A PEDRA O carro descia a avenida vagarosamente, talvez devido ao - TopicsExpress



          

A PEDRA O carro descia a avenida vagarosamente, talvez devido ao cansaço do motorista que havia dirigido por horas a fio. De repente, um estalo seco faz com que o automóvel pare e o condutor, com cara de poucos amigos, desça e observe que uma pedra qualquer havia furado o pneu dianteiro esquerdo. A vontade era de chutar a pedra para o acostamento. No entanto, por não querer machucar o pé que já estava dolorido por causa da viagem, ele optou em apenas pegar a pedra, atravessou a avenida sem ao menos olhar para os lados, afinal, era noite e quase ninguém costumava passar por aquelas bandas. Enquanto voltava para o carro, sentia uma certa dormência, porém, resolveu culpar o cansaço por tudo que estava ocorrendo. Pegou o estepe, mas não conseguiu trocar o pneu, era tarde da noite, estava exausto, sinceramente, nem sabia o que fazer naquele momento. De repente, um homem baixo, caminhando devagar, aparece poucos metros adiante. Apesar de estar com a vista nitidamente cansada, o condutor esboça um leve sorriso ao ver que ambos usam o mesmo uniforme. O segundo homem entra no carro e o conduz, até que o automóvel se misture com a neblina e a escuridão e desapareça. O condutor, de nome John, apenas observa e nada faz para reagir, pois, sabe que o amigo irá levar o carro em alguma oficina da cidade, deve ser de confiança, mas, tudo está tão estranho, como se o cansaço o fizesse ir esquecendo pouco a pouco de rostos e fatos. A casa de John não ficava longe dali, talvez uns quatro quarteirões ou mais alguns talvez, as ideias estavam se confundindo na mente daquele pobre homem. Caminhando, John se sentia bem mais leve do que o normal, bem que o doutor havia falado sobre a importância da atividade física na vida das pessoas, aos poucos o cansaço começa a passar. Segue o caminho que geralmente faz enquanto dirige, acena para um senhor que nem ao menos dá atenção, seria o escuro ou a falta de educação? Ou apenas algum velhinho rabugento de mal com a vida como muitos por aí. Avistou sua humilde casa, todas as luzes acesas, estranhou, afinal, isso não era comum às onze horas da noite. Para piorar a situação, o portão estava aberto, vizinhos entravam e saiam. "Aquela era mesmo a minha casa? Ou então estão dando uma festa por causa da minha chegada? Como fui ingênuo, um tempo fora e pouca coisa mudou". John seguiu pensando, entrou em casa, ninguém notou, nem o cachorro, talvez o peso do cansaço o houvesse deixado tão silencioso. Abriu um largo sorriso ao ver sua mulher, linda como sempre, ao telefone, talvez estivesse chamando mais amigos para a festa surpresa. Resolveu recuar e se esconder no jardim, observando tudo e todos, até que surgiria do nada para a alegria geral. As horas avançavam madrugada adentro, mais pessoas chegavam, algumas de cabeça baixa, cansadas, com certeza, afinal, uma festa àquela hora não era para qualquer um. Caminhando lentamente para que não fosse percebido, John avistou sua mulher abraçada aos dois filhos do casal, o menor resmungava: "Mas ele não vai chegar?" "Fique calmo, ele está bem, ele gosta muito de vocês, mas muito mesmo." "Então, porque ele foi embora?" "Ele foi trabalhar longe, em um bom lugar com pessoas boas e felizes." John deu um leve sorriso, como era sábia a sua amada esposa, se ela houvesse contado para as crianças o que ele realmente fazia, não havia nada de bom naquele lugar. Se encheu de coragem e resolveu entrar, mas, parou quando viu um carro grande e acizentado parar no portão. Um homem saiu de dentro do veículo se dirigindo à mulher de John: "Ele chegou." John reclamou muito, queria que sua chegada fosse uma surpresa e aquele senhor, que ele nunca tinha visto, acabara de atrapalhar tudo. Quem seria ele afinal? John, sorrateiro, longe dos olhos da esposa, caminhou até o portão. A mulher começou a chorar imediatamente, pelo visto, não havia se escondido direito. Agora só restava abraçá-la e beijá-la tamanha era a saudade. John se assustou um pouco ao ver o que estava escrito no bolso daquele homem: Funerária Santo Ângelo. Agora tudo fazia o maior sentido. Um mês atrás, John havia recebido um telefonema da esposa informando que o pai dela, Arnold, estava bem doente. Pelo visto, o bom velhinho estava agora descabsando no andar de cima. John tirou o chapéu em sinal de respeito e profunda tristeza e se ofereceu para pegar uma das alças do caixão. No entanto, ninguém respondeu, seu Arn não deveria estar muito pesado. Caminhou atrás do cortejo, sua mulher, em estado de choque, parecia não o ver. Também John havia ficado pasmo quinze anos atrás quando perdeu seu amado pai que sempre o cumprimentava com um: "Como vai Jhonny?" O caixão foi colocado no centro da sala, dentre os parentes, John pode ver o velho Arnold, firme e forte. Agora não entendia mais nada. Uma mão tocou o ombro de John e uma voz conhecida sussurrou: "Como vai, Jhonny? Estava com saudades, vamos embora." C. Mercídio
Posted on: Fri, 30 Aug 2013 02:27:50 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015