138 - O erro de Cristo. - O fundador do cristianismo acreditava - TopicsExpress



          

138 - O erro de Cristo. - O fundador do cristianismo acreditava que nada fazia que os homens sofressem mais que o pecado; este foi seu erro, o erro de quem se sente sem pecados, de alguém a quem faltava experiência a esse respeito! Desta maneira sua alma se encheu desta maravilhosa piedade por um mal que seu próprio povo que era o inventor do pecado, sofria raramente como de um grande mal! Mas os cristãos, uma vez a coisa feita, souberam dar razão ao seu mestre, santificaram seu erro para fazer dele uma "verdade". (Friedrich Nietzsche) Veja o leitor a comparação que melhor lhe quadrar, veja-a e não esteja daí a torcer-me o nariz, só porque ainda não chegamos à parte narrativa destas memórias. Lá iremos. Creio que prefere a anedota à reflexão, como os outros leitores, seus confrades, e acho que faz muito bem. Pois lá iremos. Todavia, importa dizer que este livro é escrito com pachorra, com a pachorra de um homem já desafrontado da brevidade do século, obra supinamente filosófica, de uma filosofia desigual, agora austera, logo brincalhona, coisa que não edifica nem destrói, não inflama nem regela, e é todavia mais do que passatempo e menos do que apostolado. (...) Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem... E caem! — Folhas misérrimas do meu cipreste, heis de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu tivesse olhos, dar-ia uma lágrima de saudade. Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar... Heis de cair. (Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis) Sem mais. Boa noite!
Posted on: Wed, 18 Sep 2013 02:58:06 +0000

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