A querida Júlia Porto sempre posta coisas muito interessantes sobre suas vivências pedagógicas... interessantes porque reais... são textos que tem luzes, sombras, cores, texturas, cheiros, barulhos e silêncios de crianças... esse não resisti precisei compartilhar: i love you - toda vez que eu dou bronca em um aluno ou quando elas me percebem chateada por alguma razão, ana e maria vêm até mim, abraçam minhas pernas e dizem: teacher, i love you. o sistema nunca falha, também vale para quando a bronca é dirigida a elas e é acompanhado por um pipocar de i love you das outras crianças. nestes momentos, independente dos motivos da bronca, eu estou me esfaqueando por dentro, pensando no quão má e cruel sou capaz de ser e na minha incompetência enquanto professora. este sistema também nunca falha e é acompanhado de um pipocar de autocrítica e autodepreciação meu. e - pasma percebo - somente meu. i love you too, respondo com um abraço pensando em como eu não mereço uma turma tão amorosa mesmo sendo tão maquiavélica. mas eu não sou má e cruel, nem eles amorosos, o tempo todo. ao contrário, somos todos pessoas com qualidades admiráveis e defeitos graves. assim como eu nunca desisto deles, acarinho, cuido, faço trança, dou remédio, sento do lado por uma hora até a lara acertar escrever o número 8, coloco o rafa nos meus ombros pra ele desenhar no alto, protejo com meu próprio corpo a iminente queda do alto da árvore, eles eventualmente não me obedecem, são crueis e intransigentes uns com os outros, fazem maldades e ignoram os avisos que antecipam a bronca. tenho minhas dúvidas sobre generalizações do tipo eles sempre sabem quando fazem coisa errada e não me atrevo a afirmar isso; em alguns casos, eles não devem saber ou a coisa errada é bem mais divertida que a coisa certa. mas uma bronca é sempre uma bronca e só me arrisco a dizer que ele soube que aquilo que fez foi errado. como eu, se sentem mal consigo mesmos, ficam cabisbaixos, param. os i love you que eu ouço seguidos pelo abraço que eu dou no que levou a bronca, no fim das contas, querem dizer a mesma coisa: a bronca não significa nada perto do mundinho de amor, humor e companheirismo que criamos para nós. compartilhamos o amor e o sentimento de culpa. e a vida segue.
Posted on: Thu, 14 Nov 2013 10:07:01 +0000
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