Aposentadoria: recomeço de uma nova vida, crise ou - TopicsExpress



          

Aposentadoria: recomeço de uma nova vida, crise ou oportunidade? Com o aumento da expectativa de vida, nos últimos anos, aumenta-se também o período em que as pessoas têm para viver aposentadas. Os Programas de Preparação Pré-Aposentadoria são preciosos espaços de reflexão sobre a importância e necessidade da preparação para esta fase da vida. No imaginário da sociedade moderna, o trabalho é exaltado e tem caráter de obrigação moral. A aposentadoria e o afastamento do trabalho pode representar uma ruptura identitária, implicando uma reorganização do projeto de vida. Esse processo acarreta profundas mudanças no cotidiano das pessoas; por isso, é necessário preparar-se para essa nova fase da vida, planejando-a. O estudo que deu origem a este texto teve como objetivo analisar, por meio de depoimentos, as transformações ocorridas na vida dos aposentados que passaram pelo Programa de Preparação Pré-Aposentadoria: O Recomeço de uma nova vida, Crise ou Oportunidade? - O caso Cesp, observar o rebatimento na vida dos aposentados, se houve transformação no novo ciclo de vida e finalmente se este Programa realmente minimizou, neste grupo, o impacto provocado pela passagem do estágio de trabalho para a aposentadoria. Foram estudadas transcrições de entrevistas gravadas com depoimentos de oito aposentados que passaram pelo Programa de Preparação Pré-Aposentadoria CESP. A aposentadoria é um dos marcos do envelhecimento que traz em si grande ambigüidade. Antes, e acima de tudo, é fundamental termos consciência de que a ambigüidade entre a segurança e o risco faz parte desta vida desenhada por nós. É evidente que é sempre bom e útil evitarmos na escolha de hoje o arrependimento de amanhã. Por isso, decisões importantes como a da aposentadoria devem ser acompanhadas de uma preparação anterior, de energia e sabedoria compatíveis. As pessoas criam sonhos e, ao se aposentar, rompe-se essa visão de futuro. Depende muito da maneira como se relacionou com o trabalho ao longo de sua vida e da relação que estabeleceu com o tempo livre, mediante atividades de lazer e projetos de vida. Quanto maior o envolvimento com a empresa e as pessoas, maior a dor do rompimento, dor associada ao fim de uma relação. Todas as mudanças provocam uma sensação de perda, pois se perde o referencial, mesmo que não seja algo necessariamente negativo. O momento do desligamento e os primeiros dias de aposentadoria chegam acompanhados de grande ansiedade. O novo assusta e coloca em condição de alerta. É o sentimento de deixar uma história para trás, a sua história. A preparação pré-aposentadoria é um dos caminhos alternativos para não sofrer demais nesse processo. Todavia, observamos que algumas pessoas estão mais preparadas para lidar com esse dilema. Talvez graças a sua formação religiosa e cultural, têm mais habilidades para converter a situação a seu favor. A vida foi e sempre será muito dinâmica. Mas, com o tempo, parece que todos os movimentos e as forças que neles interagem os fazem mais rápidos. O novo hoje pode ser velho daqui a alguns meses ou, até mesmo, algumas horas. Isso nos obriga a estar mais atentos e, principalmente, mais sensíveis, mais seletivos e cuidadosos. A atitude positiva é uma das principais armas para enfrentar as mudanças que chegam com o avançar dos anos. Vejamos as "dicas" que colhi na minha pesquisa: · Fazer uma profunda reflexão e se preparar de todas as formas possíveis. · Criar grupos de estudo para novas alternativas de viver o pós-trabalho e participar da vida associativa. · Tomar cuidado com os hábitos indesejáveis e cuidar da aparência. · Preparar-se espiritualmente e se voltar para dentro de si, buscando o que mais gosta de fazer. · Ter muitos momentos de diálogo com a família e com os amigos; · Exercer a cidadania, criar novos projetos, fazer trabalhos voluntários, participar de atividades comunitária, cuidar do crescimento pessoal e espiritual, de algo que proporcione satisfação. · Prestar atenção à vida, ao dinheiro e à saúde, e ter um hobby. · Não guardar dinheiro e deixar os problemas dos filhos e netos para que eles próprios os resolvam. · Buscar programas de preparação pré-aposentadoria, que mostram como iniciar uma nova fase da vida. As pessoas podem se apropriar de informações e se recriarem, tornando-se capazes de fazer o que nunca fizeram antes, adquirir uma nova visão de mundo e sobre sua relação com ele, além de ampliar suas capacidades de criar um futuro melhor de transformação pessoal e social. As mudanças permanentes do mundo atual impõem às pessoas a necessidade de desaprender, de aprender e de reaprender constantemente. A