A Origem da Ortodoxia A palavra ortodoxia é originária do grego (orthos: direito e doxa: louvor), ou seja, fiel e exato cumprimento de uma doutrina religiosa. A Igreja Ortodoxa, sendo uma das mais antigas, vem mantendo através dos séculos, a mesma fé apostólica. É um conjunto de Igrejas que professam esta fé e com algumas variações, praticam os mesmos ritos, de acordo com as Sagradas Escrituras e a Tradição dos Sete Concílios Ecumênicos. A Santa Igreja Ortodoxa é um agrupamento de fiéis, unidos na comunhão da fé cristã ortodoxa, na legislação divina, na sagrada instituição do Sacerdócio e nos Santos Sacramentos. Obedecendo aos seus ensinamentos e preceitos, conservando invariavelmente a certeza absoluta de que nela se encontra o único eterno chefe da Igreja, nosso Senhor Jesus Cristo, que a dirige, instrui e defende pela sua graça. Assim, podemos dizer que a Santa Igreja é uma edificação divino-humana, cujo alicerce é constituído pelo próprio Salvador e que por esta razão não pode ser modificada. A fé cristã teve sua origem no Oriente com a vida e os ensinamentos do Senhor que os transmitiu aos seus apóstolos, que evangelizaram o mundo, levando para todas as nações a luz do Evangelho. Mais tarde, a Igreja percebeu a necessidade de formar um corpo doutrinal para defender os verdadeiros ensinamentos de Jesus Cristo contra os possíveis desvios de interpretação. O Nascimento da Igreja Jesus prometeu o Espírito Santo aos seus apóstolos. No dia de Pentecostes, na cidade de Jerusalém, o Espírito Santo prometido desceu em forma de línguas de fogo sobre os apóstolos e Maria, que estavam reunidos no cenáculo (Atos 2, 1-4). Este foi o nascimento da Igreja, pelo poder e presença contínua do Espírito Santo com ela. Foi a primeira comunidade cristã ou de crentes em nosso Senhor, Jesus Cristo. A Igreja foi instituída para a salvação dos homens, dirigida pelo Espírito Santo e por ele constituída sobre fundamentos humanos, os apóstolos. Por isso ela é chamada instituição divino-humana. A Era Apostólica e a Era dos Concílios A Igreja nasce com a pregação dos apóstolos, que eram o elo entre a Igreja e o Senhor Jesus. Acredita-se que São João Evangelista, irmão de São Tiago e filho de Zebedeu, foi o último dos apóstolos a morrer, por volta do ano 100, na cidade de Éfeso, após exílio na ilha de Patmos. Com a morte dos apóstolos, surge a necessidade de um Evangelho escrito. Este Evangelho, é claro, teria que ter todas as suas partes coerentes e em harmonia com a fé da Igreja. O critério para orientar esse Evangelho escrito foi a elaboração de um código de fé criado pelos primeiros concílios. Temos então, como Igreja Primitiva, a fase da tradição oral dos Evangelhos. A partir desta época, quando surgem os primeiros esboços de hierarquia e dogmas, inicia-se a época dos Santos Padres, ou seja. a passagem da Igreja Primitiva para a Igreja Dogmática. A Igreja Ortodoxa A Igreja Ortodoxa existe desde os primórdios do cristianismo e está presente nas mais diversas partes do mundo. Estrutura Na era apostólica, a administração dos fiéis cristãos era feita pelos Epíscopos (Bispos), Presbíteros (Padres) e Diáconos. Estes títulos são de origem grega e estão descritos nas Sagradas Escrituras, representando a função de cada um dentro do corpo da Igreja. O Epíscopo, (Bispo) pai da comunidade, supervisionava o andamento da evangelização e da fé de seus fiéis. Cuidava de uma vasta região, sendo responsável por um grande número de igrejas (paróquias). Os Presbíteros eram chamados de anciãos nos Atos dos Apóstolos, não necessariamente pela idade, pois geralmente o ancião era aquele com mais de 30 anos. Cada Igreja tinha seu grupo de anciãos que possuíam uma preparação e seriam como os sacerdotes de hoje. Eram os intermediários entre a comunidade e o supervisor (Epíscopo). O Diácono, que em grego significa servidor, auxiliava nos momentos litúrgicos, na ajuda aos enfermos e às viúvas, sendo também um elo entre a comunidade e o Epíscopo. Após um período de perseguição, com a ascensão de Constantino, a Igreja se encontrou num momento histórico de liberdade, o