A TERRA É NATURÁ Patativa do Assaré Sinhô dotô, meu - TopicsExpress



          

A TERRA É NATURÁ Patativa do Assaré Sinhô dotô, meu ofiço É servi ao meu patrão. Eu não sei fazê comiço, Nem discuço, nem sermão; Nem sei as letra onde mora, Mas porém, eu quero agora Dizê, com sua licença, Uma coisa bem singela, Que a gente pra dizê ela Não percisa de sabença. (...) Esta terra é como o Só Que nace todos os dia Briando o grande, o menó E tudo que a terra cria. O só quilarêa os monte, Tombém as água das fonte, Com a sua luz amiga, Potrege, no mesmo instante, Do grandaião elefante A pequenina formiga. Esta terra é como a chuva, Que vai da praia a campina, Móia a casada, a viúva, A véia, a moça, a menina. Quando sangra o nevuêro, Pra conquistá o aguacêro Ninguém vai fazê fuxico, Pois a chuva tudo cobre, Móia a tapera do pobre E a grande casa do rico. Esta terra é como a lua, Este foco prateado Que é do campo até a rua, A lampa dos namorado; Mas, mesmo ao véio cacundo, Já com ar de moribundo Sem amô, sem vaidade, Esta lua cô de prata Não lhe dêxa de sê grata; Lhe manda quilaridade. Esta terra é como o vento, O vento que, por capricho Assopra, as vez, um momento, Brando, fazendo cuchicho. Otras vez, vira o capêta, Vai fazendo piruêta, Roncando com desatino, Levando tudo de móio Jogando arguêro nos óio Do grande e do pequenino. Se o orguiôso podesse Com seu rancô desmedido, Tarvez até já tivesse Este vento repartido, Ficando com a viração Dando ao pobre o furacão; Pois sei que ele tem vontade E acha mesmo que percisa Gozá de frescô da brisa, Dando ao pobre a tempestade. Pois o vento, o só, a lua, A chuva e a terra também, Tudo é coisa minha e sua, Seu dotô conhece bem. Pra se sabê disso tudo Ninguém precisa de istudo; Eu, sem escrevê nem lê, Conheço desta verdade, Seu dotô, tenha bondade De uvi o que vô dizê. Não invejo o seu tesoro, Sua mala de dinhêro A sua prata, o seu ôro o seu boi, o seu carnêro Seu repôso, seu recreio, Seu bom carro de passeio, Sua casa de morá E a sua loja surtida, O que quero nesta vida É terra pra trabaiá. Iscute o que tô dizendo, Seu dotô, seu coroné: De fome tão padecendo Meus fio e minha muié. Sem briga, questão nem guerra, Meça desta grande terra Umas tarefa pra eu! Tenha pena do agregado Não me dêxe deserdado Daquilo que Deus me deu
Posted on: Sun, 18 Aug 2013 00:55:15 +0000

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