A DESAFRICANIZAÇÃO INSTITUCIONAL DA CULTURA BRASILEIRA NA ERA - TopicsExpress



          

A DESAFRICANIZAÇÃO INSTITUCIONAL DA CULTURA BRASILEIRA NA ERA PÓS-MODERNA Por Carlos Henrique Machado Freitas Antes de falar da escassez do discurso da redescoberta do pós-modernismo e outras categorias subsequentes como, por exemplo, o pós-rancor, na nova metanarrativa, é preciso conhecer um pouco a história da cultura brasileira e o dinamismo das filosofias do capitalismo tardio ou terceiro ciclo do capitalismo, também chamado de neoliberalismo cultural. O pós-modernismo, a partir de uma história concreta, surge como uma categoria de valores na década de 1960 na tentativa de reescrever a nova história da cultura brasileira em detrimento da massa de valores existente na verdadeira sociodiversidade que historicamente significa a própria cultura brasileira. A filosofia neomodernista foi na verdade uma mistura de filosofias do capitalismo e seu discurso ganhou relevância nos espaços institucionais quando a indústria cultural, a partir de um plano teórico, criou os “movimentos culturais” chamados “revolucionários” para não ficar numa elaboração abstrata. No caso da indústria fonográfica, que nos permite conhecer melhor determinados símbolos do pós-modernismo do século passado, a Jovem Guarda, a Tropicália e a Bossa Nova representaram, cada uma com sua categoria, uma forma concreta de determinar uma nova qualidade ou uma nova virtude a partir dos novos atores hegemônicos que surgiam na indústria cultural. Eric Hobsbawn no livro, “A História Social do Jazz” explica que esse fenômeno aconteceu em período idêntico em países ocidentais… Que o procedimento mercantil que desaguou também no Brasil em período semelhante, é absolutamente factível. Hobsbawm traz uma perspectiva na esfera da vida dos jovens que determinou a condição de mudança comportamental destes no mundo todo, inseridos pela primeira vez no mercado de trabalho. Ali se inicia uma outra exigência aplicada pelos jovens com autonomia financeira diante da determinação de seu próprio processo cultural e se rebelam contra boa parte da formalidade opressora impostas a eles pela sociedade naquele momento. A indústria cultural se apropria desse momento, sobretudo transforma normas e ideologias em mercado de ideias, de comportamentos que viria a dar suporte, bastante eficaz por sinal, ao domínio político dessa reconfiguração da cultura de massa. Nesse mesmo período houve uma aparição generalizada de conceituações e técnicas que imediatamente anulavam toda a interpretação multidisciplinar fomentada, principalmente pelos movimentos populares protagonizados pelas camadas mais pobres da população brasileira, a mesma que conduziu e estabeleceu as fusões culturais no Brasil, sobretudo na música, tendo a cultura de matriz africana como sua maior representatividade na fusão das três raças que determinaram a miscigenação cultural brasileira. Para manter as ideias pós-modernas dentro de um quadro híbrido e canalizar isso em modernidade líquida nas novas características da indústria cultural, o Brasil assistiu a um dos quadros mais negativos de segregação racial que se deu nesse contexto. Simplesmente a música de matriz africana no Brasil desapareceu das rádios no mesmo período em que o vale-tudo pós-moderno dominou a produção e a difusão, interessado somente nos novos consumidores de seu mercado, inserindo um contexto de hiperinformação seletiva que degenerava a representação e as referências da cultura da base social brasileira para forjar uma realidade pós-moderna que, muito mais que romper com a antiga vanguarda, impunha determinados critérios-chave a essa estética pós-moderna. Quem fizer uma pesquisa minimamente apurada, observará como o movimento pós-moderno liquidou a participação dos negros na vida musical brasileira nos circuitos institucionalizados, na maior segregação racial em nome da revolução dos negócios da cultura. A NOVA SEGREGAÇÃO DO PÓS-MODERNISMO EDITADA COMO PÓS-RANCOR Com a chegada de Fernando Henrique Cardoso ao governo, o