que propiciou sua estruturação e, mais tarde, os Concílios a dividiram em regiões eclesiásticas, surgindo então a figura do Patriarca. O Patriarca é um bispo que foi eleito para supervisionar de maneira especial. Ele é o pai de uma determinada Igreja com a qual se relaciona, zelando pela fé de seus filhos. Organização Santo Inácio de Antioquia (século I d.C.) é o primeiro autor cristão a classificar os Bispos, Presbíteros e Diáconos como três graus do ministério cristão (Sacerdócio). Esta hierarquia fixou-se na tradição da Igreja dentro da sua organização. De fato, os ortodoxos atribuem a autoridade máxima ao Colégio dos Bispos (Santo Sínodo), concedendo um destaque aos Patriarcas como guardiões especiais das fontes de verdade na Igreja. A Igreja é depositária dos ensinamentos de Jesus Cristo e a continuadora da obra da salvação, do amor e da conquista da vida eterna por toda a terra. Jesus prometeu à Igreja a assistência do Espírito Santo, afirmando: "Eu permanecerei convosco até o fim dos tempos". (S.Mateus 28,20) O mundo cristão, nos primórdios do cristianismo, possuía cinco Patriarcados (Pentarquia). Seguindo a ordem de hierarquia: Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém; embora a mais alta autoridade da Igreja cristã fosse o Concílio Ecumênico, cujas decisões são válidas para todas as Igrejas. A Doutrina Cristã As bases da doutrina cristã foram assentadas no Primeiro Concílio Ecumênico, convocado por Constantino, Imperador de Roma, na cidade de Nicéia, em 325. Os 318 Santos Padres compuseram a primeira parte do "Credo ou Símbolo da Fé", que em poucas palavras expressa claramente a crença e doutrina cristã sobre Deus Pai e seu Filho Jesus Cristo. Este Credo foi completado em seus últimos artigos no Concilio Ecumênico de Constantinopla, que definiu a doutrina do Espírito Santo, em 381, e por isso chama-se "Credo ou Símbolo da fé Niceno-Constantinopolitano". O triunfo do Cristianismo ocorreu três séculos após a Ressurreição de Jesus Cristo, com a paz decretada por Constantino. Mais tarde foram convocados seis Concílios Ecumênicos, reafirmando os verdadeiros dogmas cristãos. As fontes da Doutrina Ortodoxa São duas as fontes de onde é extraída a fé ortodoxa: a Sagrada Escritura e a Santa Tradição Apostólica, onde se encontram, exclusivamente, a revelação dada por Deus ao homem sobre o que deve crer e praticar para agradá-lo, conseguindo a salvação eterna. A Igreja é a única a interpretar e ensinar esta revelação verdadeiramente, pois assim estabeleceu Jesus Cristo. A Bíblia é a Palavra de Deus, revelada pelo Espírito Santo aos homens, por meio dos profetas (Antigo Testamento) e apóstolos (Novo Testamento). Sagrada Escritura e Tradição Apostólica A Sagrada Escritura compreende os livros canônicos (aprovados e reconhecidos pelo Magistério Eclesiástico), compilados em um único volume, comumente designado "Bíblia Sagrada". Encontramos a Tradição Apostólica manifestada em: • Os Sete Concílios Ecumênicos • Os Santos Padres e Escritores Cristãos • Símbolo Niceno-Constantinopolitano • As Liturgias da Igreja • O Magistério Permanente da Igreja • A Legislação Eclesiástica Legislação A Igreja Ortodoxa possui, para a organização e administração, seu Direito Canônico próprio, chamado "Nomocanon", órgão que regula seu funcionamento: "Ensinai os homens a observar tudo aquilo que Eu vos tenho ensinado" (S.Mateus 28:20). É por sua divina constituição que a Igreja, como guardiã da lei Divina, tem o direito de estabelecer cânones (regras), de julgar e, se necessário, de aplicar sanções: "Quem vos escuta, a mim escuta; quem vos menospreza, a mim menospreza" (S.Lucas 10:16). Desde as suas origens, a Igreja tem consciência de sua responsabilidade e de sua ordem histórica. O Concílio de Jerusalém regulou as questões relativas aos cristãos de origem judaica (Atos 15:22). Durante os três primeiros séculos, a Igreja empregou o direito de resolver as questões eclesiásticas e esse costume se encontra na "Didaquê" (fim do século I), na tradição de Hipólito (princípio do século III), na Didascália dos Apóstolos (até o ano 