AUTOGESTÃO: PROPOSTA SINDICAL DOS TRABALHADORES PARA A GESTÃO DA - TopicsExpress



          

AUTOGESTÃO: PROPOSTA SINDICAL DOS TRABALHADORES PARA A GESTÃO DA ECONOMIA* CENTRO ACADEMICO VISCONDE DE MAUÁ - PUCRS (GESTÃO 1975/76) TEXTO APRESENTADO NO 10 ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDANTES DE ADMINISTRAÇÃO - SALVADOR (BA) "O verdadeiro instrumento da censura não é a polícia, é a endóxa. Da mesma forma como uma língua se define melhor por aquilo que ela obriga a dizer (suas rubricas obrigatórias, do que por aquilo que ela proíbe de dizer suas regras retóricas), a censura social não está onde se impede de falar, mas sim onde se obriga a falar. A subversão mais profunda (a contra-censura), assim, não consiste forçosamente em dizer aquilo que choca a opinião pública, a moral, a lei, a polícia, mas sim inventar um discurso paradoxal (puro de toda dóxa): a invenção (e não a provocação) é um ato revolucionário". (Barthes, Sade, Furrier, Loyola, 1971) 1. APRESENTAÇÃO Tentaremos colocar aqui, sumários ordenados de vários livros com a intenção de enfocar a Autogestão dentro dos tópicos propostos, de modo sistemático e acessível, procurando dar um aspecto de corpo doutrinário ao que se encontra fragmentado sob várias formas de interpretação. Por considerarmos que o esforço, mesmo assim não é suficiente, apresentamos a sugestão de discussões futuras do relato de algumas experiências de Autogestão, para que quem nos siga nesta leitura melhor possa entender os problemas que encontramos no decorrer das discussões. Nossa intenção, na apresentação de todos estes fragmentos, é como já dissemos, o de dar subsídios para posteriores discussões, que poderiam alterar ou não as conclusões que agora chegamos e que são frutos do nosso atual estágio de discussão. A importância do estudo desse tema insere-se como um avanço na atual etapa de discussão do Movimento Estudantil, pois permite o estudo de saídas concretas às limitações estruturais da realidade nacional. * Trabalho apresentado por alunos da Faculdade de Ciências Econômicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em 1975, para o 1º Encontro Nacional de Estudantes de Administração realizado em Salvador (Bahia). 2. INTRODUÇÃO O conhecimento habitual que um estudante de administração tem e que todos nós temos, é de que para existir o bom andamento de uma fábrica ou de uma atividade produtiva qualquer, se faz necessário uma disciplina de caserna, onde existam comandantes e comandados. Então, o que passa a contar é o fato de termos um bom chefe que seja um gênio pela aptidão de se fazer obedecer pelos operários. Este tipo de raciocínio, revela uma deformação violenta do nosso caráter, fruto de uma imposição que violenta nossos sentimentos e nos induzem a este tipo de reflexão, ficando a individualidade relegada a um segundo plano, onde o ser humano vê anulada toda e qualquer potencialidade criadora, restando-nos cumprir e fazer cumprir ordens. 2.1. SOBRE O TAYLORISMO Desta forma, Taylor e seus discípulos puderam desenvolver princípios da divisão do trabalho, que nada mais eram do que transpor tecnologicamente para a organização do trabalho, a divisão da sociedade em classes. Naturalmente deveríamos ver reforçada a divisão entre uma "elite" apta ao comando e a "massa" incapaz, dependendo da inteligência e da bondade dos primeiros. A intervenção, mesmo no sentido de vislumbrar melhorias para os trabalhadores, sempre fora feita em última análise para aumentar a eficiência e a produtividade. Sedimenta-se aí, a figura do administrador como portador da ideologia do dono do capital. Com efeito, a ele cabe aplicar estes princípios, integrando a elite dirigente e absorvendo sua filosofia, mesmo que ele venha de classes mais populares. Não tem o capital, mas tem o prestígio do posto. Manipula técnicas visando a maximização de lucros e maior eficiência. Seu objetivo é aumentar a rentabilidade do capital. Sua figura de administrador, assalariado de colarinho branco, descaracteriza-se passando a assumir a de defensor de parcelas minoritárias da sociedade. 