"Afinal, quem foi às ruas? Acompanhando os debates públicos, - TopicsExpress



          

"Afinal, quem foi às ruas? Acompanhando os debates públicos, parece haver dúvidas sobre o perfil dos manifestantes. Uma coisa é certa: não foi o “povo”, em abstrato, o protagonista dos protestos. E aqui não pretendo fazer reparações àqueles que vocalizam essa percepção. Não se pode exigir daqueles que intervêm no debate público e exercem influência sobre a opinião pública que abram mão de “disputar o significado” de junho. No entanto, a atitude da disputa só é válida se puder conviver com outra atitude: o esforço de apreender as contradições da realidade. Se o coro em uníssono contra a corrupção associado ao verde-amarelismo criou a impressão do despertar do “gigante”, por trás da aparente celebração há um fato inexorável: em junho, saíram às ruas frações de classe. E, como sabemos, frações de classe distintas em geral possuem motivações e interesses distintos, não raro antagônicos. Seja pelo método empírico do olhar, seja considerando o que apontaram uma série de pesquisas feitas junto aos manifestantes a fim de traçar seu perfil, parece factível a hipótese de que, no interior do gigante, havia preponderantemente duas frações de classe. De um lado, uma parcela do proletariado, que o sociólogo Ruy Braga chama de “precariado” – jovens que estudam e ao mesmo tempo trabalham, concentrados no setor de serviços, vulneráveis à altíssima rotatividade desse setor, submetidos a um ritmo de trabalho frenético, mas que experimentaram conquistas nos últimos anos via ensino superior privado, carteira assinada, renda e crédito. De outro, a classe média tradicional – um setor da sociedade que, a despeito de usufruir a palavra “média” no nome, situa-se no topo da pirâmide social, e que, a despeito de também ter sido beneficiada nos últimos dez anos, sente-se profundamente ameaçada pela ascensão dos de baixo."
Posted on: Mon, 16 Sep 2013 02:53:02 +0000

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