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A arte de dizer a mesma coisa duas vezes, ou Cuidado com as redundâncias Publicado em 06/09/2013 por arthurmaximus Certos vícios de linguagem já se encontram tão disseminados no dia-a-dia que às vezes é difícil nos darmos conta de sua existência. Na maior parte dos casos, acabamos reproduzindo mecanicamente algumas expressões equivocadas e, de forma involuntária, contribuímos para a sua disseminação e perpetuação. E um dos exemplos clássicos disso são as chamadas redundâncias. Cuidado: não confunda “redundância” com “pleonasmo”. Toda redundância é pleonástica, mas nem todo pleonasmo é redundante. Pleonasmo é uma figura de linguagem pela qual o interlocutor deseja reforçar uma idéia anteriormente exposta. Trata-se de um recurso lícito da escrita, mas o risco de cair em erro faz com que seu uso fique praticamente restrito aos gêneros literários e musicais. Eis alguns exemplos: “Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal” .(Fernando Pessoa) “E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento”. (Vinícius de Moraes) “Ah…Esse coqueiro que dá coco Onde amarro minha rede”. (Ary Barroso) No entanto, são muitos os casos em que se escorrega do pleonasmo para a redundância, também conhecida como pleonasmo redundante ou vicioso. E aí começam as barbaridades. O problema da redundância reside na sua completa inutilidade. Trata-se da repetição estéril de uma idéia que já se explica sozinha, seja com um verbo, seja com um substantivo. É fácil identificá-la nos exemplos que nos dão no primário, como “subir pra cima” ou “descer pra baixo”. No entanto, na vida real, há casos em que o uso disseminado do erro já se incorporou de tal maneira à linguagem corrente que pouca gente se dá conta de sua existência. Os exemplos são vários. Abaixo, vão apenas os 10 mais conhecidos de que me lembrei agora: 1 – “Somar a mais”: variante do “subir pra cima”. Se você vai somar, só pode ser pra mais. O verbo já traz consigo a idéia de acréscimo. Para menos, o verbo é subtrair. 2 – “Plus a mais”: da mesma linha do “somar a mais”, a idéia ínsita ao vocábulo plus – um galicismo ou um anglicismo, conforme a preferência – já é a de acrescentar alguma coisa a algo. 3 – “Fatos reais”: a indefectível expressão presente em filmes que relatam acontecimentos históricos. Todo fato é real, do contrário não será fato. O correto seria usar somente “este filme é baseado em fatos”. Se a vontade de manter o vocábulo real for muito grande, uma alternativa seria dizer que “este filme é baseado em uma história real”, uma vez que história tanto pode ser real como irreal. 4 – “Consenso geral”: muito comum na Administração pública e na boca de políticos. Trata-se de uma variante da redundância “fatos reais”. Não há consenso individual ou particular. Todo consenso é, por definição, geral. 5 – “Conclusão final”: o supra sumo da redundância. Apresentem-me, por favor, uma conclusão que não seja final. Se não é final, não é conclusão. Simples assim. 6 – “Nova criação”: muito comum na área da moda. “Eis as novas criações de Karl Lagerfeld”. De novo: se foi criado, é porque é novo. E, se não é novo, não foi criado. 7 – “Há tantos anos atrás”: esse felizmente tem sido corrigido com o tempo, embora ainda seja um expressão muito popular na linguagem corrente. A utilização do verbo haver sucedido por uma quantidade definida de tempo há indica a referência ao passado. “Há 10 anos” ou “Há duas décadas”. A colocação de “atrás” depois disso é inteiramente desnecessária e, por isso mesmo, redundante. Se quiser ainda assim empregar esse vocábulo, desapareça com o verbo “haver”. Exemplo: “Isso aconteceu 20 anos atrás”. Fica mais feio, mas pelo menos é correto. 8 – “Empréstimo temporário”: novo pleonasmo que faz muito sucesso naquelas banquinhas do centro da cidade que vendem agiotagem disfarçada de facilidade. A noção de empréstimo implica necessariamente a devolução daquilo que se pegou emprestado depois de um certo tempo. Empréstimo permanente chama-se “doação” ou “compra”, a depender do caso. 9 – “Resultado do laudo”: a preferida dos legistas e dos delegados de polícia quando dão entrevista. “Eu vou analisar o resultado do laudo”. Ora, “laudo” já é um resultado da análise de alguma coisa. Da mesma forma que “conclusão final”, se há resultado, há laudo. Se não há laudo, não há resultado. Não confundir com “analisar o resultado do exame”, que é correta, pois o vocábulo “exame” não traz consigo a idéia de “resultado”. 10 – “Elo de ligação”: o mais tosco, o mais difundido e o preferido de 11 em cada 10 comentaristas de futebol na TV. “Falta um jogador que sirva com elo de ligação entre a defesa e o meio de campo do time”. “Elo” significa literalmente cada anel de uma corrente e, do ponto de vista figurado (mais comum), o elemento de união ou laço entre duas coisas. Portanto, quando se diz “elo” e depois “ligação”, está-se apenas a repetir uma idéia já expressa, sem qualquer necessidade. Ou você já viu “elo de separação”? Esses são apenas alguns casos mais comuns. Quem quiser, pode ficar à vontade para lembrar outros tantos que andam a tornar nossa linguagem um círculo vicioso de redundâncias.
Posted on: Sat, 07 Sep 2013 09:56:51 +0000

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