neliberalismo cultural, fundado dentro dos institutos e fundações das grandes corporações, criou uma nova página da história segregacionista. Era uma nova fase de revolução dos negócios da cultura. O marketing cultural se tornou o grande sonho da estratégia de inovação. E isso, somado à existência do sistema na zona central do governo FHC, praticamente não resultou em zonas de confrontos, ou seja, não havia institucionalmente quem questionasse essas ideias. Talvez tenha sido o primeiro palco, por exemplo, do “Itaú Insigths” protagonizado pelo Itaú Cultural, o que permitiria que a cultura fosse explorada não somente dentro das fundações e institutos, mas também em redes, criando novos espaços de exploração institucional dentro das redes sociais credenciada pelo empreendedorismo social. PARA ENTENDER A MENTIRA DO MARKETING CULTURAL NA GESTÃO CORPORATIVA “Os papeis dominantes, legitimados pela ideologia e pela prática de competitividade, são a mentira, com nome de segredo de marca; o engodo,com o nome de marketing; a dissimulação e cinismo, com os nomes de tática e estratégia. É uma situação na qual se produz a glorificação da esperteza, negando a sinceridade, e a glorificação da avareza negando a generosidade. Desse modo o caminho fica aberto ao abandono das solidariedades e ao fim da ética, mas, também da política. Para o triunfo da novas virtudes pragmáticas, o ideal de democracia plena é substituído pela construção de uma democracia de mercado, na qual a distribuição do poder é tributária da realização dos fins últimos do próprio sistema globalitário. Estas são as razões pelas quais a vida normal de todos dias está sujeita a uma violência estrutural que aliás, é a mãe de todas a violências” (Milton Santos – por uma outra globalização) Por isso um número tão expressivo de pessoas se propôs a gerar renda aos chamados grupos de risco. Tudo feito dentro da mesma visão do neoliberalismo responsável, nas áreas das empresas, por levar tal benefício às classes sociais menos favorecidas, o que se revelou um enorme engodo. Na verdade a ideia que motiva o “novo empreendedorismo social” na ciência criadora, fundada agora nos coletivos culturais, são as chamadas vivências internas editadas na mesma forma que as corporações para compartilhar “experiências, inovações” em um determinado estímulo ao colaboracionismo espontâneo. A isso chama-se de “pensamento fora da caixa”. Ou seja, caminhou-se do salão da Casa Grande para a cozinha na intenção de, através da “inovação do processo” chegar-se aos terreiros. Na realidade aí não existe um olhar diferente do mundo que está à nossa volta. Por exemplo, quantos dos que participaram do último Revellion de Copacabana do Rio de Janeiro se lembraram que aquela festa e todos os seus ritos, inclusive o das pessoas se vestirem de branco, têm origem nas manifestações das religiões afrobrasileiras? Poucos provalmente, até porque a essas religiões foi aplicada uma vergonhosa segregação planejada e coordenada pelos grupos dos trainees do Brand Intertainment para que, na ampliação do repertório do turismo cultural, os tambores e a própria manifestação em si dos terreiros, secularmente tradicionais no Brasil nas praias na virada do ano, fossem proibidos nessa data. Assim, as classes dominantes podiam beber seu champagne e celebrar a chegada da era do ouro sem ter que conviver com o repertório dos cantos mágicos das religiões de matriz africana que tanto encantam o povo brasileiro. É constante e precisa a busca por oxigenar o lado business da cultura. E para o negócio fluir e não haver riscos, o empreendedorismo é cada vez mais agressivo para que os investimentos sejam cada vez maiores e que o lucro seja o ator fundamental. Não existe nenhum mistéiro em vincular esse novo status aos microssistemas presentes nos coletivos com visões empreendedoras e suas franquias, como, aliás, é sugerido pela revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios, uma logo na vitrine e um sistema nas mãos. Todos se baseiam numa coleção de cartas, sentenciam a morte da diversidade