A frase "é disso que o povo gosta", referindo-se à músicas de péssima qualidade que fazem grande sucesso popular, é uma falácia e tampouco é aceitável a justificativa de que o "povão" ouve isso porque não tem instrução ou acesso à informação musical. Ora, há algumas décadas esse mesmo "povão", com menos acesso à informação ainda, ouvia os refinados arranjos orquestrais dos Roberto Carlos, os acordes complexos da bossa nova, a batida suingada do samba, os malabarismos vocais dos boleros e até o "brega" tinha muita qualidade musical, sem falar nas manifestações regionais autênticas como o baião, o xote, o coco ou o maracatu. Ocorre que o mercado fonográfico, em um determinado momento entre os anos 80 e 90, conseguiu achar uma fórmula pra fabricar estilos, ritmos e músicas em quantidade industrial, tudo feito com teclados e programações padronizadas, juntando letras simplórias com conteúdo sensual e melodias fáceis. O resto veio como um câncer - as pessoas infelizmente engoliram esta produção em massa e os novos artistas, que poderiam ter criado coisas diferentes, mas resolveram surfar na onda, seja por esperteza ou por falta de referência mesmo.
Posted on: Wed, 04 Sep 2013 12:36:39 +0000