A restauração em marcha por: Saul Leblon Os 500 maiores - TopicsExpress



          

A restauração em marcha por: Saul Leblon Os 500 maiores fundos globais do planeta recuperaram o volume de recursos anterior à crise de 2008; papéis de grandes corporações dos EUA acumulam um recorde A coagulação rentista ganha corpo e se expande no caldeirão da inércia econômica pós-2008, aqui e alhures. É como a nata que toma conta da superfície líquida, à medida em que a temperatura sobe na leiteira. A pregação sem rodeios do arrocho em defesa dos juros e contra o salário mínimo, ecoada por assessores econômicos de Aécio - sintomaticamente não autorizada por ele - é parte da restauração em marcha. Aqui e alhures estão de volta os que nunca se foram. Apenas haviam submergido, parcialmente, quando o auge da ganância rentista desligou a fornalha para mitigar os efeitos da implosão descontrolada da crosta especulativa que inflamou todo o ambiente econômico. Os mesmos protagonistas, as mesmas propostas, as mesmas somas desconcertantes de capital fictício avultam outra vez em espirais ascendentes. O conjunto sugere coordenação. Mas a coordenação que existe é a da ação por gravidade de interesses nunca efetivamente afrontados nestes cinco anos que separam a quebra do Lehman Brothers, dos dias que correm. Os dados internacionais são sugestivos da espuma ascendente de onde decolam as bolhas. O comportamento anêmico da inflação nos EUA atesta a ainda frágil recuperação do emprego e das vendas na maior economia do planeta. O mundo real se arrasta sem a força e a velocidade regeneradoras de outras retomadas. Mas os preços das terras agrícolas, o custo do m2 nos centros e comerciais e , especialmente, a cotação das ações avançam com desenvoltura. Como é possível a nata se recompor se a temperatura persiste morna na base? Uma parte da explicação remete ao fato de que essa crise preservou, em grande parte, a higidez da riqueza fictícia que a originou. O leite derramado em jorros de fome, empobrecimento e desemprego não arrastou o grosso da nata gordurosa para o ralo. Salvou-a a ação generosa das injeções fiscais e monetárias disparadas pelas autoridades econômicas e os Bancos Centrais. E teria sido muito pior se tal não acontecesse. A restauração em curso não denigre a ação contracíclica onde quer que tenha sido acionada, antes, atesta o seu acanhamento e insuficiência. Desprovida de políticas ativas de natureza regulatória, fiscal e tributária que pudessem restaurar a supremacia do interesse público sobre os apetites unilaterais da bocarra financeira, a ação do Estado ficou travada entre a boa intenção – quando houve - e a inexistência de um protagonista político capaz de desdobrá-la em reordenação do desenvolvimento. O governo Obama é a síntese desse lodaçal onde as boas intenções empoçam sem dispor de uma alavanca política que as faça prosperar além da correlação de forças prevalecente. Alguns números ilustram o tamanho da restauração em marcha. Os 500 maiores fundos globais do planeta recuperaram o volume de recursos anterior à crise de 2008: seus gestores dispõem novamente de US$ 68 trilhões para bancar apostas em um planeta cujo PIB é pouco superior a US$ 70 trilhões. Há mais. Informações do Wall Street Journal desta 2ª feira flagram a famosa ‘exuberância irracional’ exercitando as asas nos mercados acionários. Uma das características da crise de 2008 foi a inflamável dissociação entre o valor especulativo das ações e os fundamentos aos quais elas deveriam se reportar crivelmente - as fatias proporcionais dos lucros das empresas cabíveis aos detentores das carteiras acionárias. A relação preço/lucro (P/L) atingiria níveis marcianos nos idos de 2008, requerendo múltiplos decênios de alta rentabilidade para justificá-los. Quando o cipó de aroeira se abateu sobre os pregões, as bolsas derreteram: as perdas foram da ordem de US$ 11 trilhões, umas oito vezes o PIB brasileiro. Vai por aí a coisa novamente? Há suspeitas borbulhantes no ar. Na semana passada, a Twiter Inc. fez uma emissão primária de ações e vendeu instantaneamente um volume de papéis no valor de US$ 2,1 bilhões. A volúpia reprodutiva do capital fictício fez os preços das ações saltarem de US$26 no lançamento, para US$ 44,90 no fechamento dos negócios: 43% de alta. O preço de mercado da Twitter registrou uma sob todos os critérios apreciável valorização de US$ 10 bilhões. Na manhã da quinta-feira (07/11) a Twitter Inc valia US$ 15 bi; na tarde do mesmo dia, seu preço havia saltado para US$ 25 bi. Nem todos serão incinerados exemplarmente como Eike Batista, ex-mago da Veja, Exame, Valor etc. Mas a mecânica é a mesma. E guarda profunda semelhança com o exuberância anterior a 2008. Com um agravante: talvez agora os lírios floresçam e feneçam em ciclos explosivamente mais curtos. A tinta do desastre ainda está fresca na memória dos mercados. Nada que os faça abdicar voluntariamente de uma natureza intrinsecamente especulativa e irracional. Mas o torque da sofreguidão ficou mais arisco. Ele acelera o ritmo para dançar o baile e sair antes que a porta se feche. É uma corrida entre a esperteza e a gula, não há vaga para a seriedade. O mesmo insuspeito Wall Street Journal informa que as empresas norte-americanas já captaram US$ 51 bilhões em emissões primárias de ações este ano. É o maior volume desde os US$ 63 bi de 2000. Outros papéis de grandes corporações dos EUA acumulam um volume de captação da ordem de US$ 910 bilhões – recorde em 13 anos. E assim por diante. A liquidez faminta vive a sua maré de lua cheia e vasculha a terra firme em busca de um porto seguro. É nessa antessala de uma próxima e quase inevitável vazante que a ortodoxia e o jornalismo conservador multiplicam os decibéis em defesa daquilo que em sua opinião deve suceder ao governo Dilma em 2014. A saber: - esvaziar o grande trunfo brasileiro para enfrentar a turbulência internacional, qual seja, o mercado interno de massa baseado em níveis elevados de emprego e na preservação do poder de compra popular; - deflagrar um longo ciclo de altas contínuas dos juros para devolver a inflação ao centro da meta mesmo que a custa de uma recessão; - desmontar todas as políticas ativas de indução ao desenvolvimento e diminuir o tamanho do BNDES; - delegar o destino da base industrial brasileira à competição selvagem da manufatura asiática e norte-americana, com um forte tranco de redução abrupta de tarifas; - deixar o dólar atingir a cotação que os mercados quiserem e quando eles quiserem; - desfrutar o desemprego e a mudança nos termos das trocas internacionais, decorrente desse conjunto, para baratear selvagemente o custo do trabalhador brasileiro. Esse é o lacto purga apresentado como farmacêutica moderna pelo insopitável espírito público de economistas que, no passado, como se sabe, levaram o Brasil ao bom destino. Eles farejam a restauração em marcha. A proposta que preparam para Aécio, em 2014, é incluir o Brasil nela. De joelhos.
Posted on: Tue, 12 Nov 2013 11:44:23 +0000

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