“…no presente estágio da psicologia e da fisiologia, a - TopicsExpress



          

“…no presente estágio da psicologia e da fisiologia, a crença na imortalidade da alma não pode reivindicar, em qualquer nível, respaldo científico; e tais argumentos, tanto quanto é possível neste assunto, apontam para a provável extinção da personalidade por ocasião da morte.” Bertrand Russell Definindo o Problema Existe vida após a morte? Esta pergunta tem sido feita desde a aurora da civilização. É possivelmente a pergunta mais importante e pessoal que alguém pode fazer à luz da consciência de sua própria mortalidade. A imortalidade é um assunto complexo vinculado a várias outras questões filosóficas que precisam ser analisadas. Um pré-requisito fundamental à abordagem da questão da imortalidade é colocar o problema dentro do contexto adequado. Corliss Lamont define a imortalidade como: A sobrevivência literal da personalidade ou consciência humana individual por um período indefinido após a morte [física], com sua memória e percepção de autoidentidade essencialmente intactas (Lamont 22). Uma distinção fundamental é a diferença entre a sobrevivência da morte corporal e a imortalidade. Sobrevivência implica apenas a continuação da existência da personalidade após a morte física do corpo, sem especificar se tal existência é eterna ou se ocasionalmente conduz à aniquilação (Edwards, “Introduction” 2). Apesar de haver argumentos que tentam provar a indestrutibilidade da alma — e portanto também a imortalidade — (ex. Platão), esses não são a preocupação deste ensaio; tampouco serão levantados os problemas potenciais relacionados à ideia da existência eterna. Este artigo visa tratar da possibilidade lógica e das evidências em favor ou contra a sobrevivência à morte corporal. Argumentos em prol da sobrevivência não estabelecem coisa alguma em favor da imortalidade; todavia, argumentos contra a sobrevivência são argumentos contra a imortalidade. Em outras palavras, a imortalidade pressupõe a possibilidade da sobrevivência. Isto também significa que qualquer evidência considerada pela parapsicologia serve apenas como evidência à sobrevivência (2). Este artigo não irá discutir os argumentos éticos que pretendem estabelecer a imortalidade como uma consequência necessária da benevolência de um Deus onipotente. Esta linha de argumentação nos divergiria do tópico deste documento, tocando argumentos relativos à existência e natureza de Deus, os quais estão além do escopo deste ensaio. Os argumentos analisados aqui serão de natureza filosófica ou empírica. Há duas posições fundamentais quanto à questão da imortalidade. A hipótese da sobrevivência afirma que a personalidade humana de alguma forma continuará existindo após a morte do corpo físico; a hipótese da extinção defende que a personalidade humana será permanentemente extinta após a morte do corpo. Esta distinção pode parecer redundante e óbvia, mas a necessidade de definições precisas tornar-se-á clara quando analisarmos as teorias da sobrevivência que alegam uma extinção temporária. Admitirei que o ônus da prova recai sobre a hipótese da sobrevivência porque em nossas vidas diárias apenas conhecemos a existência da personalidade em associação com um organismo físico vivo; isto é, evidências conclusivas para a continuação da existência da personalidade após a morte do corpo físico não existem para quaisquer dos pontos de vista que analisarei. Outra distinção importante é a diferença entre as formas pessoais e as impessoais de sobrevivência. A sobrevivência pessoal significa que as pessoas sobreviverão à morte corporal como indivíduos distintos. Um exemplo de sobrevivência impessoal seria a crença budista no nirvana como uma espécie de Mente Absoluta à qual mentes individuais se fundem ou são absorvidas quando a iluminação é plenamente atingida (Edwards, “Introduction” 2-3). Ente ensaio irá focalizar exclusivamente a sobrevivência pessoal. Há três “veículos” para a sobrevivência da personalidade após a morte do corpo que serão considerados: a mente desencarnada, o corpo astral e a ressurreição. Esses veículos podem ser usados sozinhos ou em combinação. Uma mente desencarnada é uma substância imaterial e inespacial que constitui o estado mental de uma pessoa — uma “alma”. O corpo astral é uma espécie de matéria exótica; em seu sentido mais fundamental refere-se a uma entidade espacial dotada de características físicas como forma, volume e posição espacial. Esses critérios precisam ser explicitados a fim de distinguir o corpo astral da mente desencarnada. Consequentemente, a princípio, o corpo astral é detectável, mas na prática isso é extremamente difícil — caso contrário ele seria percebido deixando o corpo por ocasião da morte ou talvez durante experiências extracorpóreas. O corpo astral também pode ser encarado especificamente como um reflexo das características do corpo físico. A ressurreição corpórea é considerada um milagre patente de Deus nas tradições judaico-cristã e islâmica, e assim pressupõe a veracidade do monoteísmo tradicional. Todavia, como aponta Kai Nielsen, “se os motivos para se acreditar em Deus são escassos, os motivos para se acreditar na ressurreição corpórea são duplamente escassos” (Nielsen 238). Este aspecto é relevante porque argumentos contra a existência de Deus são argumentos decisivos contra a ressurreição; porém os argumentos desta natureza não são minha preocupação neste momento. Para isolar a ressurreição como um veículo para a sobrevivência, assumirei a versão da ressurreição que admite a extinção da personalidade na morte e sua recriação através da ressurreição do corpo. A ressurreição pode ser concebida de duas formas: a ressurreição literal do corpo decomposto ou a criação de um novo corpo ou de uma “réplica”. Deve-se observar que não pode haver evidência empírica em apoio à ressurreição se ela for entendida como um evento futuro na Terra ou um fenômeno que ocorre em outro mundo. Em filosofia a imortalidade está relacionada ao problema mente-corpo e ao problema da identidade pessoal. O problema mente-corpo diz respeito a como a mente e o corpo relacionam-se um com o outro. Muitas teorias têm sido propostas para solucionar o problema mente-corpo. O materialismo moderno sustenta que os estados mentais são redutíveis a estados cerebrais físicos. Logo, se o materialismo for verdadeiro, a sobrevivência na forma de mentes desencarnadas ou de corpos astrais é excluída automaticamente. O epifenomenalismo, o qual afirma que a mente é um subproduto separado embora dependente do cérebro, tem as mesmas implicações para a sobrevivência. A ressurreição é compatível com ambas teorias da mente. O dualismo que defende que a mente é um ente separado e independente do cérebro é um pressuposto necessário à possibilidade de mentes desencarnadas ou corpos astrais (Edwards “Dependence” 292). A ressurreição é consistente com este dualismo se vinculada à noção de que uma alma constitui a personalidade, e assim não se extingue com a morte corporal, mas continua existindo, e posteriormente recombina-se com um corpo ressuscitado (Flew, “God” 108). A identidade pessoal preocupa-se com o que faz de uma pessoa a mesma pessoa com o passar do tempo. Problemas relacionados à identidade pessoal surgirão dentro do contexto de argumentos específicos sobre a possibilidade lógica da imortalidade.
Posted on: Wed, 03 Jul 2013 00:55:15 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015