A nossa memória deve ter um control alt del automático, que utiliza o livre arbítrio programado para esconder ou enterrar histórias. Conversando com meus botões e minha sombra dias atrás, eles quase me convenceram que eu também tenho uma peça na minha cabeça que funciona quando quer. Depois de muita reflexão, inclusive com os olhos fechados, percebi que o assunto girava em torno da memória, que é um cofre. Para abrir a caixa de pandora é necessária uma senha. Para uns, de certo, é fácil, dois ou três algarismos ou letras. Outros, sofisticados têm uma senha que é formada por 9 dígitos incluindo letras e números. Tem também uns meio-loucos que para este segredo colocam uma senha absurdamente grande! 33 dígitos e, com o implante da internet no cérebro, incluem aquelas figurinhas com rostinhos que ora sorriem, ora estão gozando com o cara. Com todo o cuidado possível, assim mesmo, a memória falha ou varre pra baixo do tapete, digo, do couro cabeludo, fatos desagradáveis ou que aparentemente não tem importância. Isto que estou falando de algo simples, de nós mesmos, indivíduos crentes da vida eterna. Quando a memória é coletiva o sistema é um pouquinho mais complexo. Mês passado, conversando e tomando chimarrão com um amigo que fazia tempo que não o via percebi quanto estou atrasado no mundão véio de Deus. Perguntei: tu viste aquela história do vestido da rainha da festa da uva utilizado sem prévia autorização da dona e da Secretaria da Cultura?Respostinha: - não, não sei. Fiz mais indagações, pois o papo era aquele de jogar conversa fora, despreocupadamente, mas ligado ao fatos que acontecem e são divulgados pela imprensa. - E aquela notícia sobre a escolinha que está interditada há meses e que funciona dentro de uma subprefeitura... lembra daqueles estudantes que tinham aula dentro de um contâiner? - Também não vi. - Que tal este assunto que o Obama espiona todo mundo na internet, pelo celular? - eu não sei, mas acho que é mentira, não é possível escutar todo mundo... Fui pra casa frustrado. Como o meu amigo é feliz! Sem nem ter a grande oportunidade de assistir os crimes e roubos mostrados no JN... Ah, naquele horário ele já está dormindo para o outro dia levantar cedo para tirar o leite das vacas... Afinal a nossa memória é conectada por vários fios. Se um deles não está ligado, pra que saber de tudo e, principalmente, do sangue escorrendo durante os noticiários? Deve ser bom desligar e não saber que na Prefeitura de São Paulo um grupo roubou meio milhão de reais dos cofres públicos sem que os chefes soubessem ou que nunca tinham reparado tamanho rombo. Acho que esquecemos que no serviço público existe chefe, subchefe, diretor, secretário.... nenhum deles percebeu que 500 milhões havia desaparecido... Ora, diria eu, quando ainda dava aulas no curso de Economia: o bom administrador, o bom gerente, competente e de alto nível, percebe logo que está faltando tostões, que dirá milhões. Ou seja, a memória do povo é curta. E ninguém se preocupa em tirar os chefes e os diretores por incompetência (se não forem membros da máfia)... roubaram na cara deles e eles não viram? Minha memória está falhando, esqueci por quanto tempo estou desiludido com a memória dos outros... e eu esqueço, às vezes, que em algum lugar perdi a inocência e a visão do paraíso... Por falar nisto, esquecemos que fomos expulsos do Paraíso... Portanto, aqui não é o paraíso e nunca vai ser.
Posted on: Tue, 05 Nov 2013 10:28:02 +0000
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