AMIGOS LIBERAIS, SOCIALISTAS E AMANTES DESTA PÁGINA – SÉRIE - TopicsExpress



          

AMIGOS LIBERAIS, SOCIALISTAS E AMANTES DESTA PÁGINA – SÉRIE CONTOS DE ADEMÁRIO ALVES. ADEMÁRIO ALVES O AMANTE DA ESCURIDÃO Ademário Alves Aristides tinha um imenso fascínio pelas coisas da escuridão. Tudo para ele representava a escuridão abissal. E a inexistência definitiva da luz era o seu semblante mais fatídico de uma essência a qual ele a vinculada com a escuridão de seus atos espirituais. Nestas circunstâncias, Aristides não acreditava na salvação do homem, tampouco comungava da ideia de que havia um lugar iluminado para aqueles que morreriam aqui na terra. A noite era a sua musa. Aristides amava a noite. A noite negra. Profundamente escura que o fizesse lembrar-se das mais impiedosas trevas. Definia-se como o homem das trevas, o amante das noites negras. O encantador de eclipses. Quando havia uma elipse, Aristides ficava eufórico e saia de casa feito um louco e como um andarilho procurava refúgio nos rochedos sombrios, nos vales, nas margens do lago escuro onde muitos perderam a vida. Costumava subir numa serra próxima a sua casa e lá contemplava aquele vale sombrio e profundo que apavorava ao espirito. Impávido, Aristides mergulhava em si mesmo. E, como um navegante pelo sem fim, pela espessura diametral do cosmos, dizia que se deus fosse a luz, ele não queria vê-lo. Aristides ficava tempos por lá. Sentado sobre uma pedra negra, aquecida como uma turmalina rara. Pensava na infância, nos quadros negros que via na parede da igreja e no véu das viúvas de sua terra natal. Chorava profundamente amargo entre aqueles bosques que via ao lado de uma catedral, que mais parecia com as sombrias paredes de um mosteiro encravado nas Montanhas da cordilheira, mais ao norte. Aristides prumava viajar por entre aqueles rochedos, mas não dava o primeiro passo. Afinal, tinha ele medo de Deus. Na noite negra, ele sussurrava palavras que recordavam as rupturas mais difíceis de sua vida. A morte e a despedia de seus amores mais impiedosos. As mortes de sua vida chamavam-se de Moema, sua primeira namorada; e de Chocalhou seu primeiro cão de estimação. Pela morte, seu coração atendia batidas profundas e Pietra, a única e inesquecível amada, era o ritmo destoante destas batidas. Era sempre como um cortejo fúnebre. Como uma poesia de Alvares de Azevedo. Era como um conto de Ademario Alves. Seu ídolo entre todos os ídolos. A cada compasso, um descompasso. A cada ritmo, uma macrocefalia de sons. Seus ouvidos espirituais já não conseguiam mais devolver-lhes a paz que o haveria de encontrá-la nas cordilheiras da vida. Uma poesia de um Clérigo Judeu e uma frase de um poeta polonês. Não se sabe o porquê, mas Aristides nunca revelou os nomes deles. Moema, no último dia, deu-lhe um beijo na face esquerda e uma rosa radicalmente vermelha. Pietra não lhe disse nada. Com um olhar profundo, destruidor de ilusões e catequético, ela partiu em silêncio. Aristides, sem nada poder dizer, e, porque não poderia ter dito nada, assistiu Pietra partir sozinha, com um vestido longo e negro como as noites que ela amava admirar. A lua era a sua maldição e as estrelas o deixavam profundamente melancólico. Pietra. Viu-a cruzar espaços, romper paredões, mergulhada no manto cinzento da tarde que esperava uma noite negra abissal. Ela entrava em um trem, que parecia levar um pedaço de si. É preciso não esquecer que aquela imagem do trem, cortando paredões, era a única lembrança de alguma claridade que a sua memória resguardava intocável. Resguardava nos intervalos de lucidezes para fazer-lhe observar a vida como se observa uma revoada de pombos negros. Quando, para ele, viver era praticamente impossível. A vida era um holocausto sem Moema e um martírio ao vazio à ausência de Pietra. Melhor mesmo era sumir naquela noite negra. Aristides nunca confessou isto a ninguém. Pietra o fez reconhecer que ele era um homem insignificante no temor da sua existência melancólica. Para que viver então? Perguntava-se. A despedida era de algo que ele não viveria. Mas, como despedir-se de algo não impresso aos toques mínimos da existência crucial entre as rosas vermelhas de Moema e o silêncio inesperado de Pietra? Aristides não confessaria os motivos de viver daquele jeito. Por e por luto