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"É muito comum encontrarmos pessoas que se diagnosticam com o que chamam de falta de “vergonha na cara” ou “força de vontade”. Muito conhecido para a maioria, estes termos, para mim, são a maior expressão da auto-depreciação. Para uma imagem concreta do que vejo como sinônimo deste termo cruel, sugiro alguém dando chicotadas em si mesmo, como forma de castigo pelo descumprimento de alguma coisa a que se propôs, como fazer dieta. Também muito comuns, são as cobranças externas para que alguém “tome vergonha na cara” e emagreça. Há um consenso de que gordo é pouco esforçado, e só está acima do peso porque não tem “força de vontade” para emagrecer. Não acredito que alguém, por exemplo, não pare de fumar, simplesmente porque lhe falta vontade. Isso seria simplório demais para algo multideterminado como é o ser humano. Muitas vezes queremos muito reformular um hábito, mas o simples fato de querermos mudar não nos faz diferente. Querer transformar um comportamento está geralmente muitos anos distante de fazê-lo na prática. O fato de não mudar não significa que o desejo de mudança não seja genuínio. Muito pelo contrário, quando contemplamos a ideia de conduzir a vida de forma diferente, já não estamos mais no “momento lua de mel” com aquele hábito, estamos começando a pensar em abandoná-lo. Mas isso leva tempo. Isso acontece porque durante o momento de decisão de parar de fumar, fazer dieta, se separar do marido, ou o quê você queira mudar, passamos por ambivalências. Ou seja, é como se nos dividíssemos ao meio, metade da gente quer aquele brownie maravilhoso e a outra quer ser magra. Melhor dizendo (sem nenhuma conotação religiosa), habita dentro de nós um anjo e um diabo que vivem brigando, e cabe à gente fazer esse meio de campo. Difícil, não? Como falei, algumas pessoas ficam nessa guerra por anos. Outras por apenas segundos. O que define esse tempo é o grau de motivação que possuímos. A gente só muda, quando, colocamos em balanço a qualidade dos motivos (não vejo como uma questão numérica, já que alguns motivos podem ter pesos diferentes) para transformar sua vida, para supera os argumentos e não manter-se como está. A grande dificuldade está em achar quais são os motores que te movimentam a alterar o rumo da sua vida. Esta é uma pergunta importante cuja resposta é sempre individual. Sugiro pensar profundamente, já que em minha experiência clínica com pacientes em busca de largar o tabaco, percebi que o que parece óbvio, como a saúde, nem sempre é um valor para pessoa. Aliás, a grande maioria sabe dos malefícios do cigarro para saúde, e continua fumando. Lembro-me de uma senhora que já não tinha um dos pulmões e continuava sendo tabagista. Eu não a ajudaria dizendo algo que o maço já diz (“cigarro faz mal a saúde e pode causar...”). Foi então que seu cachorro foi diagnosticado com asma. Ela imediatamente parou de fumar. Perceber que aquele comportamento prejudicava seu grande companheiro foi o suficiente. O que quero dizer com tudo isto é que não há motivo para chicotadas, elas apenas nos deixam estagnadas e presas no mesmo ciclo, como quando nos achamos gordas, então nos sentimos muito tristes e comemos um chocolate para “nos reconfortar”. Voltamos assim para o ponto inicial, desta vez com um chocolate a mais. Sugiro olharmos de forma construtiva para nossas atitudes. Vamos dar voz às nossas ambivalências, não temos porque ignorar algo que já existe dentro de nós. Fingir que não ouve o pensamento prejudicial não faz com que ele não exista. Vamos ouvi-lo, aceitá-lo e lembrar que como tudo na vida tem dois lados, temos também pensamentos construtivos. Para mudar, devemos primeiro escutar o que fala nossa mente. Caso sua motivação ainda esteja baixa, acho interessante listar tudo o que você mais valoriza na vida, e depois pensar de que forma esse seu velho hábito te afasta ou te aproxima do que te é importante. Às vezes, estamos em um namoro em que a gente só vive a vida do namorado, e percebe ser a saída com os amigos um dos nossos valores. Aí, fica fácil conceber que o relacionamento não está de acordo com o que você aprecia na vida. Mas isso já é assunto para outro artigo..." (Helena Cardoso)
Posted on: Tue, 30 Jul 2013 04:31:12 +0000

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