250), nas Constituições Apostólicas (até 380). Com o século IV, a Igreja entra no tempo dos Concílios regulares. Muitas coleções nos dão os históricos dos Cânones, por exemplo, a de João, o Escolástico, no ano 550. A harmonia dos poderes da Igreja e do Imperador, explica a presença do Direito Eclesiástico nas coleções jurídicas do Império de Teodósio ou de Justiniano. Mais tarde apareceram os trabalhos de vários outros canonistas. A Ortodoxia não possui um código unificado, mas tem códigos locais que remontam à Idade Média. Na Igreja Ortodoxa, a autoridade máxima é constituída pelo Concílio Ecumênico, cujas decisões abrangem toda a Igreja de Cristo. A infalibilidade se acha na Igreja inteira, representada na reunião de todos os bispos em Concílio. Historicamente, o período dos Concílios Ecumênicos representa para todos os ortodoxos um período "normativo". A Igreja Ortodoxa reconhece sete Concílios Ecumênicos: 1- Nicéia, 325 d.C.: Divindade de Jesus Cristo. Condenação de Arrio. 2- Constantinopla I, 381: Divindade do Espírito Santo. Condenação de Macedônio. 3- Éfeso, 431: Maternidade Divina de Maria. Condenação de Nestório. 4- Calcedônia, 451: Dualidade da Natureza em Jesus Cristo. Condenação de Êutiques e do monofisismo. 5- Constantinopla II, 553: Condenou as obras escritas pelos seguidores de Nestório. 6- Constantinopla III, 680: Dualidade de vontades em Jesus Cristo, não contrariadas uma pela outra, mas a vontade humana sujeita à vontade divina. 7- Nicéia II, 787: Condenação da Iconoclastia. Definiu-se a doutrina ortodoxa da veneração dos ícones. Na tradição oriental, as imagens sagradas são pintadas e não esculpidas. O Iconostácio A palavra iconostácio vem do grego e significa local onde se colocam os ícones. Sua localização e disposição seguem as exigências da Igreja após as resoluções do 7° Concílio Ecumênico. Esta parede de ícones possui a função de separar o Santuário da Assembléia. Apesar de não existir um número de ícones estabelecido, qualquer Igreja Ortodoxa deve ter, no mínimo, as imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora, São João Batista e do padroeiro da Igreja. Santuário e Altar O Santuário, lugar do Santo dos Santos, localiza-se atrás do iconostácio e o acesso é permitido exclusivamente ao Clero, para a celebração dos ofícios divinos. Existem três portas para a comunicação com a Assembléia. Ao centro, a Porta Régia ou Porta Sacerdotal, à esquerda, Porta Norte e à direita, Porta Sul. Sobre o Altar deve estar permanentemente o Antimênsio, pano bordado contendo as relíquias dos Santos. Sobre este pano dobrado deverá estar o Evangelho. Sobre o Altar deverá estar também o Sacrário, no qual se guardam as espécies consagradas. A Páscoa Existe uma diferença entre as datas da Páscoa Católica Romana e Ortodoxa. O cálculo é baseado na astronomia e não é uma questão religiosa. Desde os primeiros anos do Cristianismo, este assunto foi motivo de divergências e de estudos. No ano 325, o Concílio de Nicéia, convocado pelo Imperador Constantino, resolveu, por unanimidade, que a Páscoa fosse comemorada, por todos os cristãos, no mesmo dia. As resoluções deste Concílio determinaram que a data da Páscoa fosse comemorada sempre num domingo, que segue à lua cheia do equinócio da primavera, isto é, após o dia 21 de março. O equinócio é a época em que o dia e a noite têm a mesma duração em todos os países do mundo. O Patriarca de Alexandria foi encarregado, pelo referido Concílio, de preparar um calendário das Páscoas futuras e divulgá-lo para todas as Igrejas Cristãs do mundo, sempre após a Epifania (6 de janeiro). A unificação das datas seguiu seu curso normal até 1582, quando a Igreja de Roma adotou a calendário Gregoriano, elaborado pelo Papa Gregório XIII, que constatou erros no ano solar, adiantando-o em 13 dias. A Igreja Ortodoxa não aceitou a nova data, pois contrariava o que fora estabelecido no Concilio de Nicéia. A partir daí, a Páscoa Ortodoxa e a Católica Romana passaram a ter datas diferentes.
Posted on: Tue, 16 Jul 2013 03:21:12 +0000
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