verdadeira aprendizagem implica mudanças na relação das pessoas consigo mesma, com os outros e com a vida e o mundo, mexe com hábitos, valores e emoções. Como estudiosa da Gerontologia, afirmo que a normatização do respeito aos idosos é, no entanto, uma imperiosa necessidade, tendo em vista a falta de preparo da população em geral para o convívio com a velhice. A aplicação e fiscalização do Estatuto do Idoso merecem apoio de todos os que lutam por uma sociedade justa e humana. Acredito em um esforço coletivo para fazer com que as pessoas tenham a percepção de que vivenciamos um momento sem precedentes na história. Penso que também é possível refletir sobre formas de se preparar para a vida de aposentado, estabelecer reservas físicas e emocionais que permitam manter o vigor necessário para que se desenvolva todo o potencial adquirido durante anos de trabalho e as utilizar ainda como potencial de aprendizado para o lazer e a sociabilidade que o tempo livre pode proporcionar. Esse é mais um desafio para a sociedade brasileira. De qualquer forma, é necessário que haja incentivos para o desfrute de uma velhice feliz. Vejo com otimismo as iniciativas dirigidas ao cidadão idoso. Envelhecer é o exercício de Viver. A análise de dados obtidos no estudo permite algumas considerações Entre elas, observa-se que os depoimentos nutrem-se da sabedoria dos entrevistados, o que nos permite mostrar um caminho. Não temos a pretensão de dar a receita pronta. Cada pessoa é única e, portanto, encontrará seu próprio caminho. O que estamos a expor são experiências de pessoas que já passaram por esta fase e, por isso, puderam acrescentar e colaborar com o planejamento dos futuros aposentados. Por serem preocupação muito recente, em termos de realidade brasileira, os programas de preparação pré-aposentadoria requerem ainda muitos estudos, observações, análises e reflexões. Só com o engajamento de diferentes segmentos da sociedade atingidos pela aposentadoria e suas conseqüências e da participação multidisciplinar nas propostas de ação junto aos pré-aposentados é que poderão ser desenvolvidas novas idéias, novas abordagens e novas técnicas. O mais importante, no entanto, é a constatação de que a sensibilização para a idéia já foi desencadeada e que as experiências já realizadas vêm demonstrando o acerto da preocupação com a preparação pré-aposentadoria. Embora não sejam possíveis conclusões definitivas, as agora levantadas neste grupo podem se constituir em suporte para pesquisas subseqüentes. Estão sendo dados mais alguns passos no sentido da descoberta de explicações, de alternativas para uma questão já antiga na história. É urgente o encaminhamento de mais projetos, para preparar o trabalhador para a aposentadoria e prevenir o trabalho como fonte de doença e velhice. E se o ambiente de trabalho é o local em que se processa grande parte do sofrimento e da anulação dos sujeitos, é preciso criar ou aprimorar estratégias de saneamento dos ambientes profissionais. Por outro lado, deve-se ampliar os espaços daqueles trabalhadores que se serviram do trabalho para expressar sua criatividade, sua autodeterminação, seu projeto de vida. Para estes, o trabalho veiculou a abertura para o mundo. A aposentadoria deixa de ser o fim de tudo, e significa liberação para viver novos papéis e conquistar metas diferentes daquelas concentradas no mundo do trabalho. A sociedade precisa contribuir para o investimento em uma política social que garanta aos aposentados a sua condição de sujeitos e encontrar formas de contornar os prejuízos decorrentes do despreparo da própria sociedade em acolhê-los. Estas são algumas ilustrações de como pensar a pergunta inicial: Programa pré-aposentadoria: o recomeço de uma nova vida, crise ou oportunidade? As crises já se conhecem, e as conquistas de novas oportunidades se podem valer da recriação de espaços, aliados a uma educação continuada para assumir mudanças de papéis e de circunstâncias para corrigir as distorções derivadas de uma corrosão de papéis do aposentado, pelo esvaziamento de seus significados e perspectivas de vida, instaladas já na ativa e exacerbadas na aposentadoria e na velhice. Precisamos quebrar alguns paradigmas. Fica aqui uma nova pergunta: Como formar um ser humano não só para o trabalho ou para o consumo, mas, sobretudo, para que possa em todas as etapas de sua existência desenvolver projetos de vida e resgatar suas potencialidades, de forma a encontrar seu próprio caminho para ser feliz e se manifestar nas várias dimensões sociais, culturais e psicológicas da sua vida como ser social?
Posted on: Mon, 23 Sep 2013 03:50:43 +0000

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