"Penalizar policiais presentes no massacre do Carandiru é - TopicsExpress



          

"Penalizar policiais presentes no massacre do Carandiru é generalizar, mas atirar bombas e balas de borracha em 12 mil pessoas que protestam pelo preço do transporte coletivo – seguindo seu direito, de acordo com a Constituição (inciso IV do art. 5º) – é manter a ordem. A quem interessa a “ordem”? Ao já famosinho promotor que quer a morte dos manifestantes? E ele, paga pelos seus atos e pelas suas nojentas palavras? A quem interessa manter o trânsito da avenida Paulista? QUEM é o trânsito da Paulista? O ônibus-lata-cheia-de-sardinha-em-sua-faixa-ultra-limitada? Como as escadas rolantes que não cessam independente de sua demanda, sem dizer a quem funciona, o trânsito não pode parar. A São Paulo interessa a pressa, o progresso. Parar irrita, é contraproducente. Sei que muitas vezes nosso ato não constitui um movimento uníssono. Não defendo a violência com a qual agiram vários manifestantes, assim como não me representam várias das bandeiras que por tantos momentos estiveram hasteadas sobre minha cabeça. Porém, gostaria que me apontassem o número de pessoas, dentre as 12 mil, que foram violentas. Estamos falando de um evento composto por muita gente, onde é extremamente possível que o ego e a inconsequência de um ou outro subam à cabeça. Como não somos uma marcha organizada, liderada, não se sabe muito bem como agir nessas horas – lembro-me de vários momentos, ontem, onde os gritos levantados foram de “não quebra”. Em se tratando de emoção, no entanto, somos um só. Mais que a redução da tarifa, estamos aguçados, queremos o fim dessa repressão, o fim dessa violência. O latrocínio de algum jovem da classe média comove ao ponto de movimentar várias marchas contra a violência, comove a ponto de defenderem pena de morte, de quererem reduzir maioridade penal, ao ponto de se justificarem com outras violências. Por outro lado, a agressão policial que sofremos não comove. A violência cotidiana não comove, é invisível. É preciso sangue, são precisos dados, é preciso incômodo, é preciso culpa. Ônibus lotados, serviços precários, assédio cotidiano, nada disso comove. E, quando lutamos por isso e sofremos ainda mais violência, também não comove. A sensação de correr na rua, cega e sem conseguir respirar, apenas me perguntando “o que eu fiz?”, nada justifica. Nada justifica uma instituição que se pauta pelo terror. As bombas da polícia são eficazes porque, mais que tudo, causam medo. Ouço barulhos de fogos lá longe e já me assusto, porque há anos sei bem que a coisa sempre pode ferrar, ferrar feio. Produção fetichista do medo, medo pelo medo. Se não saíssemos correndo, o que diabos faria a polícia? O que faria a polícia se todos nós, 12 mil, fôssemos mesmo os agressores que a mídia vende? Coisa linda é seguir na frente da marcha em uma subida, virar-se pra trás e admirar sua extensão! Como é pequena essa instituição que nos pune com as justificativas mais arbitrárias! Sou contra criticar a polícia militar como indivíduos - não sabemos quem são, não sabemos por que estão lá -, e, do mesmo modo, sou contra personificar críticas e descarregar tudo em cima de um só representante político, mas, em se tratando de Alckmin e de muitos indivíduos da “nossa” PM, vemos um sadismo estampado – nítido nas fotos. Os protestos já causaram mais de R$100 mil em prejuízo? Pois bem, só a Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos (Sesge), criada pelo Ministério da Justiça, já gastou R$50,6 milhões em equipamentos não letais apenas para uso na Copa do Mundo de 2014 e na Copa das Confederações em 2013. E vale ainda observar aqui que, mesmo com esses gastos sempre exorbitantes com armas, ontem foram encontradas diversas embalagens de bombas vencidas usadas pela PM na reintegração ocorrida no Parque Bristol, o que é ainda mais nocivo à saúde de quem inala. (Será que podemos ao menos ser reprimidos com produtos dentro do prazo de validade, ou será que estes continuam sendo todos vendidos à Turquia?) Representamos tantos trabalhadores que moram longe de seus empregos e precisam, para voltar dos estabelecimentos da classe média – onde servem como massa para alavancamento da economia – optar pelo único meio que ainda lhes resta, o mal necessário de um transporte coletivo precário, que nem sequer é acessível a todos, pelo seu alto preço. Chamamos “transporte público”. Uma boa definição de “público” é aquilo que é aberto e acessível a todos. Bem, sabemos que, cada vez mais, não é isso que ocorre com nosso sistema de transporte coletivo. É coletivo, muito coletivo, mas não é público. Um meio de transporte com serviços vencidos, capacidade de lotação extrapolada, frequência irregular e tantas outras deficiências que nos trazem ônus direta e indiretamente: ninguém seria estuprada [de forma completamente escondida] em um ônibus se ele não estivesse superlotado, menos pessoas seriam assaltadas em pontos de ônibus se eles não demorassem tanto a passar. Demoramos a chegar aos nossos destinos porque temos vias congestionadas, cheias de carros – os mesmos carros que bufam para nosso protesto -, carros que, com no máximo cinco pessoas, chegarão aos seus destinos muito mais rápido que as dezenas de pessoas enfiadas nos ônibus. Essa obstrução dos carros no NOSSO trânsito é legal, é legalizada. A obstrução de ruas para a passagem de “autoridades” é veiculada pela mídia de modo positivo – as mesmas pessoas que nos ofendem em seus carros aplaudem o bloqueio de passagens com a vinda do papa ou de qualquer que o valha. O grito contra o aumento vai ainda além da questão de preço, é uma questão de valor. As bombas só alimentam a revolta de pessoas que saíram para protestar em um espaço onde ainda cremos que isso seja possível . O ódio da exclusão, contido todos os dias, manifesta-se, incontrolavelmente, em nossos gritos, em nossas faces lacrimejantes com o gás inalado. O ódio de correr sem saber por quê. O ódio da impunidade ligado à sensação de provar a liberdade ao resistir e ainda sair gritando às ruas, ao ocupar com corpos um espaço majoritariamente ocupado por metal. Abaixo, um vídeo de parte da estação da Sé em horário de pico. Parece e poderia perfeitamente ser de uma manifestação, mas não é. Manifesto aí há apenas o sofrimento diário da maior parte dos paulistanos. Esse congestionamento, essa paralisação, cotidiana, não incomoda. Obstruirmos o trânsito dos carros é violência, isso não é. "Se o inferno existe, aqui é o lugar" - comentário do usuário que filma a Sé."
Posted on: Thu, 13 Jun 2013 17:39:47 +0000

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