dela, ele usaria o preto da noite por toda a vida. Por ela, e somente por ela, ele jurava mergulhar nos mistérios da escuridão e reviver lamentos sobre o véu negro das viúvas de sua terra natal. Aristide chorava escuridões abissais. Clamava por noites negras. A noite negra e profundamente abissal, com e tempestades e com trovões que assustavam o espirito, o fariam desesperar-se mais de uma vez. Ele se desembaraçava quando uma centelha de claridade aparecia para iluminá-lo silenciosamente. Aristides não pensava em voltar para a casa de seus antepassados. Era ele um canto fúnebre de um pássaro negro, no meio da estrada em dia claríssimo a cantar as baladas do vento leste. Ele saberia distinguir as razões de uma emoção que faria também seu pesar profundo. Trevas, sombras, vazio, melancolia, desprezo, desespero, abandono, angústia, infelicidade. Se Pietra não estava mais ali com ele, o que adiantaria estar o resto, inclusive, a vida? Aristides derramava-se em melancolias. Escalava Montanhas de desgosto. Em noites tomadas pelas aparências das trevas, ele não dominava as emoções. Das emoções era ele um sombrio homem que ouvia vozes internas dizendo que ele deveria confessar-se á vida porque assim não o poderia estar atento aos girassóis da luminosidade. Aristides era um homem facilmente capturavel pelas palavras que fossem desanimadoras, obscuras, sombrias, vazias, melancólicas. Era ele o inimigo inconfessável das trevas da noite negra. Não chamava por Apolo nem por Pedro e Paulo porque, no fundo, sabia que eles não poderiam salvá-lo. Viveria condenado às trevas e sem uma palavra de conforto. Aristides era esse homem amargurado, sombrio e confuso. O resto de Sol da montanha pudesse ter parecido iluminar o rosto. O rosto era plangente. A voz era trêmula. Os pés pareciam cambalear lhe o corpo. Havia dezenas de dias vívidos entre o fogaréu da paixão por Pietra e as encruzilhadas que por o preparavam para ele. Falava muito em morrer porque era um homem que vivo parecia o testemunho exato da morte. A vida era assim mesmo: um conjunto de palavras que lhe traria as trevas, o medo e a inexatidão da alma. A existência para ele parecia um sacrifício inimaginável. É justo pensar e ater-se ao fato de que os raios, que pareciam iluminar a alma plangente e trazer-lhe surtos de lucidezes, que o fariam lembrar-se lhe da passageira vida do homem do homem amargurado entre tantas tratativas e desesperos do destino. Aristides era um poema de Byron e uma frase de Homero. Um dia, assustado, pareceu não querer acordar-se. Aristides só queria ver os deuses da escuridão. Não ia ao trabalho. Não dava sinais de que era um individuo normal. O único mundo era o da escuridão profunda, das noites negras, das trevas de que tanto o falavam os cristãos. Entreva no templo: chorava. Tirava os sapatos e inclinava-se incorpóreo entre as incertezas de uma espiritualidade transitória. Ate que repicassem os últimos sinos, ele pareceria um homem condenado á morte pela sentença da própria vida. Aristides dissecava-se em dor. Aristides entrava em fúria consigo mesmo quando, nas noites de tempestades, com ventos assombrosos, os raios cortam o clamor de seus olhos e clareavam os céus sem lhe pedir permissão. Tiravam sua paz em essência, seu discurso mais próximo aos desses da morte. Condenava-o, nesta lacuna inarrável, a claridade que se fazia rasgar o horizonte em feixes de luz impontáveis. Furioso e incontrolável pensava em suicídio. Pela escuridão da noite, ele era capaz de matar e morrer. Tudo que simbolizava a escuridão, Aristides dava sua atenção inexorável. A mais sensata sorte de estar vivo era para ele a certeza de que a escuridão da noite era a sua salvação imediata. Aquilo que surgia silencioso sem a certeza dos cristãos e sem as curvas do trem cinzento que levou Pietra. A noite profundamente negra o encantava. Atraiam-no as profundezas do mar. Acalmavam sua alma as profundezas da terra. Ele jamais teve alguma aptidão para querer encontrar motivos para enxergar o Sol ou as coisas que a luz deixava visivelmente concretas. Aristides era a ilusão de um dia ter amanhecido livre entre os homens comuns de sua aldeia. ADEMÁRIO ALVES 03.07.JULHO O AMANTE DA ESCURIDÃO
Posted on: Thu, 04 Jul 2013 01:13:13 +0000

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