ARRUANDO PELAS RUAS DA BOA VISTA Cruzando a Ponte da Boa Vista, - TopicsExpress



          

ARRUANDO PELAS RUAS DA BOA VISTA Cruzando a Ponte da Boa Vista, fundida em ferro na Inglaterra e aqui instalada em 1876, tendo em suas cabeceiras uma evocação às principais datas da história pernambucana, chegaremos à Rua da Aurora, que tem esse nome por estar voltada para o nascente. Continuando a caminhada, seguiremos na direção oeste pela Rua da Imperatriz Tereza Cristina, uma rua de casas comerciais, na qual predominam antigos sobrados de três e quatro pavimentos, alguns deles revestidos de azulejos do século XIX. Esta rua é originária do Aterro da Boa Vista, iniciado na cabeceira da segunda Ponte da Boa Vista, quando do governo de Henrique Pereira Freire (1737-1746), em face das águas do Capibaribe chegarem nessa época até a atual Rua do Hospício. No “Aterro da Boa Vista”, como ficou sendo conhecido até a segunda metade do século XIX, estabeleceram-se comerciantes, reservando-se os andares superiores dos sobrados para residência das famílias. No nº 147 nasceu, as 8h30m da manhã de 19 de agosto de 1849, aquele que viria a ser o mais importante líder do movimento em favor da abolição da escravatura negra no Brasil, Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, falecido na função de embaixador do Brasil em Washington, em 17 de janeiro de 1910, que passou para História como o " Patrono da Raça Negra". No final da atual Rua da Imperatriz, como ficou sendo conhecida, a Irmandade do Santíssimo Sacramento da Boa Vista fez erguer o seu templo entre 1784 e 1793, tendo recebido entre 1840 e 1879 sua monumental fachada em mármore, esculpida pelo artista português Francisco de Assis Rodrigues, da Real Academia de Belas Artes de Lisboa, só concluída no final do século XIX. Foi na Boa Vista que, a partir de 1917, ano da Revolução Russa, fixaram-se centenas de famílias de judeus askenazins emigrados da Bessarábia (Moldávia), Polônia, Ucrânia, Iugoslávia e de outras regiões do Leste Europeu. Tipos ruivos que logo fixaram suas residências em antigas casas e sobrados existentes nas ruas Velha, da Glória, de Santa Cruz, Leão Coroado, da Alegria, Visconde de Goiana, Marques Amorim, Barão de São Borja, do Jasmim, do Aragão, dos Prazeres, Visconde de Suassuna formando assim a nova comunidade judaica do Recife. Os descentes desses pioneiros encontram-se hoje integrados à vida social e cultural da cidade. Aqui a comunidade judaica mantém três sinagogas, o Colégio Israelita, o Clube Israelita e o Cemitério Israelita do Barro. Na Praça Maciel Pinheiro, teremos ocasião de contemplar uma notável fonte portuguesa, em mármore (7,85 m de altura), disposta em quatro planos, na qual quatro ninfas e uma índia aparecem sustentadas por quatro leões em repouso. Trata-se do mais belo monumento da cidade, erguido em comemoração ao término da Guerra do Paraguai (1864-1870), esculpido em Lisboa pelo artista Antônio Moreira Ratto (1818-1903) e ali instalado por subvenção popular, em 31 de março de l875. Coube ao Diario de Pernambuco, em sua edição de 1º de abril, publicar uma circunstanciada descrição deste monumento: "Avisos Diversos – Foi inaugurado um importante chafariz de cantaria de Lisboa e que aí foi zelosamente trabalhado na oficina de escultura do sr. Antônio Moreira Ratto, cujo mérito artístico de comprovado está dispensado qualquer elogio. O chafariz mede da base, que é em forma de cruz e assentada em granito, até o cimo do emblema representando a América – uma cabocla selvagem – que o coroa, 7,85 m; à base sobrepõem-se quatro leões curvados sobre as patas, olhando aos quatro pontos cardeais e sustentando com suas cabeças uma grande bacia de 3,18 m de diâmetro. Sobre esta bacia quatro ninfas em pé, simetricamente dispostas em atitude de se banharem, recebem a água que desborda da segunda bacia que lhes sobre fica e que é menor do que a primeira, pois só tem 2,11 m de diâmetro. Cada uma das ninfas conta de altura com 1,60 m. A terceira e última bacia mede 1,80 m de diâmetro. Nas colunas que se interpõem a primeira e a segunda, como esta a terceira, bem como as que bordam a parte exterior