10 - O Significado da Rendição ACEITAÇÃO DO AGORA Mencionou - TopicsExpress



          

10 - O Significado da Rendição ACEITAÇÃO DO AGORA Mencionou várias vezes a palavra "rendição". Não gosto dessa ideia. Soa um pouco fatalista. Se aceitarmos sempre as coisas como elas são, não faremos esforço nenhum para as melhorar. Quer-me parecer que progresso significa, tanto na nossa vida pessoal como na colectiva, não aceitar as limitações do presente, mas procurar ultrapassá-las e criar algo melhor. Se não tivéssemos feito assim, ainda hoje estaríamos a viver em cavernas. Como é que concilia rendição com mudar as coisas e fazer com que os projectos se concretizem? Para algumas pessoas, a palavra rendição poderá ter uma conotação negativa, significando derrota, desistência, insucesso em enfrentar os desafios da vida, letargia, etc. A verdadeira rendição, no entanto, é uma coisa totalmente diferente. Não quer dizer aceitar passivamente toda e qualquer situação em que você se encontre sem fazer nada para a resolver. Nem sequer significa não fazer planos ou iniciar uma acção positiva. Render-se consiste na sabedoria simples, mas profunda, de obedecer e não opor-se ao caudal da vida. O único lugar em que pode ter a experiência do caudal da vida é no Agora, por isso render-se é aceitar, incondicionalmente e sem reservas, o momento presente. É pôr de parte a resistência interior ao que é. A resistência interior é dizer "não" ao que é, através do juízo mental e da negatividade emocional. Torna-se particularmente evidente quando as coisas "correm mal", o que significa que há um hiato entre as exigências ou expectativas rígidas da sua mente e o que é. Esse é o hiato da dor. Se você já viveu bastante tempo, sabe que as coisas "correm mal" bastantes vezes. É precisamente nessas alturas que a rendição tem de ser praticada, se quiser eliminar a dor e o desgosto da sua vida. A aceitação do que é liberta-o imediatamente da identificação com a mente e assim liga-o novamente ao Ser. A resistência é a mente. A rendição é um fenómeno puramente interior. Não quer dizer que ao nível exterior não possa tomar providências para alterar uma situação. De facto, não é a situação global que você tem de aceitar quando se rende, mas apenas o pequeno segmento chamado Agora. Por exemplo, se você estivesse atolado na lama, não diria: "Muito bem, resigno-me a ficar atolado na lama". Resignação não é rendição. Você não tem de aceitar uma situação indesejável ou desagradável na sua vida. Nem tem de se iludir a si próprio dizendo que não há nada de errado em estar atolado na lama. Não. Você reconhece completamente que quer sair da lama. Depois concentra a sua atenção no momento presente sem o classificar mentalmente de modo algum. Significa isso que você não julga o Agora. Por conseguinte, não há resistência nem negatividade emocional. Você aceita o momento tal como ele é. Depois toma providências e faz tudo para sair da lama. A isso eu chamo acção positiva. É de longe mais eficaz do que a acção negativa, que deriva da cólera, do desespero ou da frustração. Até alcançar o resultado desejado, continue a praticar a rendição abstendo-se de classificar o Agora. Deixe-me ilustrar esta questão por meio de uma analogia. Você está a andar de noite por um caminho rodeado por espesso nevoeiro. Mas leva consigo uma lanterna potente que rompe o nevoeiro e abre um espaço estreito, mas nítido à sua frente. O nevoeiro é a sua situação de vida, que inclui o passado e o futuro; a luz da lanterna é a sua presença consciente; o espaço nítido é o Agora. Não se render torna a sua forma psicológica, a concha do ego, mais rígida, criando assim uma forte sensação de separação. O mundo à sua volta e as pessoas, em particular, são considerados como ameaças. Surge a compulsão inconsciente de destruir os outros através de juízos, assim como a necessidade de competir e dominar. A própria natureza torna-se sua inimiga e as suas percepções e interpretações são governadas pelo medo. A doença mental a que chamamos paranóia é apenas uma forma ligeiramente mais aguda desse estado de consciência normal, mas disfuncional. Não é apenas a sua forma psicológica, mas também a sua forma física – o seu corpo – que se torna dura e rígida através da resistência. Cria-se tensão em várias partes do corpo, e esse corpo contrai--se como um todo. A corrente livre de energia da vida que percorre o corpo, e que é essencial para o seu funcionamento saudável, fica muitíssimo restringida. O exercício físico e determinadas formas de terapia física poderão ser úteis para restaurar essa corrente mas, se não praticar a rendição no seu dia-a-dia, essas coisas só lhe poderão proporcionar um alívio temporário dos sintomas, já que a sua causa – o padrão de resistência – não foi desfeita. Existe alguma coisa dentro de si que permanece insensível às circunstâncias transitórias que criam a sua situação de vida e você só lhe tem acesso através da rendição. É a sua vida, o seu próprio Ser, que existe eternamente no reino eterno do presente. Encontrar essa vida é "a única coisa necessária" de que Jesus falou. Se acha que a sua situação de vida é insatisfatória ou até mesmo intolerável, só através da rendição é que você conseguirá quebrar o padrão de resistência inconsciente que perpetua essa situação. Render-se é perfeitamente compatível com tomar providências, com iniciar uma mudança ou alcançar metas. Mas no estado de rendição há uma energia totalmente diferente, uma qualidade diferente que se manifesta na sua acção. Ao render-se, você liga-se novamente com a energia da fonte do Ser e, se o que você fizer estiver infuso do Ser, torna-se uma celebração rejubilante da energia da vida, que o levará mais profundamente para o interior do Agora. Através da não-resistência, a qualidade da sua consciência e, por conseguinte, a qualidade de tudo o que você fizer ou criar, será incomensuravelmente mais intensa. Os resultados tomarão então conta de si próprios e reflectirão essa qualidade. Poderíamos