14 - Expulsos, levando consigo dor e - TopicsExpress



          

14 - Expulsos, levando consigo dor e esperança cezarazevedo.br E, havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida. (Gn 3.24) A queda do homem foi um divisor de águas no relacionamento com Deus. Se antes não havia impedimento para o relacionamento íntimo entre eles, agora querubins com espadas inflamadas se interpunham no caminho, impedindo qualquer tipo de aproximação. A causa básica desta condição foi exposta séculos depois pelo profeta ao escrever: “... as vossas iniquidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça” (Is 59.2). Mesmo que a iniquidade não fosse o impedimento para o relacionamento entre Deus e Suas criaturas, ainda assim, a santidade divina o coloca como um ser absolutamente separado de todas as Suas criaturas e exaltado sobre elas (Thiessen, 1989). O apóstolo João expressou esta santidade nos seguintes termos: “esta é a mensagem que dele ouvimos e vos anunciamos: que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma” (I Jo 1.5). Só conseguimos compreender esta verdade se olharmos para dentro da trindade. Sabemos que Deus coexiste em três pessoas: o Pai, o Verbo e o Espírito Santo. Acerca do Pai nós lemos: “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer” (Jo 1.18). Com esta revelação dada pelo Senhor Jesus podemos concluir que toda e qualquer declaração nas escrituras que mencionam que Deus foi visto por alguém, este que se apresentou foi o Verbo, jamais o Pai. O Espírito Santo, por Sua própria natureza, não poderia ser visto por nenhuma criatura senão quando manifestado em alguma forma corpórea, como foi o caso da pomba no batismo de Jesus Cristo (Mt 3.15) e das línguas como de fogo no cenáculo onde estavam os discípulos após a ressurreição (At 2.3). Alguém poderia se perguntar: se há um só Deus, porque o Verbo poderia ser visto, enquanto que o Pai não? Por que, de alguma forma misteriosa que não compreendemos de todo, o Verbo faz um processo de mediação entre as criaturas e o Pai. Este procedimento se explicaria como possível porque o Cordeiro foi dado como morto desde a fundação do mundo (Ap 13.8), ou seja, quando Deus decidiu-se por criar os céus e a terra, com todo o Seu exército, já havia avaliado que a morte do Cordeiro seria condição necessária para a criação se materializar. Diante desta necessidade o Verbo assumiu que haveria de se esvaziar da Sua divindade por meio do Seu próprio aniquilamento (Fl 2.6,7), ato este que teria ocorrido já no instante inicial da criação, razão porque se declara que o Cordeiro estava morto desde a fundação do mundo (Ap 13.8). O que a queda do homem fez foi agravar este afastamento da criatura do seu Criador, assim o primeiro casal foi posto para fora do jardim do Éden. Voltemos por um instante para dentro do jardim. Está escrito que na viração do dia que o Senhor Deus vinha ao encontro de Adão (Gn 3.8). Temos aqui a junção de dois nomes: Jeová Elohim, o primeiro nome está associado à soberania, enquanto que o outro ao poder criador. Deus que tudo criou estava perfeitamente habilitado como Senhor para tratar com Suas criaturas em quaisquer que fosse os termos. O que é preciso ressaltar é que, antes da queda, Deus também teve outros encontros com Adão, como, por exemplo, quando este foi instruído a nomear todos os animais (GN 2.19). E qual foi a base do relacionamento entre eles? Sabemos que o homem fora criado a imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26), formado por espírito, corpo e alma (Gn 2.7). Temos a tendência de pensar que havia um contato visual entre o homem e Deus, contudo outro aspecto do jardim nos chama atenção, diz respeito ao conjunto das árvores ali existentes. Leiamos o texto: E o SENHOR Deus fez brotar da terra toda árvore agradável à vista e boa para comida, e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal... E ordenou o SENHOR Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás. (Gn 2.9,16,17). Observe que o agradável e saboroso está associado a todas as outras árvores e não em relação à árvore da vida ou do conhecimento do bem e do mal. Assim, o usufruto de tudo quanto estas árvores podiam oferecer atendia a necessidade do corpo. Por outro lado não havia nenhuma limitação para alimentar-se da árvore da vida, ainda que ela não estivesse associada a nenhum sabor. Esta árvore, por não ter gosto algum, alimentava