das mesmas, são delicados trabalhos de escultura que recomenda de sobremodo o talento artístico do cinzel que o fez surgir da pedra. Na execução, porém, da figura que simboliza a América concentrou o escultor todo o seu gênio e cuidado: a expressão fisionômica verdadeira, o porte altivo da estátua, ressaltando o tipo da raça primitiva. O cocar e o cendal de penas que a vestem, o colar de búzios que lhe adorna o peito, só não iludem à falta de colorido que a pena exclui." Nesta praça, viveu sua infância, na casa de esquina com a Rua do Veras, a escritora Clarice Lispector (1925-1977), cuja estátua em cimento lá se encontra em obra recente do artista Demétrio Albuquerque (2006). Sobre o bucolismo desta praça o poeta Eugênio Coimbra Júnior (1905-1972) escreveu um dos seus mais belos sonetos, cujos versos iniciais lá se encontram transcritos, no painel em cerâmica no meio de um de seus canteiros: Cidade velha: em meio à praça, a fonte Todo o jardim cercado de gradis. Maciel Pinheiro, queres que te conte? Nem mesmo criança fui jamais feliz. Continuando nosso arruar pela Boa Vista, iremos em busca da Rua da Conceição, que ainda conserva edificações remanescentes dos séculos XVIII e XIX, algumas delas ostentando azulejos do século XIX em suas fachadas. No início desta rua poderemos conhecer a primitiva igrejinha de Nossa Senhora da Conceição dos Coqueiros, erguida em 1683 por Cristóvão de Barros Rego, que hoje tem por orago Santa Cecília. Em 1898, por iniciativa do monsenhor Augusto F. M. da Silva, passou o templo a sediar a Irmandade de Santa Cecília, padroeira dos músicos do Recife. Esta sociedade era responsável pela fiscalização do exercício da profissão de músico, papel hoje ocupado pela Ordem dos Músicos do Brasil, tendo os seus sócios de prestar exames de harmonia, solfejo e técnica instrumental a fim de poder exercer a profissão. Fundada em 1788, na Igreja de São Pedro dos Clérigos, a irmandade dos músicos vagou por mais de um século por diferentes igrejas do Recife. Em 1789, encontrava-se a irmandade ereta na Igreja de Nossa Senhora dos Homens Pardos do Livramento, onde permaneceu até 1840. Transfere-se para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e, em 1881, vai procurar abrigo na Matriz de São José, onde permanece até 1898 quando, finalmente, passa a ocupar a primitiva capelinha de Nossa Senhora da Conceição dos Coqueiros. Na mesma rua também se encontra localizada a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos da Boa Vista (1788-1836). Em sua nave, junto ao altar-mor, está sepultado o liberal pernambucano Gervásio Pires Ferreira (1765-1836), presidente da junta que depôs, em 26 de outubro de 1821, o capitão-general Luiz do Rego Barreto, último governador português de Pernambuco. Até 1817, neste templo eram coroados os reis e rainhas do Congo da Paróquia da Boa Vista. Ainda no templo de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos da Boa Vista, cuja pedra fundamental data de 26 de julho de 1788, encontram-se sepultados os restos mortais do historiador pernambucano Francisco Augusto Pereira da Costa, nascido no Recife em 16 de dezembro de 1851 e falecido na mesma cidade em 21 de novembro de 1923. Seu túmulo está assinalado por um brasão, semelhante ao do estado de Pernambuco, esculpido em mármore pelos marmoristas A. Flores & Paz, em que aparece em destaque a frase de Oliveira Lima: O mestre de todos nós. Seguindo-se do perfil do falecido, por ele mesmo escrito: “Sou um simples cronista, como que o rude mineiro que desce às profundezas da Terra, extrai o diamante informe, cheio de impurezas, e o entrega ao perito e paciente lapidário para lhe dar brilho e valor”.mármore pelos marmoristas A. Flores & Paz, em que aparece em destaque a frase de Oliveira Lima: O mestre de todos nós. Seguindo-se do perfil do falecido, por ele mesmo escrito: “Sou um simples cronista, como que o rude mineiro que desce às profundezas da Terra, extrai o diamante informe, cheio de impurezas, e o entrega ao perito e paciente lapidário para lhe dar brilho e valor”.
Posted on: Thu, 29 Aug 2013 23:31:43 +0000

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