chamar--lhe "acção rendida". Não se trata do trabalho tal como o conhece-mos há milhares de anos. À medida que mais seres humanos forem despertando, a palavra trabalho desaparecerá do nosso vocabulário, e talvez se crie uma palavra nova para a substituir. É a qualidade da sua consciência deste momento que é o factor determinante do tipo de futuro que você terá, pelo que render-se é a coisa mais importante que pode fazer para provocar uma mudança positiva. Qualquer providência que você tomar será uma questão secundária. Nenhuma providência verdadeiramente positiva poderá nascer de um estado de consciência de não-rendição. Creio compreender que se eu me encontrar numa situação desagradável ou insatisfatória, mas se aceitar completamente o momento tal como ele é, não haverá nem sofrimento nem infelicidade. Ter-me-ei elevado acima disso. Mas continuo a não compreender muito bem de onde me virá a energia ou a motivação para tomar provi-dências e provocar a mudança, se não houver uma certa dose de descontentamento. Num estado de rendição, você vê nitidamente o que é preciso fazer e tomará as providências necessárias, fazendo uma coisa de cada vez e concentrando-se numa coisa de cada vez. Aprenda com a Natureza: repare como tudo se realiza e como o milagre da vida se tem lugar sem descontentamento ou infelicidade. Foi por isso que Jesus disse: "Olha para os lírios e vê como eles crescem; eles nunca labutam nem fiam". Se a sua situação global for insatisfatória ou desagradável, ponha de parte este instante e renda-se ao que é. É essa a luz da lanterna que corta o nevoeiro. O seu estado de consciência deixa então de ser controlado por condições externas. Você deixa de reagir e de resistir. Depois, considere os pormenores específicos da situação. Pergunte a si próprio: "Haverá alguma coisa que eu possa fazer para mudar esta situação, melhorá-la, ou sair dela?" Se sim, tome as providências adequadas. Não se concentre nas cem coisas que fará ou terá de fazer algures no futuro, mas concentre-se naquilo que pode fazer agora, o que não significa que não deva fazer planos. Pode muito bem acontecer que planear seja a única coisa que você pode fazer agora. Mas certifique-se de que não começa a passar "filmes mentais", a projectar-se no futuro, e, desse modo, a deixar passar o Agora. Quaisquer providências que você tome poderão não dar fruto imediatamente. Até isso acontecer, não resista ao que é. Se não puder tomar quaisquer providências, e se também não se puder retirar da situação, então use a situação para se render mais profundamente, para entrar mais profundamente no Agora, no Ser. Quando você entra na dimensão imortal do presente, verá que a mudança chega muitas vezes de forma inesperada, sem necessidade de grandes esforços da sua parte. A vida torna-se útil e coopera consigo. Se factores interiores, como por exemplo medo, remorso, ou inércia, o estavam a impedir de tomar as providências necessárias, eles ficarão desfeitos na luz da sua presença consciente. Não confunda rendição com a atitude de "não quero saber", de indiferença. Se a observar atentamente, verá que tal atitude está cheia de negatividade sob a forma de um ressentimento encoberto e, portanto, não se trata de rendição, mas de resistência disfarçada. Ao render-se, você dirige a sua atenção para o interior, a fim de confirmar se existe qualquer vestígio de resistência que tenha ficado dentro de si. Fique bem alerta quando o fizer; de outro modo, uma réstia de resistência poderá continuar a esconder-se em algum canto escuro na forma de um pensamento ou de uma emoção não reconhecida. DA ENERGIA DA MENTE À ENERGIA ESPIRITUAL Libertar-se da resistência é mais fácil de dizer do que de fazer. Continuo a não perceber claramente como o fazer. Se me disser que é através da rendição, a pergunta continua a ser: "Como?" Comece por reconhecer que há resistência. Esteja lá quando ela acontece, quando a resistência se ergue. Observe como a sua mente a cria, como classifica a situação, o classifica a si ou aos outros. Veja que processos de pensamento estão envolvidos. Sinta a energia da emoção. Ao observar a resistência, verá que ela não serve para nada. Ao concentrar toda a sua atenção no Agora, a resistência inconsciente torna-se consciente e chega ao fim. Não se pode ser consciente e infeliz, consciente e negativo. A negatividade, a inconsciência e todas as outras formas de sofrimento indicam a presença de resistência, e a resistência é sempre inconsciente. Certamente que posso estar consciente dos meus sentimentos de infelicidade? Você escolheria a infelicidade? Se não a escolheu, como é que ela surgiu? Qual a sua finalidade? O que a mantém viva? Você diz que está consciente dos seus sentimentos de infelicidade, mas na verdade está identificado com eles e mantém o processo vivo através do seu pensar compulsivo. Tudo isso é inconsciente. Se estivesse consciente, isto é, totalmente presente no Agora, toda a negatividade desapareceria quase instantaneamente. Não poderia sobreviver na sua presença. Só pode sobreviver na sua ausência. Até mesmo o corpo de dor não pode sobreviver por muito tempo na sua presença. Você mantém a infelicidade viva ao dar-lhe tempo. É esse o seu sangue vital. Retire-lhe tempo através de um intenso reconhecimento do momento presente e ela morrerá. Mas será que você quer que ela morra? Estará realmente farto dela? Quem seria você sem ela? Até praticar a rendição, a dimensão espiritual é uma coisa sobre a qual você lê, fala, age, escreve livros, pensa, e em que acredita – ou não, consoante o caso. Não tem qualquer importância. Até você se render, ela não se torna uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que emanará e que então tomará conta da sua vida será de uma frequência vibratória muito mais elevada do que a energia da mente que ainda governa o nosso mundo – a energia que criou as estruturas sociais, políticas e económicas existentes na nossa civilização, e que também se perpetua continuamente a si