A NOVA PROPAGANDA Uma divisão possível quanto ao tipo de - TopicsExpress



          

A NOVA PROPAGANDA Uma divisão possível quanto ao tipo de propaganda e que nos permite avançar para um conceito operatório é a que parte dos pressupostos da “Propaganda de Guerra” e que nos conduz a três acepções deste conceito: 1.Propaganda como acção de guerra tradicional, e com a mesma importância que é dada aos diferentes ramos das Forças Armadas, actuando a nível psicológico. Teríamos assim a propaganda ao mesmo nível da aviação ou da marinha; 2. Propaganda, como acção sobre os mecanismos de influência inconscientes, tal como operam na Comunicação Social (media, cinema, diversão etc.). Nesta acepção a propaganda está ao serviço dos diversos poderes dentro de um Governo e não só da Forças Armadas; 3. Propaganda como acção sobre um dado sistema de valores, militares e civis, provocando como que uma “guerra dos sentidos”; é nesta acepção que no decorrer da Guerra Fria, a URSS, defendia a”paz” e os EUA os “Direitos do Homem”, como forma de seduzir as diversas audiências. A NOVA PROPAGANDA A Persuasão Militante, da qual já falámos, constitui um conceito que, na sua prática, torna mais forte e dialogante a sociedade democrática que todos desejamos construir. Esta tipologia não anula as velhas fórmulas da propaganda, bem refrenciadas nos anos 20 por Walter Lippman e nos tempos que correm, por Chomsky e Herman. É a propaganda como fábrica de opinião pública. Aliás, deve-se a Walter Lippman uma das ideias essenciais duma teoria da propaganda moderna que provém dos antigos modelos da predicação e da doutrinação. Para Lippman o cidadão americano não constrói (e referimo-nos ao ano de 1922) mais as suas opiniões no seu meio (na sua envolvente, no seu contexto) interpessoal, nos grupos de proximidade ( a família, o bairro, nas relações de trabalho). Ele está isolado no seu casulo urbano que o conduz a receber por empréstimo opiniões, saberes, informações... de fontes distantes e não-interactivas, que são os media. E estes cumprem perfeitamente esta função dando ao cidadão o que Lippman chamou um «pseudo.ambiente» cognitivo, que vai pesar na Opinião Pública conduzindo os cidadãos a aceitar as grandes direcções e as políticas que lhes propõem. Chomsky e Edward Herman inspiraram-se neste autor quando escreveram em 1988 “Manufactoring Consent” que por sua vez inspiraram investigadores europeus. Nos dias de hoje, a nova propaganda incubada em laboratório, gerada pela Guerra Fria e nascida (ou seja detectada, estudada e tornada mais visível) pela “Guerra Preventiva” e a “Guerra ao Terror” (tipo de guerra que tem os seus começos nos anos 80, embora, historicamente remonte ao Séc.V), determina as actuais “democracias” e tem quatro traços característicos: « 1. Repousa sobre e resulta da falta de debate sobre as crenças a reforçar ou a disseminar; 2. Exerce-se sobretudo no quadro das actividades não explicitamente políticas e ideológicas (informações, crónicas, entretenimentos dversos); 3. Aplica técnicas de influência não “visíveis”, influência tanto mais eficaz quanto mais inconsciente e não “visível” forem; 4. Não pode ser directamente imputada a jornalistas ou profissionais “desonestos”, “comprados” ou “telegiados”: ela é função do próprio sistema mediático tal qual ele foi (liberalmente) construído. O tratamento das «notícias» está longe de ser o único nervo da guerra da propaganda moderna, que se prolonga em tempo de paz. Mas a grande imprensa do “sistema mediático” conduz o seu rabalho visando modelar o espírito do público, unificar a opinião e fazer aceitar um ponto de vista conformista . Estas considerações são necessárias dado que as definições clássico/lexicais não nos ajudam a clarificar, isolar e operacionalizar o conceito, até porque a propaganda está conotada negativamente, o que nos pode conduzir a uma terrível confusão de valores. A propaganda começou por ser uma concepção da verdade, esteve ao serviço de pretensas virtudes. Desde logo que a