Adormeci ontem pensando nos movimentos cíclicos da vida. Conclui, um pouco entristecida, que as pessoas que mais têm à dizer são as que quase sempre se calam. Não porque não serão ouvidas. Justo ao contrário. Serão. E, por essa razão, sabem que o que disserem ecoará e, de alguma forma, poderão tornar-se vítimas de si mesmas. Entendi também que muita se teme e se fala da famigerada censura. Mas, a pior delas não advém dos calabouços da ditadura como imaginamos. Vem de nós mesmos. Outro aprendizado infeliz que enviaremos para o futuro através das gerações. É fato que somos aquilo que combatemos. Mas, somos também aquilo que calamos. Isso nos transforma. Nos submete e nos instrumentaliza. Tudo tão junto e misturado que nos confunde alternando poder e submissão..escravizando e nos confinando em nossos próprios porões mentais. Pensamento profundo demais, filosófico demais e sofrido demais pra quem ainda recupera as pernas e as cordas vocais lastimadas pelo clamor ao leve despertar de um gigante fanfarrão. Daí fui dormir assim meio Che Guevara e acordei meio Clodovil Hernandes. Entremeios sonhei ser Ghandhi, Madre Tereza, Lao Tsé... Pra concluir, ao acordar, que só posso ser eu mesma. Que usou e abusou do vice e versa nas muitas vezes que deveria falar e calou, chorar e até mesmo quando deveria julgar. Obrigados a conviver com esse reducionismo gigantesco de nós mesmos e a nos levar à tira-colo pra onde quer que formos, só nos resta assumirmos nossas limitações no atenuante de que os maus também terão de fazer o mesmo. Ao acordar, trovejava. Não nos devaneios opressores de minha mente confundida pelas recentes constatações..e sim na minha janela. Na mesma, que já me presenteou com tantas manhãs espetaculares.. Não bastasse, o céu insistia em manter o negro contraste ressaltando os lampejos ameaçadores. Não amanhece realmente...a noite é que deliberadamente lenta dá licença pro tímido dia... Sei que deveria estar descrevendo motivações. Mas, tem impulso maior do que desejar sair de um fúnebre cenário pra buscar a estação das flores? Então bora! Levante esse queixo, empunhe sua bandeira, espada, escudo, fones de ouvido...e até microfone..o que for necessário para fazer a natureza devolver o sol que já vimos nascer outros dias... Consegue ver através dos trovões... ou ouvir através da chuva? Não? Lembre-se, nos porões não existem janelas... BOM DIA
Posted on: Tue, 22 Oct 2013 08:19:47 +0000
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