própria através dos nossos sistemas educativos e dos meios de comunicação social. Através da rendição, a energia espiritual chega a este mundo. Ela não cria sofrimento para si próprio, nem para os outros seres humanos ou para qualquer forma de vida no planeta. Ao contrário da energia da mente, ela não polui a Terra e não está sujeita à lei das polaridades, que dita que nada pode existir sem o seu oposto, que não pode haver o bem sem o mal. Aqueles que se guiam pela energia da mente, que ainda é a grande maioria da população da Terra, permanecem inconscientes da existência da energia espiritual. Esta pertence a uma ordem de realidade diferente e criará um mundo diferente quando um número suficiente de seres humanos entrar no estado de rendição, libertando-se assim totalmente da negatividade. Se a Terra tiver de sobreviver, será essa a energia dos que a habitam. Jesus referiu-se a essa energia quando fez a sua famosa afirmação profética no Sermão da Montanha: "Bem-aventurados sejam os mansos; eles possuirão a Terra." É uma presença silenciosa mas intensa que desfaz os padrões inconscientes da mente. Estes poderão continuar activos por algum tempo, mas deixarão de governar a sua vida. As condições externas que resistiam também tendem a alterar-se ou a desfazer-se rapidamente através da rendição. Ela tem o imenso poder de transformar situações e pessoas. Se as condições não se alterarem imediatamente, a sua aceitação do Agora permitirá que você se eleve acima delas. De uma maneira ou de outra, você ficará livre. A RENDIÇÃO NOS RELACIONAMENTOS PESSOAIS E quanto às pessoas que me querem usar, manipular ou dominar? Devo render-me a elas? Elas estão isoladas do Ser, por isso tentam inconscientemente obter energia e poder de si. É certo que só uma pessoa inconsciente tentará usar ou manipular os outros, mas é igualmente certo que apenas uma pessoa inconsciente pode ser usada e manipulada. Se você resistir ou lutar contra os comportamentos inconscientes dos outros, você próprio se tornará inconsciente. E render-se não significa que se deixe manipular por pessoas inconscientes. De maneira nenhuma. É perfeitamente possível dizer "não", firme e claramente, a alguém, ou sair de uma situação e, ao mesmo tempo, permanecer num estado de completa não-resistência interior. Quando disser "não" a alguém ou a alguma situação, não deixe que o "não" venha de uma reacção, mas sim de um discernimento, de uma compreensão clara daquilo que é certo ou não é certo para si nesse momento. Deixe que ele seja um "não" não-reactivo, um "não" de alta qualidade, um "não" isento de qualquer negatividade e, portanto, que não provoque mais sofrimentos. Encontro-me numa situação no meu emprego que é desagradável. Tentei render-me a ela, mas acho que isso é impossível. Há ainda muita resistência que vem ao de cima. Se não se puder render, tome imediatamente providências: diga ou faça alguma coisa que provoque uma mudança na situação – ou então retire-se dela. Assuma a responsabilidade pela sua vida. Não polua o seu belo e radioso Ser interior nem a Terra com negatividade. Não dê abrigo dentro de si a qualquer forma de infelicidade. Se não puder tomar providências, se estiver na prisão, por exemplo, então tem duas escolhas à sua opção: ou a resistência ou a rendição. Ou ser escravo ou ser interiormente livre de condições externas. Ou o sofrimento ou a paz interior. A não-resistência também deve ser praticada na conduta exterior das nossas vidas, tal como a não-resistência à violência, ou é algo que apenas diz respeito à nossa vida interior? Você só tem de se preocupar com o aspecto interior. É primordial. Evidentemente que isso transformará igualmente a conduta exterior da sua vida, os seus relacionamentos, etc. Os seus relacionamentos serão profundamente mudados pela rendição. Se você nunca conseguir aceitar o que é, também não será capaz de aceitar as pessoas tal como elas são. Irá julgá-las, criticá-las, classificá-las, rejeitá-las, ou tentará mudá-las. Além disso, se fizer constantemente do Agora um meio para alcançar um fim no futuro, você também fará de todas as pessoas que encontra ou com quem se relaciona um meio para alcançar um fim. O relacionamento – o ser humano – é então de importância secundária para si, ou não tem qualquer importância. O que você obtém do relacionamento é primordial – seja ganho material, sensação de poder, prazer físico ou qualquer outra forma de satisfação do ego. Permita que eu ilustre a maneira como a rendição pode funcionar nos relacionamentos. Quando você se envolver em alguma discussão ou em alguma situação de conflito, talvez com o seu parceiro ou com alguém que lhe seja próximo, comece por observar como fica na defensiva quando a sua posição é atacada, ou sinta a força da sua própria agressividade quando ataca a posição da outra pessoa. Observe como se apega aos seus pontos de vista e à suas opiniões. Sinta a energia mental e emocional por trás da sua necessidade de ter razão e fazer a outra pessoa perdê-la. É essa a energia da mente egoica. Torne-a consciente ao reconhecê-la, ao senti-la tão plenamente quanto possível. Depois, um dia, no meio de uma discussão, você compreende de repente que tem uma escolha e talvez decida abandonar a sua própria reacção – só para ver o que acontece. Você rende-se. Não estou a falar de não reagir apenas verbalmente, dizendo "Tudo bem, tu tens razão", com um ar de quem diz "Eu estou acima de toda essa inconsciência infantil". Isso seria apenas deslocar a resistência para um outro nível, mantendo a mente egoica no poder, reforçando a sua superioridade. Estou a falar de abandonar todo o campo da energia mental e emocional que dentro de si lutava pelo poder. O ego é manhoso, pelo que tem de estar muito vigilante, muito presente e ser totalmente honesto consigo próprio para ver se renunciou verdadeiramente à sua identificação com determinada posição mental e está, assim, livre da sua mente. Se de repente você se sentir muito leve, livre e profundamente