noção de propaganda não teve no seu início um carácter pejorativo. A propaganda era feita para convencer pela persuasão. Esta palavra está hoje dotada de uma significação negativa. Houve um deslizar do sentido da palavra propaganda para o pejorativo, pelo menos por duas razões. A primeira tem a ver com a evolução da nossa cultura para um individualismo, que analizaremos mais à frente.. Em segundo lugar diz respeito às grandes tentativas de persuasão dos começos do Sé. XX, associadas a práticas muito duvidosas (mistificação, manipulação, “montagens”, etc.) que perverteram o sentido da palavra. Neste sentido a comisão Creel é de uma grande imoralidade (desinformação e manipulação aliadas à mentira). Não nos cansamos de referir que há formas democráticas de trabalhar a opinião: a persuasão pela argumentação e a contra-argumentação. O debate público em democracia é o motor por excelência das mudanças de opinião que conduzem à renovação política. Só que a argumentação pode-se inscrever num trabalho anti-democrático sobre a opinião e isto acontece quando qualquer “corrente” ou algumas “correntes” têm o monopólio nos media e porque dispõem do monopólio da argumentação pretendem representar uma opinião (mesmo sendo minoritária) fazendo «pedagogia» e dando «explicações» junto dos cidadãos mal informados que apenas dispõem de uma palavra: o voto. Por definição a propaganda nos dias de hoje, “esconde-se”, não aparece como tal, contrariamente á actividade persuasiva, no sentido que os Gregos nos legaram; utiliza meios mais ou menos duvidosos e algumas vezes imorais. O que não é o caso da argumentação. Precisando melhor esta questão, diremos que a propaganda a coberto de pretensas verdades, de meios duvidosos e processos de influência inconsciente procura “determinar” uma população. Os media e mesmo os jornalistas que se julgam honestos, fazem também propaganda, quando negam a sua missão persuasiva ao serviço de interesses e modelam as opiniões duma população pelo menos de duas maneiras: por uma forma doce de desinformação, a desinformação sem mentira que consiste na maior parte das vezes em apresentar apenas as informações que vão num sentido particular de interesses e não divulgar as informações apoiando outros pontos de vista. Por exemplo,no caso do julgamento de Milosevic apresentam os argumentos da acusação e escamoteiam ou caricaturam a argumentação do réu. Os tiranos e os genocidas devem ser julgados e condenados, outra coisa é serem humilhados. Alguém conhece as teses da defesa de Milosevic? Em segundo lugar eles (e não pomos em causa a sua honestidade, aqui o que está sempre em causa é o sistema mediático) fazem propaganda pelo manejo de influências inconscientes, influência estas que têm sido estudadas e testadas pelos cientistas sociais. Portanto a opinião trabalha-se. Explicarnos-emos melhor em seguida, mas vamos adiantando que há condicionamento quando associamos sistematicamente um valor implícito a um conceito sem que este valor tenha sido argumentado. Por exemplo o nosso conceito dos «Direitos do Homem» condensa todo o seu valor num ou dois enunciados. Esquecemo-nos, por exemplo do direito ao trabalho à saúde e à educação. Apresentaremos outros exemplos. Por isso é necessário precisar ou modificar as definições mais clássicas. Sociólogos e Psicólogos Sociais têm avançado numa maior precisão do conceito, insistindo sobre o carácter enviezado das opiniões dessiminadas pela propaganda. Esta precisão é menos útil do que à primeira vista podia parecer já que alguns factos a propósito dos quais nos podemos enganar, podem ser exactos ou inexactos: o défice das nossas contas públicas é de 4% ou de 4,5%?; graças ao FMI a Argentina resolveu os seus problemas: verdadeiro ou falso?: o desenvolvimeto económico trás consigo o respeito pelos Direito do Homem), numerosos factos, afirmações e opiniões, essenciais, seja no debate público, como nas representações da vida social e política que elaboramos, e que não podem ser julgadas senão