AMOR E REVOLUÇÃO (tá, isso também se refere à tal novelinha - TopicsExpress



          

AMOR E REVOLUÇÃO (tá, isso também se refere à tal novelinha do SBT, como deboche, claro) Esqueça aquela baboseira de que revolução é algo romântico. Não, não é. Revolução é sangue, bombas, famílias destruídas. Uma revolução não acontece somente “por um mundo melhor”, ela acontece quando o mundo está o pior possível, insuportável, e vale a pena quebrar todas as estruturas de dominação. Se você não sabe ao certo o tamanho de sua alienação, se não sente as correntes do sistema apertando seus pulsos, triturando seus ossos e sonhos, levando seus dias de juventude e devolvendo uma carcaça velha e angustiada, pronta para morrer depois de uma vida inteira de trabalho sem sentido: você não está pronto para a revolução. Esqueça toda a baboseira de “endurecer sem perder a ternura”. Che Guevara foi apenas um comercial da revolução, o lado romântico que fazia amantes suspirarem pensando em guerrilheiros perdidos na mata, rifles de lado e um violão no luar. Não. Imagine uma bomba despedaçando um carro oficial, metralhadoras dizimando tropas governistas, execuções dos traidores da luta. E colegas perdendo braços, olhos, pernas e a vida. Isso é preciso na revolução. Repito: se sua vontade de mudança não for maior que seu desejo de abandonar a própria vida por um ideal, não fale em revolução. Não pense em revolução. Sente e aguarde o mundo mudar por conta própria, o que nunca acontecerá. Não existe revolução “sem violência”; não existe uma “Era de Aquário” em que os poderosos, os ricos e os governantes abrirão mão de seus privilégios pois foram tocados pelo “amor ao próximo”. Revolução é roubo, é usurpação. Não, não. Revolução é retomada, recuperação, pois “a propriedade é um roubo”. Um milionário desfilando num carro importado enquanto milhões se espremem no ônibus para trabalhar em suas empresas; um presidente recusando um sanduíche que está frio enquanto milhões de seus cidadãos passam fome; um médico gastando meio milhão por um diploma enquanto pessoas morrem à espera de atendimento: ISSO É UM ROUBO! Aquele grito que devora a garganta, sufoca a alma, faz tremer diante da injustiça, a impotência. A revolução é a justiça. A revolução é a necessária transformação do ser, que se opera no espírito, que faz o ódio contido do injustiçado borbulhar e tomar a forma de ação. Ação. Mas a revolução não é só a quebradeira, a destruição das estruturas opressoras – é a profunda transformação que permite que a destruição se converta em criação, transformação. Dizia Kropotkin que “o que apavora um grande número de trabalhadores e os afasta das ideias anarquistas é essa palavra ‘revolução’, que lhes faz entrever todo um horizonte de lutas, combates e sangue vertido, que os faz tremer à ideia de que um dia eles poderão ser forçados a ir para as ruas e combater um poder que lhes parece um colosso invulnerável contra o qual é inútil lutar violentamente, e que é impossível vencer” (Kropotkin, A fatalidade da revolução). De fato, o povo teme a luta, pois está acostumado a apanhar silenciosamente, a enfrentar todos os dias o fantasma da fome, da humilhação e da violência. Ainda, enfrentamos um problema recente (e que nos aparece na mídia como a salvação dos pobres!), o da inserção das camadas oprimidas na sociedade de consumo, não apenas de víveres básicos, mas de certos supérfluos que transformam sua cosmovisão da realidade. Com tamanha promoção do modo de vida dos ricos, com a enganação de que todos têm acesso irrestrito ao universo da fama e do glamour, com a conversão da mercadoria em moda, do lazer em entretenimento, com estruturas de dominação cada vez menos aparentes, mais onipresentes e ideologicamente mais bem sedimentadas, o medo da luta soma-se com um sentimento de pertencimento ao sistema, desejo de integração substituindo o de aniquilação. Não percebem que sua aceitação no sistema se faz com seu endividamento, sem transformação verdadeira dos instrumentos de libertação dos pobres – a educação e a desmistificação. E é aí que a revolução deve ser interiorizada: no esclarecimento, na luta contra a máquina que domina não apenas o corpo, mas a alma. Um libertário deve ser assim também na educação, na horizontalidade da informação e na quebra do paradigma do “professor autoridade”, pois o processo de esclarecimento é sempre mútuo. Devemos refletir o que comemos, o que compramos, o que nos educa e nos modela. Até os livros podem ser instrumentos de saber e de alienação, e portanto devem ser encarados com senso crítico. Uma aglomeração democrática pode se tornar uma ditadura de uma maioria cruel e sedenta por justiçamento, basta que a liberdade deixe de ser observada. A revolução deve ser um ato de amor, ao mesmo tempo em que se converte num ato de ódio – ódio ao que é mortal, faminto pelo poder, ao que cerceia a liberdade e mantém os homens na condição de escravos: o sistema econômico. Devemos nos reunir numa luta constante, cotidiana, uma comunidade de homens livres em que o lema “sem deuses, sem mestres”, em que “de cada um, segundo sua capacidade, a cada um, segundo sua necessidade”, seja sua busca. A luta deve ser na carne e no espírito, nas ruas e dentro das casas. Não se engane com o pacifismo daqueles que pedem “sem violência” ou “sem vandalismo”, eles também não querem que as coisas mudem demais. Querem o pequeno benefício, uma justiça aparente que restitua sua significância social, mas sem quebrar demais os alicerces podres da sociedade, sem libertar as amarras dos oprimidos. “O povo unido jamais será vencido”, porém, o povo é feio, fede, não respeita nada. O povo, para eles, somos nós, mas não todos nós. Desconfie de quem não quer a mudança radical, pois seu desejo é que não se mude quase nada. Quando te disserem, por fim, que devemos reagir, mas “sem violência”, pergunte ao interlocutor onde o “povo acordado” estaria, não fossem as balas de borracha e o spray de pimenta em meia dúzia de jornalistas e estudantes. Pergunte se ele acredita numa revolução sem luta e sangue, bombas aqui e acolá.
Posted on: Sat, 13 Jul 2013 04:31:56 +0000

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