em paz, tal é um sinal inequívoco de que se rendeu realmente. Depois observe o que acontece à posição mental da outra pessoa quando você deixa de lhe incutir energia através da resistência. Quando a identificação com as posições mentais desaparecer, começa a verdadeira comunicação. E quanto à não-resistência face à violência, à agressão e afins? Não-resistência não significa necessariamente não fazer nada. Tudo o que significa é que qualquer "fazer" se torna não-reactivo. Lembre-se da profunda sabedoria subjacente à prática das artes marciais orientais: não resista ao seu antagonista. Ceda para vencer. Dito isto, "não fazer nada" quando se encontra num estado de intensa presença é um factor muito poderoso de transformação e de cura de situações e pessoas. Há, no taoísmo, um termo chamado wu wei, que se traduz geralmente por "actividade sem acção" ou "sentar-se quieto sem fazer nada". Na antiga China, isso era visto como uma das realizações ou virtudes mais elevadas. É radicalmente diferente da inactividade do estado comum de consciência, ou antes inconsciência, causada pelo medo, pela inércia ou pela indecisão. O verdadeiro "não fazer nada" implica a não-resistência interior e uma vigilância intensa. Por outro lado, se for necessária a acção, você deixará de reagir a partir da sua mente condicionada e responderá à situação a partir da sua presença consciente. Nesse estado, a sua mente está liberta de conceitos, incluindo o conceito de não-violência. Portanto, quem poderá adivinhar o que você fará? O ego acredita que a força que você possui reside na sua resistência, enquanto que na verdade a resistência o separa do Ser, o único lugar do poder verdadeiro. A resistência é fraqueza e medo disfarçados de força. O que o ego vê como fraqueza é o seu Ser na sua pureza, inocência e poder. E o que vê como força é fraqueza. Por conseguinte, o ego existe num permanente modo de resistência e desempenha papéis ilusórios para encobrir a sua "fraqueza", que é, na verdade, o seu poder. Até haver rendição, representar inconscientemente papéis constitui uma grande parte da interacção humana. Na rendição, você deixa de precisar das defesas e das máscaras do ego. Torna-se muito simples, muito real. "Isso é perigoso", diz o ego. "Vais magoar-te. Vais ficar vulnerável." O que o ego não sabe, claro, é que só abandonando a resistência, só tornando-se "vulnerável" é que você poderá descobrir a sua invulnerabilidade verdadeira e essencial. TRANSFORMAR A DOENÇA EM ILUMINAÇÃO Se alguém se encontrasse gravemente doente e aceitasse completamente a sua condição rendendo-se à doença, não teria esse alguém desistido de recuperar a saúde? A determinação de lutar contra a doença deixaria de existir, não é verdade? A rendição é a aceitação interior do que é, sem quaisquer reservas. Estamos a falar da sua vida – deste instante – e não das condições ou das circunstâncias da sua vida, não daquilo a que eu chamaria a sua situação de vida. Já falámos sobre isso. Com respeito à doença, o que ela quer dizer é isto: a doença faz parte da sua situação de vida. Como tal, tem um passado e um futuro. O passado e o futuro formam um contínuo ininterrupto, a não ser que o poder redentor do Agora seja activado através da sua presença consciente. Como sabe, sob as variadas condições que constituem a sua situação de vida, a qual existe no tempo, há algo mais profundo, mais essencial: a sua Vida, o seu próprio Ser no Agora eterno. Tal como não existem problemas no Agora, também não existe a doença. A crença numa classificação que alguém faz da sua condição mantém a condição no lugar, concede-lhe plenos poderes, e de um desequilíbrio temporário cria uma realidade aparentemente sólida. Concede-lhe não apenas realidade e solidez, mas também uma continuidade no tempo que ela não possuía anteriormente. Se você se concentrar neste instante e se abstiver de o classificar mentalmente, a doença fica reduzida a um ou a vários dos seguintes factores: dor física, fraqueza, desconforto, ou incapacidade. É a isso que você se rende – agora. Não se renda à ideia da "doença". Deixe que o sofrimento o force a concentrar-se no momento presente, a atingir um estado de intensa presença consciente. Use-o para atingir a iluminação. A rendição não transforma o que é, pelo menos directamente. A rendição transforma-o a si. Quando você se transforma, todo o seu mundo se transforma, porque o mundo é apenas um reflexo. Já falámos sobre isso mais atrás. Se você olhar para um espelho e não gostar do que vir, teria de ser louco para atacar a imagem do espelho. É precisamente isso que você faz quando se encontra num estado de não-aceitação. E, é claro, se atacar a imagem, a imagem, por sua vez, ataca-o a si. Se aceitar a imagem, seja ela o que for, se for simpático para com ela, ela não poderá deixar de ser simpática para consigo. É assim que você pode mudar o mundo. A doença não é o problema. O problema é você – enquanto a mente egoica o estiver a controlar. Quando estiver doente ou incapacitado, não pense que falhou de alguma maneira, não se sinta culpado. Não acuse a vida por o tratar injustamente, mas também não se culpe a si próprio. Tudo isso é resistência. Se estiver com alguma doença muito grave, sirva-se dela para atingir a iluminação. Qualquer "mal" que aconteça na sua vida – use-o para atingir a iluminação. Retire o tempo à doença. Não lhe dê nem passado nem futuro. Deixe que ela o force a adquirir um intenso conhecimento do momento presente – e observe o que acontece. Torne-se alquimista. Transmute o metal de base em ouro, o sofrimento em consciência, o revés em iluminação. Está gravemente doente e sente-se revoltado com tudo o que acabo de dizer? Então isso é um sinal inequívoco de que a doença se tornou parte da sua sensação de identidade e que você está agora a proteger a sua identidade – assim como a proteger a doença. A condição que está classificada de "doença" não tem nada a ver com quem você é na verdade. QUANDO AS CALAMIDADES ACONTECEM No que