evocando o critério do valor da verdade, o único que permite afirmar se uma ideia é ou não enviezada. O que é verdadeiro ou falso, o que é justo ou injusto, o que é o bem ou o mal? Estas afirmações são propagadas de maneira muitas vezes deliberada e sistemática pelos aparelhos partidários ou instituições socias. Como podemos provar que as ideias assim propaladas são ou não enviezadas? A que conclusões chegamos? Nos dias de hoje não é pelos conteúdos disseminados que podemos definir a propaganda, mas sim pelas características do próprio processo de disseminação, ou seja, pelas práticas que realizam a disseminação em si e aos processos solicitados aos membros de uma população, contornando a liberdade de construção de ideias próprias de uma deliberação consciente, impossibilidade a contra-argumentação e permitindo a desinformação tornada corrente no nosso universo informacional. Assim surge um novo conceito de propaganda, que repousa sobre a solicitação frequente do processo de influência, ladeando a argumentação e a contra-argumentação, assente em processos inconscientes, fora do controlo das pessoas. É a PROPAGANDA OBSCURA essencialmente definida pela disseminação de afectos, valores e ideias, não pela argumentação, mas pela solicitação de processos de influência inconscientes. A falta de argumentação da ideias e opiniões disseminadas é condição necessária. Com estas técnicas, apuradas durante 50 anos, consegue-se modular as nossas opiniões, padronizar o consentimento. Um conceito pode ser mobilizável com fins de influências inconscientes, quando não é submetido ao controlo da deliberação. No condicionamento um conceito (uma ideia, uma personagem...) é muitas vezes associado a um elemento da sua envolvente que transporta uma conotação particular (positiva ou negativa), adquirindo um pouco essa conotação. Assim, se repetidamente sou exposto, por exemplo, à palavra “funcionário” associada à palavra “privilégio” nas mesmas frases e independentemente do que penso dos funcionários e da realidade dos privilégios, o conceito de “funcionário” adquirirá na minha própria semântica, um pouco da conotação negativa transportada pela palavra “privilégio” Este exemplo, actual na realidade portuguesa, é tanto mais interessante, já que é pouco “inculcado” o caso do “assalariado privado” associado a “desvantagens”. Este fenónemo, que é devidamente explorado pelos “técnicos das influências inconscientes”, pode ser associado a um logro ou isco cognitivo: quando mais tarde estiver em contacto com um funcionário a palavra PRIVILÉGIO estará mais acessível na minha semântica para interpretar a pessoa apresentada. Mas o tratamento das “notícias” está longe de ser o único nervo da guerra em matéria da propaganda moderna. Este fenónemo começou a ser estudado nos EUA nos anos 50. Apresentava-se a estudantes comprometidos (engajados) na pesquisa, projectados numa tela diversos cartões de visita com os apelidos, digamos, de Rose e de Mary que sobressaiam de um emaranhado de palavras entrelaçadas (por exemplo servindo de fundo gráfico dando uma certa estética), às quais as nossas estudantes, apesar de tudo, não davam atenção, pois quando interrogadas não se recordavam, até porque o que lhes era solicitado era a leitura dos prenomes. Um dos cartões continha palavras entrelaçadas muito pouco agradáveis (acidente, cadáver, guerra, moribundo) e foi lido por Rose; no outro caso, o de Mary, as palavras entrelaçadas evocavam acontecimentos particularmente alegres (festa, presente, amor). Quando deixavam a sala de projecção, as estudantes eram confrontadas com um desconhecido. Elas consideravam esta desconhecida mais antipática quando dizia chamar-se Rose e mais simpática quando dizia chamar-se Mary. Este é um caso concreto de condicionamento: no contexto da apresentação de uma palavra, de um objecto ou de um conceito... há qualquer coisa de sistematicamente positivo ou de sistematicamente negativo. A palavra, o objecto ou um conceito “reúne”, de alguma maneira, um