“É certo que os maus professores devem ser expurgados das - TopicsExpress



          

“É certo que os maus professores devem ser expurgados das escolas. Contudo, ultimamente, nem mesmo os mais dotados e devotados docentes têm conseguido lecionar. Qualidades como: preparo, conhecimento, domínio técnico e liderança não têm sido mais suficientes para garantir que um professor consiga realizar sua obra de ensinar. Isso tem feito com que muitos bons professores desistam do magistério, abrindo espaço para que maus profissionais assumam seus lugares. Isto é: a falta de bons docentes – aqueles que se importam sinceramente com os resultados de seu trabalho; que se realizam com o aprendizado e desenvolvimento de seus alunos e, principalmente, que não se cansam de estudar, de aprender e de se aprofundar em sua área de conhecimento e nas correlacionadas – tem deixado as escolas à mercê de pessoas absolutamente despreparadas para exercer qualquer atividade profissional e que, na falta de outro ganha-pão, acabam “pegando umas aulinhas” para rechear o orçamento do mês. E por que os bons professores se sentem inclinados a deixar a docência? Porque as relações interpessoais dentro da escola estão cada vez mais difíceis. Bons professores tendem a encarar as dificuldades ou problemas de aprendizagem dos alunos como desafios profissionais; tendem a suportar e até aceitar as falhas do sistema político-educacional e, em consequência dele, a falta de infraestrutura, espaço físico, equipamentos, material didático que a absoluta maioria das escolas públicas do país apresenta. Mas não conseguem mais suportar a indisciplina, o desrespeito, a agressão verbal, a violência. A questão salarial, inclusive, parece só vir à tona quando as situações de trabalho baseadas nas relações interpessoais beiram o insuportável. Não é raro que hoje muitos professores vejam seu salário mais como uma indenização pelo estresse causado pelo desrespeito e humilhação a que são submetidos diariamente, do que como a remuneração pelo seu trabalho. Afinal, qual salário seria suficiente para pagar a dignidade ultrajada? Essas afirmações não se baseiam em estudos ou pesquisas, mas em minha própria experiência pessoal como professora há 12 anos. De um lado, a prática diária em sala de aula e, de outro, a vivência nos meios acadêmicos educacionais levaram à constatação de que existem duas realidades muito distintas e distantes uma da outra em nosso país. E a pior constatação foi a de que muitos dos profissionais teóricos ou administrativos, que deveriam lutar pela melhoria das condições do ensino brasileiro, por comodismo, conveniência, hipocrisia ou por pura incompetência, minimizam ou ignoram os sérios problemas das nossas escolas.” BENEDETTI, K. S. A Dignidade Ultrajada: ser professor do ensino público brasileiro nos dias atuais. RJ: Barra Livros, 2013.
Posted on: Thu, 22 Aug 2013 21:53:39 +0000

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