A existência individual de um homem deveria ser como um rio – - TopicsExpress



          

A existência individual de um homem deveria ser como um rio – inicialmente pequeno, contido entre margens estreitas, precipitando-se sobre rochedos e cascatas. Gradualmente o rio se alarga, as margens recedem, as águas correm mais tranqüilamente, e no final, sem interrupção perceptível, mergulham no oceano, e insensivelmente perdem a sua individualidade. O homem, que, em idade avançada, puder enxergar a vida desta maneira, não terá medo de morrer, porque as coisas que lhe são caras, continuarão. E se, com o decair da vitalidade, aumentar a fadiga, a idéia de descanso será até bem-vinda. Eu gostaria de morrer enquanto estivesse ainda trabalhando, certo de que outros continuarão a realizar a tarefa que eu já não posso cumprir, e contente, em pensar que foi feito o possível. Simone de Beauvoir em seu livro clássico sobre a velhice mostra, entre outras coisas, que o inconsciente não tem idade e que temos forte tendência a nos comportar, na velhice, como se jamais fôssemos velhos: aos 60 anos, raros são os que se consideram nessa condição e mesmo depois dos 80 anos há muitos que acreditam ser de meia-idade e uns tantos que continuam a se achar jovens. Como escreve Cícero, em seu famoso tratado De Senectute (Da velhice), "Todos querem chegar à velhice; quando chegam, acusam-na". E ainda: "Torna-te velho cedo, se quiseres ser velho por muito tempo". Pensamentos que ressoam, no século XVII, no dito de Swift e que, de certo modo, vão na mesma direção dos dados do livro de Simone de Beauvoir: "Todos desejam viver por muito tempo, mas ninguém quer chegar a ser velho".Em Ninguém escreve ao coronel, de Gabriel Garcia Marques, o personagem espera, em vão, uma carta do governo, outorgando-lhe aposentadoria e conferindo-lhe pensão. O coronel paramenta-se, arruma-se ao espelho e, semana após semana, se posta à espera da correspondência que não vem. Todos sabem que não virá, inclusive sua mulher. Mas essa é a forma de manter-se vivo, pelo ritual da esperança e, assim, pelo adiamento da pensão, protelar, em ilusão, a própria velhice. De algum modo, esse romance de Garcia Marques faz eco - mesmo que não intencional, como é provável que não seja - ao conto de Machado de Assis "O espelho" que integra o livro Papéis avulsos, publicado originalmente em 1882. Olhemos hoje para nosso interior e façamos a simples pergunta: O que me torna velho hoje? Algo que eu fiz no passado e que ainda não perdoei por completo?Algo que eu ainda não consigo renunciar,algo da minha própria personalidade que não consigo mudar? Para sermos novos,realmente novos,precisamos deixar para trás tudo o que passou, começando do zero,sem depois ter de voltar e concertar.Isso pode doer muito mais do que no momento em que estamos ainda “verdes” com o que aconteceu. Deixemos de uma vez a velha história.Aquela velha e monótona história que um dia vivenciamos.Mudemos!A cada dia tentemos mudar,tentemos ser aquilo que sonhamos! Não deixe que velhos fatos se tornem tempestades nas suas tardes de sol. Mude para o novo.Jogue fora o velho. Quando a velhice chegar, e rugas, dores e pesares marcarem nossos corpos ? E quando não mais houver prazer de animais em cio, carícias em pele de seda, perfumes da juventude, e a nossa conversa for uma eterna repetição de estórias, reclamações e saudades ? Guardarei comigo, muito mais do que o mapa decorado da tua geografia: A lembrança de uma tarde caminhando pela estrada - a flor do campo que colhi e prendi nos teus cabelos. Pio Barbosa
Posted on: Tue, 01 Oct 2013 23:14:43 +0000

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