ARROCHO Parcimônia O caralho. Parcimônia é pra compra do supermercado e pra entrevista de emprego. E acho que fui até parcimonioso demais, a geladeira está sempre vazia quando acordo de madrugada e estou desempregado. Uma coisa leva à outra, eu acho. Mas falar de entrega é outra coisa. Eu não dou risada em prestações. Eu não choro em prestações. Talvez eu morra em prestações, e era isso mesmo que você queria. Pra facilitar na hora de enterrar os restos. Você flagrada pelas câmeras com as malas e os sacos de lixo no hall do elevador. Mas não conseguiu esconder tudo direito, um detalhe ficou no pet cemetery, uma pista para os legistas. Uma certa opulência indisfarçável. Como quando alguém descobre um vinho bom, quem nunca comeu melado quando come se lambuza. Deixo, então, a parcimônia para os pareceres dos advogados. E para os condenados que apodrecem nas cadeias. Eu tenho mantido as janelas todas escancaradas, quero aproveitar o fato de que não há mais barras de proteção. E o vento e as luzes são abundantes, todo o barulho do mundo e nem preciso passar na caixa registradora. Gosto quando me agradecem por dar uma gorjeta maior que os 10%. E sempre pago à vista, porque não quero ter dívida sobre algo que posso perder a qualquer momento. Os ladrões estão por todos os lados, levando embora as malas e os sacos de lixo. Ah, sim, outra coisa. Não quero mais flagrá-los, optei pela inocência. Ontem mesmo mandei retirar as câmeras de segurança.
Posted on: Sat, 10 Aug 2013 15:30:05 +0000
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