"NÃO RECLAME DOS MEUS 20%! A cena é cômica, não fosse trágica (pro meu bolso). O velho fogão que eu tenho no escritório começou a se entregar. As chamas já não eram mais as mesmas e aquele cheirinho de vazamento de gás começou a me incomodar. Descobri que na rua do escritório havia uma empresa especializada em consertar fogões. Sim! No século da obsolescência programada ainda existem pessoas interessadas em reparar as coisas antigas. Chamei o técnico. Em dois minutos ele foi taxativo: “está condenado, enferrujado e o conserto irá sair mais caro que um novo”. Gostei da honestidade do garoto, que me cobrou R$ 20,00 pela "visita". Em uma rápida consulta na internet eu já havia encontrado um fogãozinho que iria suprir as minhas necessidades diárias: esquentar a água do chimarrão, do café, um pão de queijo de vez em quando...Preço: R$ 279,00. Sim, duzentos e setenta e nove reais. Ah, e tinha ainda R$20,00 (vinte reais) de frete. Paguei pelo “home banking” e no dia seguinte a empresa entregou aquele fogãozinho novinho. O transportador, uniformizado, se ofereceu para instalá-lo. Cobrava R$ 30,00 “por fora”, pois com o salário da “firma” não dava para sobreviver dignamente, disse ele. Fiquei comovido com a presteza do cidadão. Entretanto, não pude contratá-lo: o botijão – por óbvia questão de segurança – estava em outra peça de sorte que era preciso uma mangueira de gás maior das que são vendidas no mercado e nas lojas de ferragens. Como ele fazia tais serviços “por fora”, não carregava o material para instalação e se socorria das lojas da redondeza. Dispensei-o e resolvi chamar novamente o técnico, aquele da “visita”. O rapaz, com uns vinte e poucos anos, chegou e foi logo cortando a mangueira velha: “está vencida”. E eu lá sabia que mangueira de fogão tinha prazo de validade? O que eu iria dizer? Falei: “aproveita e troca”. Em menos de 20 minutos o camarada havia concluído todo o serviço de troca e instalação. Fiz a infeliz e necessária pergunta (sim, eu deveria ter feito antes): - “quanto devo?”. O rapaz, sem pestanejar, respondeu: “são R$ 180,00”. Por extenso para que vocês acreditem: - CENTO E OITENTA REAIS! Com o meu visível espanto ele tentou amenizar: “VOU FAZER POR R$160,00, JÁ QUE DA OUTRA VEZ EU NÃO FIZ NADA”. Incrédulo, enrolei a cédula de R$50 e fui preencher um cheque. Ao entregar o pagamento indaguei: “TU SE DEU CONTA DE QUE O VALOR DO TEU SERVIÇO CORRESPONDE 60% DO VALOR DE UM FOGÃO NOVO?” E o garoto: “SIM, MAS É O PREÇO QUE A GENTE COBRA. O SENHOR QUER RECIBO?”. Enquanto ele preenchia o recibo eu disse: “e pensar que o transportador queria R$ 30,00 para fazer o mesmo serviço”. E o garoto: “MAS AÍ É PICARETA, IA DEIXAR COM VAZAMENTO”. Então fui obrigado a concluir: “NÃO VOU TIRAR A TUA RAZÃO, TU COLOCA O PREÇO NO TEU SERVIÇO E EU ACHO MUITO JUSTO VALORIZAR O TRABALHO. EU SOU ADVOGADO E MUITAS VEZES ACABO CEDENDO E DANDO UM “DESCONTINHO” NO ARREDONDAMENTO DOS MEUS HONORÁRIOS, QUE REMUNERAM O MEU SERVIÇO. ESTOU TE PAGANDO, AGORA, COM GOSTO, POIS NÃO VOU PAGAR SÓ A INSTALAÇÃO, ESTOU PAGANDO PELO TEU ENSINAMENTO” “A PARTIR DE HOJE, NUNCA MAIS VOU BAIXAR O VALOR DOS MEUS HONORÁRIOS...E QUEM NÃO QUISER PAGÁ-LOS, QUE PROCURE UM PICARETA”. O garoto sorriu e foi embora. O incipiente profissional dos fogões demonstrou que não era insipiente na valorização do seu trabalho. Apresento-vos, então, a Tabela de Honorários da OAB: oabrs.org.br/tabela_honorarios.php. NÃO CONCORDA? PROCURE UM PICARETA... Por Luciano Gauer, advogado (OAB-RS nº 65.741). [email protected] Espaço Vital. "
Posted on: Sun, 21 Jul 2013 13:09:23 +0000
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