A Leitura na Sociedade Contemporânea Elizandra Sabino - TopicsExpress



          

A Leitura na Sociedade Contemporânea Elizandra Sabino Marques Em uma entrevista à revista Veja em 2001, o crítico e professor de Literatura norte-americano Harold Bloom posiciona-se em favor da leitura "erudita" e se autoproclamou guardião solitário da cultura clássica, exaltando os grandes nomes da literatura Ocidental como Shaskespeare, Miguel de Cervantes, Jane Custen e Charles Dikens, que por serem autores canônicos, conseguem sobreviver, nos tempos mais difíceis, de uma monocultura mundial, sob a forma de adaptações para as mídias visuais. Por outro lado, outros, como Dante Alighieri, John Milton, James Joice, Marcel Proust e Franz Kafta,que, por serem pouco lidos, o crítico teme que possam fazer parte de um acervo esquecido e desconhecido para as novas gerações de leitores que estão se formando. Outro, por quem ele teme, é o autor português contemporâneo, José Saramago, que utiliza uma linguagem por demais rebuscada e, portanto, de difícil acesso para os leitores menos experientes. Harold Bloom toma a Bíblia como modelo de literatura clássica, considerando-a como uma vasta antologia da literatura de toda uma cultura, porque o texto original publicado há tempos atrás é de um trabalho magnífico, ressaltando que o narrador, certamente, é um dos maiores contadores da História do Mundo Ocidental. Porém quando lhe perguntam se os livros da série Harry Potter não é uma boa porta de entrada e um meio de despertar nas crianças o interesse pela leitura, ele se mantém inflexível em seus conceitos por acreditar que esta série é a antítese do que se deve ler: "a linguagem é horrível e o livro inteiro é escrito em frases desgastadas". Bloom se preocupa com todas estas tendências e novidades que vêm se propagando nas narrativas atuais como, por exemplo, a linguagem simples e de fácil circulação a qualquer leitor, o que pode ocasionar o esquecimento dos cânones literários, "pois é só neste tipo de leitura se encontra a sabedoria que é o tipo mais precioso de conhecimento", diz Bloom. Esta entrevista foi publicada há mais de dez anos, e certamente nunca foi tão atual, a preocupação do crítico representa uma realidade do mundo contemporâneo, em que as informações chegam em tempo real em nossas casas (a televisão e as outras mídias enfatizam o facilitário e o imediatismo), proporcionando uma visão reducionista sobre os fatos, o que não requer esforço algum de reflexão, de pensamento, de raciocínio - estamos perdendo a capacidade de ver o mundo com nossos próprios olhos. Com essa propagação de informações tão onipresentes na sociedade pós-moderna, somos dirigidos e controlados pelo poder da mídia e do capitalismo que são antagônicos ao pensamento de Bloom. Nessa sociedade de valores essencialmente fluidos, a produção literária nunca foi tão devorada pelo mercado que recusa as narrativas longas e complexas, o que concordamos com Bloom; mas por outro lado ele embrenha-se no conceito de juízo de valor, revelando-se implacável contra a literatura de entretenimento ou de massa. Porém, se fazemos parte de uma sociedade com pouco hábito de leitura, torna-se, para o leitor "iniciante", uma experiência dolorosa, a leitura de autores tão complexos como os citados por Bloom. Se o leitor forma-se na infância, o papel do professor consciente é conduzir a criança a ler os livros de sua escolha e o que lhe está mais acessível em relação a sua formação intelectual, como foi o caso do escritor pernambucano Gilvam Lemos que em uma entrevista à Cult, declarou que começou a se interessar pela leitura através das estórias em quadrinhos, mas aos onze anos, quando leu o "O Conde de Monte Cristo" foi o bastante para largar de vez as estórias em quadrinhos. Sendo assim, ao expormos duas visões tão adversas sobre a formação do leitor, podemos concluir que a leitura, seja da série Harry Potter ou dos clássicos de Shaskespeare podem, de alguma forma, produzir sentimentos diversos no leitor, e, ao se tornar um leitor "maduro" terá a capacidade crítica de distinguir as obras da Série Vaga- Lumes das estórias de Lobato; os "romancetes" da Série Júlia dos romances de José de Alencar , Machado de Assis ou Clarice Lispector, mencionando apenas os grandes nomes da Literatura Brasileira. Somente muita leitura proporcionará experiência, maturidade e crítica ao leitor. Não basta ler quando o espírito não está devidamente preparado.
Posted on: Wed, 28 Aug 2013 23:46:43 +0000

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