exclusivamente o espírito do homem. Por fim temos a árvore proibida, esta, por sua vez, fazia a conexão do imaterial com o material e tocava diretamente a alma humana. O que a árvore proibida nos ensina é que toda a interação do homem com o restante da criatura deveria ser mediada pela obediência estrita à palavra de Deus. Por exemplo, mesmo tendo a capacidade de alimentar-se da carne, o homem só podia comer dos vegetais (Gn 1.29), sendo a carne tão somente liberada após o dilúvio (Gn 9.3). O que aprendemos é que a criação liberava potencial humano que poderia ser canalizado para uma infinidade de opções, contudo, qualquer que fosse esta escolha, ela deveria ser mediada pela palavra de Deus. O que nos permite concluir que o relacionamento do homem com Deus no jardim do Éden, mesmo antes do pecado, era feito por meio da fé, ou seja, da confiança implícita da palavra de Deus. O que nos permite concluir também que Deus não estava necessariamente sendo visto pelo homem, mas ouvido por este e sendo reconhecido como o Deus Criador e Senhor. O que mudou com a queda? Primeiro e fundamentalmente a rebelião do primeiro casal comprometeu toda sua descendência, assim, os nascidos teriam necessariamente que cruzar pela experiência da morte nos seus três estágios: nascidos já separados do Criador (Rm 3.23), morrendo fisicamente (Gn 3.19) e, após o juízo final (Ap 20.11), sendo lançado no lago de fogo e enxofre, que é a segunda morte (Ap 20.15). Assim, em contraposição ao interior do jardim, ser expulso dele significa ter de enfrentar toda a consequência do juízo divino com o viés da completa impossibilidade de voltar ao estado original, figurado pela presença dos querubins guardiões com suas espadas flamejantes (Gn 3.24), todavia algo mais acompanhou o primeiro casal, mesmo sendo expulsos do Éden. Em relação aos seus corpos nada poderia ser feito senão experimentar a morte física (Gn 3.19), o que implica em dizer que o corpo está indissoluvelmente associado às condições exteriores, foi assim no jardim, o é também desde a queda, pois tudo que existe no nível dos sentidos foi criado especificamente para atender as necessidades do corpo. Acerca das condições do mundo após a queda está escrito: Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, a esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. (Rm 8.19-21) Por outro lado, assim com o corpo tem cinco sentidos, estes mesmos elementos estão presentes no âmbito da alma. Um dos principais sentidos do corpo é o ouvido, aplicado à alma está escrito: “Quem tem ouvidos para ouvir ouça” (Mt 11.15). No interior do jardim o homem tinha de ter ouvido Deus e não se alimentado da árvore proibida (Gn 2.17), em saindo dele, Adão levou consigo a promessa que soou no Éden (Gn 3.15) e por ter confessado sua fé ao trocar o nome da mulher para Eva – mãe de todos os viventes (Gn 3.20), Adão demonstrou que, mesmo no mundo submetido a corrupção, ainda assim prevalecia a necessidade de ouvir a palavra de Deus e depositar nesta mesma palavra a sua fé. Assim, o exercício da fé no âmbito da alma deveria se propagar por todos os demais sentidos, mediandos pela palavra de Deus, como por exemplo os olhos, que precisam serem abertos para que possamos compreender a esperança de nossa vocação, a riqueza que temos entre os santos e a sobreexcelente grandeza do poder de Deus (Ef 1.18,19). Por fim temos a própria árvore da vida que não ficou restrita ao jardim do Éden, contudo perdura até hoje e por todo o sempre, apenas mudando sua natureza, como está escrito: “... Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4.4). Se no interior do jardim não havia nenhuma restrição a ela, ainda que não tivesse em si mesmo o sabor que o corpo gostaria de sentir, ela é a expressão do incomensurável amor divino, cujo convite mais evidente foi expresso pelo Senhor nos seguintes termos: Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve. (Mt 11.28-30) Adão recebeu para si este convite e o levou para todas as gerações que vieram após ele, tanto é verdade que temos o registro da promessa divina da vinda do redentor por meio da mulher que haveria de lhe dar a luz. Se por um lado foi trágico o desfecho do jardim, por outro ele nos enche de esperança porque podemos conhecer quão grande é o amor de Deus por nós (Jo 3.16).
Posted on: Thu, 13 Jun 2013 20:58:30 +0000

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