Acautelai-vos, porem, dos falsos profetas... Muitos me dirão - TopicsExpress



          

Acautelai-vos, porem, dos falsos profetas... Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demonios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? Então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim... (Mt: 7.15,22,23). A hermenêutica sobrenaturalista do neopentecostalismo representa um desafio para a uma das doutrinas típicas da tradição reformada, que é a providência de Deus. Partindo das Escrituras, os reformados usam o termo providência para se referir à ação de Deus, pelo seu Espírito, agindo no mundo através de pessoas e circunstâncias da vida para atingir seus propósitos. Esses meios não são intervenções miraculosas ou extraordinárias de Deus na vida humana, mas simplesmente meios naturais secundários. Reconhecemos que Deus intervém miraculosamente neste mundo, mas sempre em regime de exceção. Normalmente, ele age através dos meios naturais. O neopentecostalismo, por enfatizar a ação sobrenatural e miraculosa de Deus no mundo (a qual não negamos, diga-se), acaba por negligenciar a importância da operação do Espírito Santo através de meios secundários e naturais. Essa negligência torna-se mais séria quando nos conscientizamos que o Espírito normalmente trabalha através de meios secundários e naturais para salvar os pecadores. Acredito não ser difícil de provar que a esmagadora maioria dos cristãos foram salvos através de meios naturais – como o testemunho de alguém, a leitura da Bíblia, a pregação da Palavra – e não através de intervenções miraculosas e extraordinárias, como foi a conversão de Paulo. Como resultado do sobrenaturalismo neopentecostal, as igrejas reformadas por ele afetadas tendem a considerar os meios naturais como sendo espiritualmente inferiores. Um bom exemplo é a tendência de considerar o tomar remédios como falta de fé por parte do crente adoentado. Um outro resultado é a diminuição da pregação do Evangelho como meio de salvação dos pecadores, e a ênfase na realização de campanhas de milagres como meio evangelístico. Assim, a obra do Espírito na Igreja e no mundo através dos meios naturais secundários é negligenciada, com graves e perniciosos efeitos nas vidas dos que abraçam a cosmovisão neopentecostal. As conseqüências desta maneira de ver a realidade espiritual são sérias para a área do conflito da igreja contra as hostes das trevas, pois a concebe apenas em termos do sobrenatural, negligenciando o ensino bíblico de que Satanás procura atingir a Igreja de Cristo através da carne e do mundo – meios que não são necessariamente sobrenaturais. Este movimento polêmico tem trazido algumas preocupações sérias a pastores, estudiosos e líderes evangélicos no mundo todo, não somente das igrejas evangélicas históricas, como até mesmo de igrejas pentecostais clássicas. (1) Mesmo organizações internacionais, como o Comitê de Lausanne para Evangelização Mundial, têm expressado suas preocupações com os ensinos deste movimento, numa declaração do seu Grupo de Trabalho feita em 1993, em Londres.(2) Existem várias razões para essa preocupação. Uma delas é que o movimento, onde tem ganhado a adesão de pastores e comunidades, tem produzido um tipo de cristianismo em que a atividade satânica se tornou o centro e mesmo a razão de ser da existência destes ministérios e igrejas. Nestes casos, via de regra, as doutrinas fundamentais da fé cristã são relegadas a plano secundário, desaparecendo do ensino e da liturgia. O que resulta é um cristianismo distorcido, deformado, onde doutrinas como a salvação pela fé somente, mediante o sacrifício redentor, único e expiatório de Cristo. A doutrina da pessoa de Cristo, sua mediação e ofícios, e doutrinas como a da queda, da depravação do homem, da santificação progressiva mediante os meios de graça, são negligenciadas. Não é que estas igrejas e os proponentes do movimento neguem necessariamente estes pontos; mas certamente não lhes dão a ênfase necessária e devidas, que recebem nas próprias Escrituras. O fato é que o movimento de batalha espiritual tem produzido o surgimento de novas igrejas (e mesmo denominações) cujo ministério principal é a expulsão de demônios e a libertação de crentes e descrentes da opressão demoníaca a todos os níveis (espiritual, moral e física, bem como geográfica, estrutural e social). Mas não somente isto — as idéias e práticas difundidas pelo movimento tem se infiltrado nas igrejas históricas, cativando muitos dos seus pastores, oficiais e membros. Esse crescente interesse em círculos evangélicos por Satanás, demônios, espíritos malignos, e o misterioso mundo dos anjos, corresponde ao surto de misticismo atual, um interesse crescente no mundo nos dias de hoje pelos anjos maus e bons, e pelo oculto. Mas não somente no mundo, dentro da própria igreja cristã assistimos o crescimento vertiginoso da busca pelo miraculoso e sobrenatural, na esteira do neopentecostalismo. Por neopentecostalismo quero dizer aqueles movimentos surgidos em décadas recentes, que são desdobramentos do pentecostalismo clássico do início do século, mas que abandonaram algumas de suas ênfases características e adquiriram marcas próprias, como ênfase em revelações diretas, curas, batalha espiritual, e particularmente uma maneira de encarar a realidade espiritual. Esse movimento é caracterizado por uma leitura das Escrituras e da realidade sempre em termos da ação sobrenatural de Deus. Deus é percebido somente em termos de sua ação extraordinária. Assim, para o neopentecostal típico, Deus o guia na vida diária através de impulsos, sonhos, visões, palavras proféticas, e dá soluções aos seus problemas sempre de forma miraculosa, como libertações, livramentos, exorcismos e curas. A doutrina que caracteriza, mais que qualquer outra, as igrejas evangélicas no Brasil hoje, é a crença em milagres. É claro que não estou dizendo que crer em milagres seja errado. O que estou dizendo é que, na hora em que a crença em milagres contemporâneos e diários passa a ser a característica maior da igreja evangélica, algo está errado. Acautelai-vos, porem, dos falsos profetas... Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demonios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? Então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim... (Mt: 7.15,22,23).
Posted on: Sat, 26 Oct 2013 16:55:29 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015