A quebradeira de coco Publicado em Conto por helenarcoverde em - TopicsExpress



          

A quebradeira de coco Publicado em Conto por helenarcoverde em 07/12/2012 Editar A chaleira fumega no fogareiro. Ao lado, o bule inutilmente areado. Outras trempes se sobrepõem ao carvão e a restos de tocos que disputam, com as primeiras luzes, o clarear da cozinha ainda escura, pareada com a minúscula sala de adobe com ripas a mostra. O homem espia o bule. Ávido, faz o mesmo com o bolo frito. A mulher, ao perceber o interesse, avisa: um pra cada. Ele, meticuloso, escolhe o que presume ser o maior. As crianças fazem o mesmo. Todos de pé, medem com o olhar a diminuição do bolo. A mulher os olha, mão no quadril, impaciente com a demora. Põe o café no copo florido e olha conformada a pequena bacia engordurada e vazia. As goladas são rápidas. Alcança a porta e põe-se, sozinha, na trilha empoeirada e seca. O marido logo a alcança. Não se falam. Alguns quilômetros adiante, cada um, sem despedidas, segue direções diferentes. Ele vai embora, facão embrulhado em restos de tecidos amarelados; ela, apenas uma rodilha e uma bacia que faísca ante a incidência dos raios. Atravessada ao corpo, uma sacola de embira com uma pedra e uma pequena machadinha. Sem o revestimento, o cabo é envolto em tiras sobrepostas. A mulher afasta do caminho um galho viçoso. Diferentes matizes de verde se misturam a algumas folhas amarronzadas que, com o gesto, caem, leves. Mais adiante, abaixa-se e ajeita o cabresto do chinelo já sem parte do suporte do calcanhar. O gesto é mecânico. Mais passos e ela para, ciosa da chegada. Derreia os objetos ao chão, em meio a folhas e cocos caídos. Começa, então, a juntar os mais próximos até formarem um monte amarronzado. Senta-se perto dos utensílios trazidos. Quase agachada, junta as laterais da saia e as arruma entre as pernas. Acocora-se. Perto de si, a pedra. Arruma sobre ela, agilmente, cada um dos frutos. Eles são quase ovais, alongados, findam pontudos. Com a machadinha, parte-os quase ao meio. Com a mão, termina o processo. Uma textura feita de fibras alongadas esconde o fruto. Extraído, guarda-o na bacia. A casca violada é jogada ao lado. Cansada da posição, a mulher agora se senta e a abertura das pernas forma um ângulo que abriga a pedra e os utensílios. Quando o sol se vai, a bacia cheia é coberta com um pano. O monte amarronzado muda de lado e a casca resvala em meio a outras derreadas na terra seca. A mulher arruma a rodilha sob a bacia e prepara o retorno. Os passos são rápidos e cuidadosos. Em casa, acenderá novamente o fogo. Assoprará as fagulhas e pedirá à criança que o abane. Fará cada prato, conforme o tamanho da fome e do homem, até que o cantar do galo a lembre de mais uma jornada. disponível em helenarcoverde.wordpress
Posted on: Wed, 09 Oct 2013 02:20:28 +0000

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