diz respeito à maioria da população, que ainda está inconsciente, só uma situação-limite crítica terá o potencial para rachar a dura casca do ego e forçá-lo a render-se e assim entrar num estado desperto. Uma situação-limite ocorre quando, através de alguma calamidade, convulsão social drástica, perda profunda, ou sofrimento, todo o seu mundo se estilhaça e deixa de fazer qualquer sentido. É um encontro com a morte, seja ela física ou psicológica. A mente egoica, criadora do mundo, entra em colapso. E das cinzas do mundo velho surge então um mundo novo. Não há garantia, evidentemente, de que mesmo uma situação-limite o consiga, mas o potencial está 1á sempre. A resistência de algumas pessoas ao que é até se intensifica em tais situações, que assim se transformam numa descida aos infernos. Noutras, poderá haver apenas rendição parcial, mas mesmo isso lhes proporcionará uma certa profundidade e serenidade que não tinham antes. Parcelas do ego quebrar-se-ão, e isso permitirá que brilhem pequenas quantidades de esplendor e de paz que residem para além da mente. As situações-limite têm produzido muitos milagres. Houve assassinos que, no corredor da morte, esperando a execução, nas suas últimas horas de vida, tiveram a experiência do estado sem ego e da alegria e paz profundas que o acompanham. A resistência interior à situação em que se encontravam tornou-se tão intensa que provocou um sofrimento insustentável, mas eles não tinham lugar para onde fugir nem havia nada a fazer para lhe escaparem, nem sequer um futuro projectado pela mente. Viram-se assim obrigados a uma total aceitação do inaceitável. Viram-se obrigados a render-se. Desse modo, puderam entrar no estado de graça que acompanha a redenção: completa libertação do passado. É evidente que não é a situação-limite que abre espaço para o milagre da graça e da redenção, mas sim o acto de rendição. Por isso, sempre que qualquer espécie de calamidade acontecer, ou quando alguma coisa correr realmente "mal" – a doença, a incapacidade física, a perda do seu lar, da sua fortuna ou da sua identidade socialmente definida, o fim de um relacionamento íntimo, a morte ou o sofrimento de um ente querido, ou a sua própria morte iminente – fique ciente de que a situação tem outra face, de que você se encontra apenas a um passo de alguma coisa incrível: uma completa transmutação alquímica do metal base da dor e do sofrimento em ouro. Esse passo chama-se rendição. Não quero dizer que você se sentirá feliz numa tal situação. Não se sentirá. Mas o medo e a dor serão transmutados em paz e serenidade interiores, que vêm de um lugar muito profundo – do próprio Não-Manifesto. É a "paz de Deus, que ultrapassa toda a compreensão". Comparada a isso, e felicidade é uma coisa bastante insípida. Juntamente com essa paz radiosa vem a compreensão – não apenas ao nível da mente, mas de dentro, do fundo do seu Ser – de que você é indestrutível, imortal. Não é uma convicção. É uma certeza absoluta que não necessita de evidência exterior nem de provas de qualquer fonte secundária. TRANSFORMAR O SOFRIMENTO EM PAZ Li que um filósofo estóico da antiga Grécia, ao dizerem-lhe que o filho morrera num acidente, terá respondido: "Eu sabia que ele não era imortal". Será isto a rendição? Se é, não a quero. Há determinadas situações em que a rendição parece contranatural e desumana. Estar isolado dos sentimentos não é rendição. Mas nós desconhecemos qual era o seu estado interior quando ele disse aquelas palavras. Em determinadas situações extremas, poderá ser impossível para si aceitar o Agora. Mas você terá sempre para si uma segunda oportunidade para se render. A sua primeira oportunidade é render-se em cada momento à realidade desse momento. Sabendo que o que é não pode ser desfeito – porque isso já é –, você pode dizer "sim" ao que é ou aceita o que não é. Depois faz o que tem a fazer, seja o que for que a situação exija. Se permanecer no estado de aceitação, você deixará de criar negatividade, sofrimento e infelicidade. Viverá então num estado de não-resistência, num estado de graça e de leveza, livre de conflitos. Sempre que não conseguir fazer isso, sempre que perder essa oportunidade – ou porque não está a gerar uma presença consciente suficientemente intensa para evitar que surja algum padrão habitual e inconsciente de resistência, ou porque a condição é tão extrema que se torna absolutamente inaceitável para si -, então você cria alguma forma de dor, alguma forma de sofrimento. Poderá parecer que é a situação que cria o sofrimento, mas em última análise não é assim - é a sua resistência que o faz. Eis agora a sua segunda oportunidade de se render. Se não puder aceitar o que está por fora, então aceite o que está por dentro. Se não puder aceitar a condição externa, aceite a condição interna. Isso significa: não resista à dor. Permita que ela existe. Renda-se ao desgosto, ao desespero, ao medo, à solidão, ou a qualquer forma que o sofrimento tomar. Observe-o sem o classificar mentalmente. Aceite-o. Depois veja como o milagre da rendição transmuta o sofrimento profundo em paz profunda. É esta a sua crucificação. Permita que seja também a sua ressurreição e a sua ascensão. Não vejo como alguém se pode render ao sofrimento. Como fez notar, sofrer é não-rendição. Como é que alguém se pode render à não-rendição? Esqueça a rendição por alguns instantes. De qualquer modo, quando a sua dor é profunda, tudo o que se disser sobre rendição poderá parecer-lhe fútil e sem sentido. Quando a sua dor é profunda, o mais certo é você desejar mais escapar-lhe do que render-se a ela. Você não quer sentir o que sente. O que poderia ser mais normal? Mas não há como escapar, não há saída. Existem muitas pseudofugas - o trabalho, a bebida, as drogas, a ira, a projecção, a supressão, e outras mais - mas elas não o libertarão da dor. O sofrimento não diminui de intensidade quando você o torna inconsciente. Se recusar a dor emocional, tudo o que você fizer ou pensar assim como os seus