pouco deste valor, pela simples asociação inconsciente. Estas experiências e tais efeitos, foram regularmente repetidos. Imagine-se uma sociedade que constantemente está a ser “condicionada”.Beauvois apresentou em Julho deste ano, nas manifestações do ATTAC, o seguimte exemplo de condicionamento e que nós adaptamos à realidade portuguesa: imagine ue lhe apresento ua lista de palavras da qual consta a palavra aventureiro. Imagine também que os conceitos que utiliza para compreender o mundo se organizam em “montinhos” ou em “pilhas”, dispostos de qualquer maneira, uns sobre os outros. A palavra aventureiro porque a acaba de a ler e de a compreender (Ou seja, foi “tratada” no sua cognição), passa por cima da “pilha” na qual ela se encontra, mas não tem consciência de tal facto. Por mero acaso encontra um velho amigo, o Rui, que já não via há muito tempo e que o informa que vai voltar ao alpinismo,que negligenciou há mais de 15 anos. Para tal, solitariamente, treina sózinho para se pôr em forma e espera vir a subir em pleno Inverno o lado Norte da Serra da Estrela. Você poderia pensar que o seu amigo é inconsciente e com uma boa dose de loucura. Mas não, considera-o, aventureiro. Porquê? Porque habitualmente, para encontrar um conceito que permita compreender o mundo, começamos pelo cimo da “pilha”. E assim, Sérgio, surge-lhe como um velho amigo, formidável e que adora a aventura, o que não seria o caso se o considerasse inconsciente e com uma boa dose de loucura. Neste caso assim acontece, porque na “pilha” de palavras-conceito que me deram a ler-interiorizar não aparece a palavra “inconsciente”. Caimos com relativa facilidade no logro cognitivo. A apresentação de uma palavra, dum conceito, torna mais provável a utililização desse conceito. Esta questão revela-se da maior importância Repare-se neste título dos jornais: «Bush compara pela primeira vez os insurrectos no Iraque aos terroristas do 11 de Stembro» O termo “insurrecto” é o que Lasswell denominou como símbolo negativo já que representa uma pessoa que se empenha em hostilidades armadas contra um governo estabelecido. Segundo Max Weber o Estado detém o monopólio sobre o uso legítimo da força. Portanto o “insurrecto” não tem qualquer legitimidade. Quando o TIMES retirou do seu vocabulário a palavra “resistência” e “resistentes”, por evocar aos americanos a resistência dos europeus aos invasores nazis na Segunda Guerra Mundial, tendo a restante imprensa seguido o seu exemplo, “insurrecto” veio a confundir-se com o de “terrorista”. Ora, uma coisa é ser-se terrorista (e extremista islâmico) que deve ser combatido, e outra coisa é ser um “resistente”. O cerne da questão reside no facto de existirem “processos de conhecimento” que não passam pela deliberação pessoal, processos dos quais não temos consciência e que por assim dizer, não controlamos. Aqui, um jornalista, involuntariamente, pode desinformar sem mentir. Atendamos ao facto de que podemos ser sensíveis ou afectados por elementos do meio aos quais não damos atenção ou que nos escaparam, mas que a nossa máquina cognitiva, apesar de tudo, acolheu e tratou. Esses elementos do contexto penetram-nos com doçura, actuando subliminarmente. Os processos subliminares estáo interditos por lei, mas no caso em referência consideramos os elementos da envolvente aos quais nós pura e simplesmente não damos atenção (e portanto não recordamos) e que podem ter o mesmo efeito de um acto subliminar. É o caso do “logo” nas camisolas desportivas expostas duante muito tempo – num jogo de futebol, pelo menos 90 minutos, portanto longe de ser subliminar – mas que vem a ter o mesmo efeito. Neste caso , a influência exerce-se por estímulos que não são tratados a nível consciente mas,apesar de tudo, entraram de forma insidiosa no sistema cognitivo das pessoas. Este novo conceito, tal como o apresentamos, permite relevar os processos inconscientes. Como?
Posted on: Tue, 29 Oct 2013 04:59:46 +0000

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