espontânea e programam virtualmente uma integração de conteúdos relevantes e úteis apenas aos novos clubes. E, com certeza, na outra ponta, represam e marginalizam a produção cultural espantânea e a presença de negros nesse “novo motor do conhecimento”. Essa política está tão constituída de cima para baixo, que a Ministra Marta Suplicy, percebendo que esses “novos donos do tempo” haviam criado um palco específico para construir a vida concreta da urgência da classe dominante, se viu obrigada a lançar edital especificamente e acertadamente, protagonizados, desde a produção à realização, por negros sem, no entanto, ter que enfrentar a vigília de um juiz que tentou privar totalmente os negros de participarem, mesmo em fração mínima, da construção da cultura brasileira nas relações institucionais. Para terminar, gostaria de alertar que a nova estratégia é aprimorar a experiência de segregação e contruir as mesmas paisagens que foram desenhadas tanto na década de 1960 quanto no período que se iniciou na era FHC, para se aplicar nos lugares públicos centrais nas cidades e quiçá nas periferias as mesmas fortalezas institucionais, agora chamadas de pós-rancor, expandir assim este pensamento e transformar via programa voluntário, as ações espontâneas que marcam fortemente as expressões das manifestações negras no Brasil e forjar um novo fundo patrimonial de amigos da poli. Soma-se a isso o pensamento conservador e expansionista das religiões neo-pentecostais que perseguem terreiros muitas vezes usando a violência em todo o Brasil e está formada A DESAFRICANIZAÇÃO INSTITUCIONAL DA CULTURA BRASILEIRA NA ERA PÓS-MODERNA. Mas o que isso significa na vida da sociedade brasileira? Pouco ou simplesmente nada. A priori essa força absolutista não tem contrato com a realidade. As dimensões simbólicas são muito maiores que a violência estrutural. A nossa história registra isso. A cultura negra no Brasil sempre encontrou um ponto irradiante de fuga para sustentar e cada vez mais abrir caminhos contra a supressão cultural da africanidade e usar a própria linguagem para ampliar a dimensão da solidariedade contra os meios dominantes, porque, na base da cultura negra estão autoconstituídas as novas normas de uma civilização tropical, como a de realizar a cultura através dos intercursos e das interfecundações, com a presença tangível da afetividade. E se o Estado não entender isso, se manterá dentro de um processo cada vez mais deslocado da sociedade, portanto quem perderá sempre são as formas representativas do Estado, nunca a sociedade, pois ela tem seu próprio modo cerimonial de afirmar diretamente que a dominação e sujeição cultural não faz parte do que é realizado em comunhão há alguns séculos neste país. É bastante interessante a leitura que faz o etnomusicólogo congolês, Kazadi Wa Mukuna que escreveu o livro Contribuição Banto na Música Popular Brasileira. Ela nos traz com exatidão a diferença entre o mundo europeu muito impregnado nas nossas instituições e o mundo africano plenamente assimilado pela sociedade brasileira. “Esse conceito se projeta aos dias atuais no Brasil: “o europeu herdou a filosofia: eu penso, eu sou (físico e individual). O africano diz eu pertenço, portanto eu sou, no sentido (físico e conceitual); minha existência só tem significado enquanto eu e você estamos; eu sou porque você é, estou aqui porque você está”. Por isso nas “insurreições” que vem acontecendo Brasil afora, marcadas pela despolitização e por uma moral enviesada, não se vê a presença de negros. O que se vê é uma massa formada pela classe média que, com a perda dos mitos da cultura de massa, vive uma orfandade inédita e, sem referência, está à busca de si mesma. Isso significa que se transforma em presa fácil das “pautas sociais” vigentes no receituário pós-rancor comandado por pós-modernistas tardios tentando reviver a contracultura da década de 1960 para atualizar seus próprios caixas. trezentos.blog.br/?p=8051
Posted on: Fri, 02 Aug 2013 21:11:16 +0000

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