhoso! Então ela pegou o meu cartão e fomos até a direção. Me despedi da diretora e voltei a dizer sobre o projeto, ao que ela se mostrou empolgada e disse que deixaria que a pedagoga fizesse os contatos, nos despedimos. Fui pra casa super leve e feliz! Fiz um relatório lindo! Descrevi cada detalhe e fui um dos relatórios que mais me deram prazer em fazer da minha vida!..." Pedro Francisco Armendariz - Educador e filósofo.
Posted on: Sat, 10 Aug 2013 23:50:38 +0000

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