relacionamentos serão contaminados por ela. Você difundirá essa dor, por assim dizer, como uma energia que emana, e os outros apanhá-la-ão subliminarmente. Se forem inconscientes, poderão mesmo sentir-se levados, de certa maneira, a atacá-lo ou a magoá-lo ou então você poderá magoá-los, a eles numa projecção inconsciente da sua dor. Você atrairá e manifestará tudo o que corresponder ao seu estado interior. Quando não há uma saída, continuará ainda a haver uma passagem. Por isso não volte as costas à sua dor. Enfrente-a. Sinta-a plenamente. Sinta – não pense nela! Expresse-a, se necessário, mas não crie um cenário à sua volta na sua mente. Preste toda a sua atenção ao sentir e não à pessoa, ao acontecimento ou à situação que parece tê-la provocado. Não deixe que a mente use a dor para criar a partir dela uma identidade de vítima para si próprio. Sentir pena de si e contar a sua história aos outros mantê-lo-á preso ao sofrimento. Uma vez que é impossível deixar de sentir, a única possibilidade de mudar é entrar completamente dentro do sofrimento; de outro modo, nada será alterado. Por isso preste toda a sua atenção ao que sente, abstendo-se de classificar mentalmente. Ao entrar no sentir, esteja intensamente alerta. Ao princípio, poderá parecer um lugar escuro e aterrador e, quando surge o impulso para fugir dele, observe, mas não fuja. Continue a prestar atenção à dor, continue a sentir o desgosto, o medo, o pavor, a solidão, seja o que for. Continue vigilante, continue presente – presente com todo o seu Ser, com cada célula do seu corpo. Ao fazê-lo, estará a levar uma luz para dentro dessa escuridão. É a chama da sua consciência. Nesta fase, você não precisa de se preocupar mais com a rendição. Esta já aconteceu. Como? Plena atenção é plena aceitação, é rendição. Ao prestar plena atenção, você está a usar o poder do Agora, que é o poder da sua presença. Nenhuma réstia de resistência poderá sobreviver aí. A presença remove o tempo. Sem o tempo, nenhum sofrimento e nenhuma negatividade poderão sobreviver. A aceitação do sofrimento é uma jornada para a morte. Enfrentar a dor profunda, permitir que ela seja, prestar-lhe toda a sua atenção, é entrar conscientemente na morte. Quando você tiver morrido essa morte, compreenderá que não há morte – e que não há nada a temer. Só o ego é que morre. Imagine um raio de Sol que se esquecesse de ser parte inseparável do Sol, se iludisse a si próprio acreditando que tem de lutar para sobrevier, e criasse e se agarrasse a uma identidade diferente da do Sol. A morte de uma tal ilusão não seria incrivelmente libertadora? Quer ter uma morte fácil? Não preferia morrer sem dor e sem agonia? Então morra para o passado a cada momento e deixe que o brilho da luz da sua presença afugente o eu pesado e escravo do tempo que você julgava ser a sua identidade. O CAMINHO DA CRUZ Existem muitas histórias de pessoas que dizem ter encontrado Deus através de grande sofrimento, e há a expressão cristã "o caminho da cruz", que suponho apontar para a mesma coisa. Não estamos a tratar de outra coisa aqui. Estritamente falando, essas pessoas não encontraram Deus através do seu sofrimento, porque sofrer implica resistência. Encontraram Deus através da rendição, através da aceitação total do que é, para a qual foram forçados pelo seu intenso sofrimento. Devem ter compreendido, em determinado nível, que a sua dor era autocriada. Como é que equaciona rendição com encontrar Deus? Uma vez que a resistência é inseparável da mente, a renúncia da resistência – a rendição – é o fim da mente como seu amo, o impostor que finge ser "você", o falso deus. Todo o julgamento e toda a negatividade se desfazem. Abre-se então o reino do Ser, que fora obscurecido pela mente. De repente, uma grande quietude levanta--se dentro de si, uma indizível sensação de paz. E dentro dessa paz, há uma grande alegria. E dentro dessa alegria, há amor. E no mais recôndito centro, há o sagrado, o incomensurável, aquilo a que não se pode dar um nome. Eu não diria encontrar Deus, pois como poderia você encontrar aquilo que nunca se perdeu, a vida que você é? A palavra Deus é limitativa, não só por causa dos milhares de anos de percepção errada e uso abusivo, mas também porque ela sugere uma entidade separada de si. Deus é o Ser propriamente dito, não é um ser. Não pode haver aqui nenhuma relação sujeito-objecto, nenhuma dualidade, nenhum você e Deus. Compreender Deus é a coisa mais natural que há. O facto espantoso e incompreensível não é que você possa tornar--se consciente de Deus, mas sim que você não possa tornar-se consciente de Deus. O caminho da cruz que mencionou é o antigo caminho para a iluminação, e até recentemente foi o único caminho. E não rejeite nem subestime a sua eficácia. Ainda funciona. O caminho da cruz é uma inversão completa. Significa que a pior coisa da sua vida, a sua cruz, torna-se a melhor coisa que algum dia lhe aconteceu, ao forçá-lo a render-se, a morrer, forçando-o a tornar-se nada, a tornar-se Deus - porque também Deus é coisa nenhuma. Neste momento, e no que diz respeito à maioria inconsciente dos seres humanos, o caminho da cruz continua a ser o único caminho. Esses só despertarão por meio de mais sofrimento, e a iluminação, como fenómeno colectivo, será previsivelmente precedida de grandes convulsões sociais. Este processo reflecte as obras de certas leis universais que governam o crescimento da consciência e foi previsto por alguns profetas. É descrito, entre outros lugares, no Livro da Revelação ou Apocalipse, embora encoberto por uma simbologia obscura e por vezes impenetrável. Esse sofrimento é infligido não por Deus mas pelos seres humanos, a si próprios e aos outros, assim como por certas medidas defensivas que a Terra, que é um organismo vivo e inteligente, tomará para se proteger a si própria dos ataques de loucura humana. No entanto, há hoje um número crescente de seres humanos cuja consciência é suficientemente evoluída para não precisarem de mais sofrimento antes da