A VERDADE ESTÁ NO RACIONALISMO "A natureza deu-nos dois ouvidos - TopicsExpress



          

A VERDADE ESTÁ NO RACIONALISMO "A natureza deu-nos dois ouvidos e apenas uma língua, a fim de que possamos ouvir mais e falar menos." - Zenão de Eleia Sociedade Filosófica Ciência e moral têm mais a ver uma com a outra do que a princípio pode parecer. Isso porque ciência pode ser descrita como uma série de práticas orientadas por certas virtudes morais, que são ao mesmo tempo metodológicas – e tais virtudes têm a ver com a um tanto vaga noção de inteligência que quero sugerir aqui. Muitas vezes inteligência é associada à grande quantidade de conhecimentos, daí frases de louvor como “Ele é muito inteligente, possui um conhecimento enciclopédico.” ou, mais vulgarmente, “Ele é o Google.”. Uma boa memória é importante para essa noção de inteligência. Outras vezes, sem negar essa noção, ouvimos falar em inteligência como uma qualidade relacionada ao tipo de coisa que alguém sabe: se alguém entende aspectos técnicos de engenharia e matemática, é uma pessoa inteligente, dizem. Essa noção está relacionada com a outra, na medida em que alguém pode ser considerado bastante inteligente, se souber bastante (entenda-se: grande quantidade de coisas e detalhes) a respeito de um assunto em particular, especialmente se esse assunto for “difícil”, como ciências naturais. Particularmente, penso que seja um engano falar em inteligência nesse sentido, pois é possível ser idiota e, no entanto, ter boa memória e conhecer detalhes de certos ramos. Por quê? Espero tornar isso mais claro quando explicar minha noção de inteligência, que é mais geral e que atribui capacidades que permitem alcançar aqueles conhecimentos. A meu ver, inteligência é uma maneira de pensar; é o modo como alguém pensa o que constitui o melhor indicador para dizermos se ele ou ela é uma pessoa inteligente. Esse modo de pensar está fundamentalmente direcionado à solução de problemas diversos; é um raciocínio de adaptação e criação frente a mudanças e dificuldades. Tal raciocínio se relaciona basicamente a três virtudes ou pode ser dividido em três aspectos: (a) Prudência lógica: É a cautela em tirar conclusões; por assim dizer, não se apressar, prática e teoricamente; é, por isso, buscar fazer inferências legítimas (tirar conclusões que estejam bem justificadas e garantidas, tanto quanto for possível, pelas premissas); ter esse tipo de cautela nas considerações implica ter responsabilidade intelectual, pois implica ter em mente que bobagens e pensamentos mal pensados podem gerar burburinho e equívocos que, eventualmente, podem passar-se por verdades. Essa prudência exige certo grau de ceticismo prévio, já que o prudente deve considerar prós e contras, tanto quanto puder, para decidir, afirmar ou negar – e, portanto, não deve aceitar facilmente coisas sem justificação. (b) Criatividade/Imaginação: Ser capaz de imaginar possibilidades e alternativas é fundamental para resolver problemas; a melhor maneira de alcançar nossos objetivos é imaginando os melhores meios para isso; criar coisas novas; considerar o que está para além do imediatamente visto, por assim dizer. (c) Experimentalismo: É uma virtude que está associada à criatividade; experimentar é não ter medo de por em dúvida nossas crenças e práticas atuais; é não temer o novo; é ter esperanças de que algo melhor e mais interessante possa ser feito ou vir a acontecer, se pensarmos ou agirmos de uma maneira diferente e não habitual; é ter curiosidade; essa virtude também permite que o experimentalista mantenha uma atitude crítica constante face às próprias crenças, autocrítica essa ajudada pela prudência. Além disso, as virtudes que chamei de prudência lógica e experimentalismo exigem alto grau de tolerância e paciência para escutar opiniões alheias; as crenças alheias não podem ser menosprezadas de princípio como irracionais, tolas, preconceituosas, atrevidas ou loucas. Tais virtudes necessitam da capacidade de reconhecer que as diferenças são muitas vezes produtivas e devemos respeitá-las – afinal, podemos aprender alguma coisa interessante. São virtudes como essas que estão na base do sucesso científico e que estão associadas à cooperação mútua da comunidade de cientistas. É claro que nem sempre os cientistas são tão virtuosos; como humanos que são, criaturas de hábito, às vezes também eles podem ser intolerantes, arrogantes e preconceituosos – talvez em relação a uma nova ideia ou colega, que pareça revolucionária demais, inconveniente demais, radical demais, etc. Mas em geral os cientistas precisam manter virtudes assim, em algum grau. E, embora a prática científica não deva ser tomada como paradigma do que há de melhor para espelharmos todas as instituições sociais (pois isso é mais complicado), penso que tais virtudes morais deveriam ser mantidas por qualquer pessoa. Seríamos, assim, indivíduos melhores, acredito.
Posted on: Mon, 23 Sep 2013 03:55:20 +0000

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