2.2. SEUS EFEITOS NA PRODUÇÃO A fabricação de um objeto é composta de uma série de gestos simples, dos quais cada um é confiado a um trabalhador. Para fazer cada gesto desta série, bastava a aprendizagem durante algumas horas. Podia-se portanto, recrutar, do dia para a noite, camponeses pobres e imigrantes incultos; fazer substituir, rapidamente, um empregado enfermo ou ausente, pelo primeiro que aparecesse. O peso da "força de reserva" dos desempregados era mais presente e imediata, fazendo com que ninguém pudesse prevalecer de seu ofício e da sua competência. A um operário que desejava apresentar uma sugestão, Ford respondeu: "Você não foi contratado para pensar, há outras pessoas a quem pagamos para isso". O que interessa é a produção, e para isso incentiva-se a agilidade no trabalho que, mediante a repetição, faça com que o ser humano atue com um reflexo condicionado. 3 As idéias como: "O operário não pensa", "o povo é burro". "São tudo uma cambada de preguiçosos", "A massa não pensa e outros mais "elogiosos", tipificam o que a anos a fio de repartição desse tipo de preconceito, nos foram legadas. Passamos a crer que não possuem cérebro: suas mãos devem, então, ser comandadas por outros cérebros, de preferência algum que tenha à mão, algumas fitinhas que distribuam instruções programadas semelhantes as usadas na computação. Seus exemplos podem ser mais bem observados em um exemplo típico: é o da criação de galinhas para postura de ovos e corte. Tudo obedece a etapas sistemáticas, cientificamente planejadas. As galinhas são engaioladas para não desperdiçarem energias; a comida e a água são servidas por esteiras rolantes. Tudo tem sua hora certa, seu momento exato. Elas estão alojadas em longos galpões, com sistemas elétricos reguláveis para substituírem a função solar, acendendo e apagando sincronizadamente, com a distribuição da ração em espaços intercalados, pois se sabe que o ciclo biológico das galinhas se regula pelo sol, determinam sua produção de ovos. A luz e a comida em espaços intercalados, tem a função de "enganar" a galinha, levando-a a por ovos numa sucessão crescente de vezes ao dia até a estafa total; depois são abatidas e vendidas aos consumidores. Observando-as durante este período, vamos constando que ao ficarem imóveis vão se aleijando e seus pés ficam disformes. Se as levássemos de volta ao seu hábitat, morreriam de inanição pois o desconheceriam. Com o ser humano, podemos encontrar semelhanças entre a exaustão (estafa total) e aquilo que chamamos como "STRESS", que é evidenciado no número crescente de indivíduos que quando recorrem aos hospitais, já o fazem de maneira derradeira. Nossa gaiola de ouro, é a condição social e as nossas aspirações de progresso, que por processos deturpados de informação estão vinculados a aquisição de bens materiais, ou quando não o fazemos, pura e simplesmente, para sobreviver. Somos levados a trabalharmos oito ou mais horas por dia e ainda para aqueles que estudam, quatro ou mais horas sentados nos bancos escolares, onde também enfrentamos as transposições da idéia da organização do trabalho. O líder dirigente agora é o professor, os alunos, a massa inculta que precisa ser instruída (Instruir?) para melhor entender as ordens que receberão no local de trabalho ou para cumprir com as especificações que constam dos manuais. Desta forma, parece que o ciclo se fecha: a Universidade reproduz o modelo com a sua manutenção. Cabalmente está negada a possibilidade do homem como tal, e como conseqüência, sua autodeterminação e a dos povos passa a ser uma verdade relativa. Como conseqüência lógica e racional, é impossível concebermos qualquer projeto de planejamento de uma sociedade futura ou presente nos termos da Autogestão.
Posted on: Sat, 20 Jul 2013 06:13:56 +0000

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