realização da iluminação. Você poderá ser um deles. A iluminação através do sofrimento - o caminho da cruz - significa ser-se forçado a entrar, esperneando e gritando, no reino dos céus. Você acabará finalmente por se render porque não poderá suportar mais a dor, mas a dor poderá continuar por muito tempo ainda antes que tudo isso aconteça. A iluminação conscientemente escolhida significa renunciar ao seu apego ao passado e ao futuro e fazer do Agora o principal foco da sua vida. Significa decidir morar num estado de presença em vez de no tempo. Significa dizer sim ao que é. Então deixará de precisar da dor. De quanto tempo pensa que precisará para poder dizer: "Não criarei mais nenhuma dor, mais nenhum sofrimento"? De quanta mais dor precisará para poder tomar essa decisão? Se pensa que precisa de mais tempo, terá mais tempo - e mais dor. O tempo e a dor são inseparáveis. O PODER DE ESCOLHER E quanto a todas aquelas pessoas que, ao que parece, querem realmente sofrer? Tenho uma amiga cujo parceiro a maltrata fisicamente, e o seu último relacionamento era do mesmo género. Porque será que ela escolhe semelhantes homens, e porque será que ela se recusa a sair agora daquela situação? Porque será que tantas pessoas escolhem realmente a dor? Eu sei que a palavra escolher é um termo caro à New Age, mas neste contexto não é totalmente correcta. É enganador dizer que alguém "escolheu" um relacionamento disfuncional ou qualquer outra situação negativa na sua vida. Escolher sugere consciência - um elevado grau de consciência. Sem ela não há escolha. A escolha começa no momento em que você deixa de se identificar com a mente e com os seus padrões condicionados, no momento em que se torna presente. Até alcançar esse ponto, você está inconsciente, espiritualmente falando. Significa isto que é compelido a pensar, a sentir e a agir de determinada maneira, de acordo com o condicionamento da sua mente. Foi por isso que Jesus disse: "Perdoai-lhes porque eles não sabem o que fazem." Isto não está relacionado com a inteligência, no sentido convencional da palavra. Conheci pessoas muito inteligentes e educadas que eram também completamente inconscientes, ou seja, completamente identificadas com as respectivas mentes. De facto, se o desenvolvimento mental e um crescente conhecimento não forem equilibrados por um correspondente crescimento da consciência, o potencial para a infelicidade e para a calamidade é muito grande. A sua amiga está presa num relacionamento com um parceiro violento e não é a primeira vez. Porquê? Não se trata de uma escolha. A mente, condicionada como está pelo passado, procura sempre recriar aquilo que conhece e que lhe é familiar. Mesmo que seja doloroso, pelo menos é-lhe familiar. A mente adere sempre ao conhecido. Para ela, o desconhecido é perigoso porque não o pode controlar. É por isso que a mente detesta e ignora o momento presente. Ter consciência do momento presente cria um hiato não apenas no caudal da mente, mas igualmente no contínuo passado-futuro. Nada verdadeiramente novo e criativo poderá vir a este mundo excepto através desse hiato, desse espaço preciso de possibilidades infinitas. Por isso, a sua amiga, estando identificada com a mente dela, pode estar a recriar um padrão aprendido no passado em que a intimidade e a violência estavam ligadas. Por outro lado, ela poderá estar a representar um padrão aprendido na infância, segundo o qual ela não vale nada e merece ser castigada. É possível, também, que ela viva uma grande parte da sua vida através do corpo de dor, o qual procura sempre mais dor para se alimentar. O parceiro dela tem os seus próprios padrões inconscientes, que complementam os dela. É claro que a situação dela é criada por ela própria, mas quem ou o que é esse eu que a criou? Um padrão mental e emocional do passado, nada mais. Porquê fazer dele um eu? Se você lhe disser que ela escolheu a sua condição ou a sua situação, estará a reforçar o seu estado de identificação com a mente. Mas será ela o seu padrão de mente? Será o Eu dela? Será a sua verdadeira identidade derivada do passado? Mostre à sua amiga como ser a presença observadora por trás dos seus pensamentos e das suas emoções. Fale-lhe do corpo de dor e da forma de se libertar dele. Ensine-lhe a arte do conhecimento do corpo interior. Mostre-lhe o significado da presença. Assim que ela for capaz de aceder ao poder do Agora, e assim romper com o seu passado condicionado, ela terá uma escolha. Ninguém escolhe a disfunção, o conflito ou a dor. Ninguém escolhe a insensatez. Estes acontecem porque não há em si presença suficiente para desfazer o passado, nem luz suficiente para dispersar as trevas. Não está plenamente aqui. Ainda não está bem desperto. E, entretanto, a mente condicionada continua a dirigir a sua vida. De modo semelhante, se você for uma das muitas pessoas que têm problemas com os pais, se ainda guardar ressentimentos de alguma coisa que eles fizeram, então ainda acredita que eles tinham uma escolha – que eles poderiam ter agido de uma outra maneira. Parece-nos sempre que as pessoas têm uma escolha, mas isso é uma ilusão. Enquanto a sua mente com os seus padrões condicionados dirigir a sua vida, enquanto você for a sua mente, que escolhas tem? Nenhuma. Nem sequer está presente. O estado identificado com a mente é cruelmente disfuncional. É uma forma de insensatez. Quase toda a gente sofre dessa doença nos mais variados graus. No momento em que o compreender, deixará de haver ofensas. Como poderia você ofender-se com a doença de alguém? A única resposta apropriada é a compaixão. Então isso significa que ninguém é responsável por aquilo que faz? Não gosto dessa ideia. Se for dirigido pela sua mente, embora não tenha escolha, você continuará a ter de sofrer as consequências da sua inconsciência e criará mais sofrimento. Carregará o fardo do medo, dos conflitos, dos problemas e da dor. O sofrimento assim criado acabará por o forçar a sair do seu estado inconsciente. Suponho que aquilo