A OUTRA FACE Ana Cristina Souto 1 Sou aquela que está sempre - TopicsExpress



          

A OUTRA FACE Ana Cristina Souto 1 Sou aquela que está sempre à tua espera, à tua margem... à tua espreita; Teço planos como sonhos de mísseis, que nem sempre atingem o alvo. Que em qualquer imprevisto, retiro a maquiagem diante do espelho, sem olhar a face. Diante dos outros, faço-me ereta; diante de mim, sou um navio sem velas... Os olhos riem nas tristezas e molham-se nas alegrias. São neles que acoberto todo o meu mundo. Enclausuro os gritos nos guarda-roupas de jacarandá. Faço teu café, teu almoço, teu jantar - à tua justa disposição. Acolho-te sempre de céleres asas. Preencho a lacuna da cama com o imaginário peso do arco-circunflexo das tuas costas. Como conselheiro, o meu melhor travesseiro. Choro no mar para confluir a salinidade da minha dor. Sem Carnavais, Natais, Reveillons, Bodas de miçangas... 2 Ancoro teus lamentos em meu peito. Sirvo-te como gueixa, hetera, Cleópatra... Sussurro palavras de puro encanto. Selo meus lábios aos teus como uma ostra fechada. Detenho-me ao falar a palavra-chave à tua partida. Nunca exponho a dor, ao teu conhecimento; tampouco, imponho incertezas à tua ausência. Desfaço-me em mil - por amar-te sem possuir-te! Espero o próximo encontro com a ânsia permanente do primeiro. Encontro em ti, tudo o que preciso; ... mesmo não sendo preciso. Amo sem razão ou desrazões. Tenho sempre teu vinho predileto - em temperatura ideal; onde brindamos à vida e o presente. Distraio-me com tua memória. Mesmo à mingua e retalhada permaneço aparentemente inatingível. Os céus são negros à tua distância. 3 Sei quase tudo ao teu respeito e ainda assim, exerces o mesmo fascínio. Uso a solidão como auto-desintoxicação. Leal à utopia; à fantasia; à própria desgraça... Silencio o inoportuno. Omito o sofrimento às minhas feições; consumo-me de ilusões dessas horas corrosivas. Fecho a represa dos olhos para o coração não ruir; - junto à correnteza... suporto a arrebentação... Corto em fatias a saudade. Concebo perdições e desencontros como meras contingências. Entorpeço-me de amor a cada reencontro; sinto no âmago, o túmulo, a cada despedida. Vejo teu rosto nas visões das nuvens. Levo teu rio ao mar. Das trevas do Juízo Final - não sentirei remorso; pois das tuas mãos, erguer-se-ão fachos de luzes. 4 Sôo teu nome como uma canção de Verti. Torno-me alheia às circunstâncias do destino. Desnudo-me de versos tristes mas diante do abismo, destruo o medo à queda. A cada dia é uma nova conquista. O pendão da esperança, seguro na alma. Trago nas mãos as linhas do teu destino. Os ventos sopram-te meus beijos. Das flores carnívoras eu devoro teu corpo. Atrevo-me a carregar o peso anônimo de nossos instantes. Expulso a noite com a claridade da tua aura; guio-me ou perco-me pelos teus passos... - suporto o mundo com o coração e os ombros. Nos instantes solitários são tuas mãos que toco; :::::: recomponho-me na aurora da tua boca; - onde há inocência, apesar do pecado. 5 Há quem me inveje/ quem me condene; com todas as minhas máscaras; - minha dualidade - (de ser a outra) - a outra face; : tua yin/ teu yang... : tua rota de libertação : tua vida : tua morte : tua toda : teu talismã... Que uivem os lobos!!! Abram-se todas as porteiras e gaiolas... - continuarei à tua vigília. E venha o que vier! Pode vir! Venhas tu também, meu Coronel! Todas as minhas continências são para ti; - meu senhor! Sou tua! A casa é tua! Na mala, traga apenas os retratos da tua infância; os sonhos que te vestem e os desejos que te despem... - em nosso leito que cortam o mar; que captam o ar. Sim! Sou a outra face! Da lua? Do Sol? Da moeda? Dos finos bagos de romã? O que importa? Repartida em duas; - terás sempre a mim e a outra! Sim! Sou a outra face! Sonho Sem Versos Aos açoites do vento que sopram teu nome minhas naus invisíveis desbravaram teus pólos cardeais. Preciso respirar esse vento. Ah! Vazio instaurado... Da lua que ordena as lágrimas das marés que desembocam - no meu poço de desejos... profundo; sem existências de breus. Dos beijos que dançavam salsas em nossas bocas. Da saudade que vela as curvas do inferno. Paira o sol e tua sombra me cobre; pré-morte que me acolhe. Para esquecê-lo, mascaro minha dor. Sim! Amar é camuflar os sentimentos; relevar a indiferença. Ah! Doce tormento! Crédula sobrepus uma alegria inabalável crepitando a chama no ar desse golpe que me devora quando jurei o teu sangue. Amanheceu, o vento não mudou a direção - Só pra me provar Que não és mais meu! Há de seguir adiante; aonde eu não alcance os sonhos rasantes dessa fúria sangria tempestuosa dos teus rastos. Ah! Nó que me angustia aos silêncios gritantes desse amor. Ouça! Ouça o mar batendo contra os rochedos... Não descrave minhas unhas do teu coração. Por favor! Não! ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: Calma! Estou aqui, meu amor! A lua se apagou. - Era um sonho mau.
Posted on: Sat, 27 Jul 2013 15:53:01 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015