A TRAGÉDIA COMEÇOU HÁ 40 ANOS 11 de Setembro, dia de - TopicsExpress



          

A TRAGÉDIA COMEÇOU HÁ 40 ANOS 11 de Setembro, dia de efemérides. Dia de aniversário, o 12º, do assassínio colectivo que figura entre as histórias mais mal contadas da História contemporânea – e não são poucas; dia em que os catalães celebram a sua Díada, o dia nacional, e em que ligaram o norte ao sul do seu país com uma corrente humana pela independência, juntando centenas de milhar de pessoas. Apetece-me citar Galeano: “Quando uma grande potência invoca a sua independência diz-se que é soberania; quando isso acontece com uma pequena nação, diz-se que é populismo”. 11 de Setembro de 1973: efeméride tantas vezes esquecida, desta feita o 40º aniversário do golpe terrorista que derrubou Salvador Allende, presidente do Chile democraticamente eleito, e o assassinou abrindo o caminho a uma chacina sem dó nem piedade de seres humanos, de direitos civis, sociais e democráticos, pesadelo do qual o país ainda não acordou. O golpe que levou o general fascista Augusto Pinochet ao poder político e militar, e ao poder económico os “Chicago boys”, melhor escrevendo o bando de Chicago, que montou no terreno a primeira experiência do neoliberalismo económico puro e duro, criou um regime que teve tudo o que caracteriza o nazismo: campos de concentração, fuzilamentos sumários e em massa até hoje escondidos do saber oficial – que não da memória colectiva – extinção dos partidos políticos e sindicatos, implantação da censura férrea, rédea solta aos esbirros de uma polícia política terrorista e arbitrária treinada pela CIA, extinção do direito à greve, perseguição, tortura e prisão de dirigentes e militantes democratas. Por detrás do golpe, como mentor e funções operacionais, esteve a Administração norte-americana do repugnante Richard Nixon, assessorado pela CIA e pelo inimitável Henry Kissinger, aliás contemplado com o Nobel da Paz. Ainda dizem que a História não se repete... O golpe no Chile deu origem a outras práticas que conhecemos muito bem dos nossos dias mais recentes: privatizações saldando o património público, “liberalização do mercado de trabalho” através de brutais cortes de salários e pensões, extinção de direitos sociais, liberdade total para despedir, precariedade do emprego, privatização da segurança social, liquidação dos sistemas públicos de saúde e ensino, austeridade eterna para a esmagadora maioria da população, destruição do Estado e respectiva colocação do remanescente ao serviço da banca e das grandes empresas nacionais e transnacionais. Quando se completam 40 anos sobre tal episódio sangrento sabemos o suficiente para deduzir que nesse 11 de Setembro de 1973 começou uma tragédia no Chile, mas também em todo o mundo, o ataque de um gigantesco e insaciável polvo que lançou e ferrou os seus tentáculos em todos os cantos do planeta. Do Chile diz-se que tem hoje uma “democracia”, afinal uma alternância entre dois grupos políticos afins e, no fundo, com filosofias económicas semelhantes. A estrutura económica, essa é a mesma deixada por Pinochet e o bando de Chicago Uma economia que é, afinal, a economia da globalização, a economia de mercado livre, o fundamentalismo neoliberal, a ditadura sem rosto dos mercados financeiros. Na austeridade de hoje, eternizada como sistema político-económico, temos todos os traços inscritos no Chile pelo bando de Chicago sob a protecção das botifarras de Augusto Pinochet. Pelo caminho, Margaret Thatcher, em Inglaterra, e Ronald Reagan, nos Estados Unidos, afinaram esses traços de modo a caberem no formalismo democrático. Tal como Thatcher, a “dama de ferro”, se confessou admiradora de Pinochet, dispenso-me de enumerar os nomes de quantos e quantas hoje são, na teoria e na prática, admiradores de Thatcher e Reagan vistam a camisola política que vestirem, desde que seja para servir o mercado. Milhares e milhares de chilenos saíram às ruas para lembrar os negros anos e reclamar o regresso dos seus desaparecidos. Eles lembraram-se; era bom que nos tivéssemos lembrado de fazer o mesmo. De uma maneira ou de outra, todos os dias há novos desaparecidos em todo o mundo às mãos tenebrosas dos herdeiros, vivos e actuantes, de Pinochet e do bando de Chicago.
Posted on: Wed, 11 Sep 2013 19:03:46 +0000

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