que diz acerca da escolha também se aplica ao perdão. É preciso ser-se plenamente consciente e render-se antes de poder perdoar. "Perdão" é um termo utilizado há 2000 anos, mas a maioria das pessoas tem uma ideia muito limitada do seu significado. Você não poderá perdoar realmente, nem a si nem aos outros, enquanto basear a sua identidade no passado. Só através do acesso ao poder do Agora, que é o seu próprio poder, poderá haver verdadeiro perdão. Isso retira poder ao passado, e você compreende profundamente que nada do que algum dia fez, ou do que algum dia lhe foi feito a si, poderia tocar, nem sequer ligeiramente, a essência radiosa de quem você é. Todo o conceito de perdão se torna então desnecessário. E como chego eu a esse ponto da compreensão? Ao render-se ao que é, tornando-se assim plenamente presente, o passado deixa de ter qualquer poder. Você deixa de precisar dele. A presença é a chave. O Agora é a chave. Como saberei que me rendi? Quando deixar de precisar de fazer essa pergunta. Informações sobre palestras, cursos intensivos e retiros ministrados por Eckhart Tolle & Para saber como encomendar as cassetes áudio e vídeo que complementam O Poder do Agora: Guia para o Crescimento Espiritual, consulte: namastepublishing Para marcar uma reunião para um curso com Eckhart Tolle, contacte: Namaste Publishing Inc. P.O. Box 62082 Vancouver, British Colombia Canadá V6J 1Z1 Telefone: (00 1 604) 224-3179 Fax: (00 1 604) 224-3354 Índice Texto sobre o autor 2 Prefácio do editor da edição original 5 Prólogo 7 Agradecimentos 11 Introdução 13 1 - Você não é a sua mente 17 O maior obstáculo à iluminação 17 Liberte-se da sua mente 20 Iluminação: elevar-se acima do pensamento 23 Emoção: a reacção do corpo à sua mente 24 2 - Consciência: o caminho para sair da dor 29 Não criar mais dor no presente 29 Dor passada: desfazer o corpo de dor 30 A identificação do ego com o corpo de dor 33 A origem do medo 34 0 ego à procura da totalidade 35 3 - Entrar profundamente no agora 37 Não procure o seu eu na mente 37 Acabe com a ilusão do tempo 37 Nada existe fora do agora 38 A chave para a dimensão espiritual 39 Aceder ao poder do agora 40 Libertar-se do tempo psicológico 42 A insensatez do tempo psicológico 43 A negatividade e o sofrimento têm as suas raízes no tempo 44 Descobrir a vida subjacente à sua situação na vida 45 Todos os problemas são ilusões da mente 46 Um gigantesco passo em frente na evolução da consciência 48 A alegria do ser 48 4 - Estratégias da mente para evitar o agora 51 A perda do agora: a ilusão central 51 Inconsciência comum e inconsciência profunda 52 Desfazer a inconsciência comum 54 Libertar-se da infelicidade 54 Esteja onde estiver, esteja plenamente 57 A finalidade interior da jornada da sua vida 60 O passado não pode sobreviver na sua presença 61 5 - O estado de presença 63 Não é aquilo que você pensa que é 63 O significado esotérico da "espera" 64 A beleza surge na quietude da sua presença 64 Compreender a consciência pura 66 Cristo: a realidade da sua divina presença 69 6 - O corpo interior 71 O ser é o seu eu mais profundo 71 Transcenda as palavras 71 Descubra a sua realidade invisível e indestrutível 72 A ligação com o corpo interior 73 A transformação através do corpo 74 Sermão sobre o corpo 75 Ter raízes profundas no interior 76 Antes de entrar no corpo, perdoe 77 O seu elo com o não-manifesto 78 Abrandar o processo do envelhecimento 79 Fortalecer o sistema imunitário 80 Deixe que a respiração o leve para o interior do corpo 81 O uso criativo da mente 81 A arte de escutar 82 7 - Portais para o não-manifesto 83 Entrar profundamente no corpo 83 A fonte do chi 84 Sono sem sonhos 85 Os outros portais 85 O silêncio 86 O espaço 87 A verdadeira natureza do espaço e do tempo 89 A morte consciente 90 8 - Relacionamentos iluminados 92 Entre no agora a partir de onde quer que se encontre 92 Relacionamentos amor/ódio 93 A dependência e a procura do estado integral 94 Dos relacionamentos de dependência aos relacionamentos iluminados 96 Os relacionamentos como exercício espiritual 98 Porque é que as mulheres estão mais próximas da iluminação 102 Desfazer o corpo de dor colectivo feminino 103 Abandone o relacionamento consigo próprio 106 9 - Para além da felicidade e da infelicidade há a paz 109 O maior bem para além do bem e do mal 109 O fim do drama da sua vida 110 A impermanência e os ciclos da vida 112 Usar e abandonar a negatividade 115 A natureza da compaixão 118 Para uma ordem diferente da realidade 119 10 - O significado da rendição 124 Aceitação do agora 124 Da energia da mente à energia espiritual 126 A rendição nos relacionamentos pessoais 128 Transformar a doença em iluminação 130 Quando as calamidades acontecem 131 Transformar o sofrimento em paz 132 O caminho da cruz 133 O poder de escolher 135 "[O PODER DO AGORA] é o melhor livro que eu li nos últimos anos. Cada frase está cheia de verdade e de poder." DEEPAK CHOPRA Para a maioria das pessoas, a vida é composta de carências, insegurança, tristeza e sofrimento, a nível físico, psicológico ou espiritual. Mas basta reflectir um pouco para perceber que todos os nossos problemas são ou ressentimentos do passado ou preocupações com o futuro, ou seja, são projecções mentais que nos afastam do momento presente, do eterno Agora. É aí que se encontram a paz e a libertação. O PODER DO AGORA apresenta, de forma simples e acessível, os preceitos de um misticismo a um tempo clássico e contemporâneo, com influências das mais diversas escolas religiosas mas sem qualquer denominação ou filiação específica. Sob a forma de explicações concisas, perguntas e respostas e trechos para meditação, ensina como combater as ilusões da mente que nos levam a criar os nossos próprios problemas, conduzindo a uma tomada de consciência a nível profundo e a uma radical transformação da nossa visão do mundo. DESENVOLVIMENTO PESSOAL ISBN 972-711-415-6
Posted on: Sat, 24 Aug 2013 09:55:30 +0000

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