Albert Tizzo, sem dúvida que a solução para os problemas de saúde passa por melhores condições trabalho no interior, melhores hospitais, mais unidades básicas. Concordamos nisso. Mas essas melhorias dependem de medidas cujos resultados só aparecem a médio e longo prazo. O que se discute algo emergencial, trazer profissionais médicos temporariamente para regiões que não disponham de médico algum. Se você ler com atenção o que está sendo proposto, verá que não se resume aos médicos "estrangeiros". Há um plano de expansão de vagas de residência. Na universidade em que você estuda, está sendo construído um grande hospital de trauma, e nos próximos meses serão iniciadas as obras do Instituto Materno Infantil, onde você fará parte do seu internato e, quem sabe, residência. Na sua cidade, serão construídas três UPAs e 22 PSFs. Na sua região, serão mais três hospitais regionais em cidades vizinhas. Você fala das dificuldades dos médicos do RN que não têm fios para fechar o tórax etc. Neste momento, estou de plantão num Hospital público universitário. Vivo situações como essa ou piores todos os dias. Mas é necessário começar a resolver os problemas por algum lado, você não acha? Você pergunta como os médicos estrangeiros exerceriam a medicina em condições tão precárias. Da mesma forma que os brasileiros, Albert. Nathália Galbes, o número de 20 médicos por 10.000 habitantes é uma média bruta mundial da OMS que não leva em conta variáveis como as transições demográfica e epidemiológica. Para o Brasil mais jovem e mais pobre de décadas atrás, esse número seria suficiente, num cenário em que predominavam doenças infecciosas e nutricionais. Essas doenças podem ser enfrentadas com reforço das atenções primária e secundária à saúde, de menor custo e menor demanda de pessoal médico. Hoje somos um país mais envelhecido, onde as doenças crônico-degenerativas são fator de morbidade muito mais importantes que as infecciosas ou carenciais. Esse novo perfil epidemiológico exige, além da atenção básica, uma atenção terciária capaz de suprir demandas cada vez mais complexas. Intensivistas, cardiologistas, nefrologistas, socorristas são hoje mais necessários do que eram há 20 anos. É por isso que, na Europa, a média é de 33 médicos por 10.000 habitantes, quase o dobro do Brasil, que é de 17,6. A situação piora por conta das desigualdades regionais. O Sudeste tem uma média (26/10.000) quase européia e maior que a dos Estados Unidos (24/10.000), enquanto o Norte tem números africanos (10/10.000). Sei da necessidade de se oferecer condições para fixar o profissional médico nos pequenos municípios. Além de hospitais e unidades com estrutura mínima, será necessário um plano de carreira médica de Estado, semelhante ao que se tem para o judiciário e as forças armadas. Ao que parece, esse é um dos projetos do Ministério da Saúde. Mas, como eu já disse, são medidas de efeito a médio e longo prazo. Enquanto se aguarda por eles, os médicos estrangeiros são uma solução temporária e emergencial. Os números que citei estão no relatório anual da OMS, no link abaixo. A entrevista que o Albert citou, do presidente do CFM, é apenas um exercício de retórica (a população cresceu 110% enquanto o número de médicos, 550%). Sim, mas qual era a carência antes do crescimento? Isso significa apenas que a carência vem diminuindo mais rápido, mas não que foi suprida ou ultrapassada. Quanto aos cubanos, Nathália, não sou a pessoa mais indicada para responder a sua pergunta. Você deve dirigi-la ao governo cubano. Sou profundamente crítico ao regime castrista e, por isso, não sou a pessoa mais indicada para defendê-lo. Mas me incomoda a paranoia anti-comunista, gente postando delírios fascistas de uma suposta conspiração peto-lulo-dilmista de doutrinação de brasileiros em escolas-madraçais de medicina para posterior disseminação do comunismo pelo interior do Brasil. Você, certamente, não acredita nisso, e entendi seu post como uma provocação saudável. Quanto a inconstitucionalidade ou não de estrangeiros no Brasil trabalharem sem CRM definitivo, o seu link direciona para uma lei e o decreto que a regulamenta, não um artigo constitucional dispondo sobre o exercício da medicina. Não sei como será regulamentada a vinda de médicos estrangeiros, não sou jurista, mas sei que não é inconstitucional porque a Constituição não trata desse quesito.
Posted on: Wed, 26 Jun 2013 06:54:38 +0000