Apropriado pensar em Spike Lee neste momento. Há pouco acabo de - TopicsExpress



          

Apropriado pensar em Spike Lee neste momento. Há pouco acabo de ler que foi um fracasso de público seu mais novo trabalho. Para quem não se lembra, Lee acabou topando a empreitada que começou a ganhar vida na cabeça torta de Spielberg: refilmar o visceral Old Boy, obra-prima do cinema sul-coreano. Desde sempre, na minha humildade opinião, para não fugir ao jargão, um projeto absolutamente desnecessário. Lee fez muitas coisas erradas desde Faça a Coisa Certa, caminhou por gêneros diferentes, radicalizou-se num momento, abriu mão da política, permitiu-se até um ótimo filme de ação ao realizar Um Plano Perfeito, com Denzel Washington fazendo bem o que nunca lhe foi trabalhoso: estar na tela e nos convencer de suas reações magnânimas às circunstâncias extremas. E é em Malcoml X que Denzel empreendeu sua maior interpretação - mesmo porque Denzel Washington passou tempo vivenciando no teatro a biografia do grande líder dos movimentos pelos direitos civis dos negros ao lado de Martin Luther King. Ao lado e do outro lado ao mesmo tempo, aparentemente contrariando a lógica. Lee retrata uma outra história americana, senão esquecida, no geral ignorada, máscara de uma fantasia de oportunidades, maquiagem arrancada de um mundo que nunca foi cor-de-rosa. Nos Estados Unidos, a primeira democracia moderna, os negros ainda demorariam a conquistar um mínimo de equalidade em relação aos brancos. E isto não se deu sem luta. Tanta demora se justica na essência da construção de um país cheio de contrastes nada belos como os EUA o são: Thomas Jefferson vai proclamar que todos os homens nascem livres ao redigir a Constituição estadunidense, apesar de ele próprio ser um senhor de escravos, e, a propósito, seguiu sendo depois da Constituição e mesmo quando alcançou a presidência da República. Malcolm X representa uma vertente também arraigada aos valores da grande potência do Norte: o espírito guerreiro, o orgulho da ancestralidade, o culto às próprias raízes, a noção de que a residência é o castelo do homem e de que não há maior residência que o próprio corpo. Nele as cores se despontam, por estas cores ódios são alimentados. Malcoml X já é desde o bojo projeto de grande dimensão, coisa um tanto pretensiosa. Os desvios que o filme apresenta aqui ou ali são pequenos diante de sua dimensão e o talento de Lee somado ao carisma de Denzel Washington traduzem uma energia ancestral, em que homem se torna mais que carne, atingindo a imortalidade dos símbolos. Talvez seja tempo de Spike Lee retornar às suas origens. Não por se incompetente em outras temáticas, apesar de Old Boy, por exemplo. Mas por ser um diretor com muito, muito mais a dizer. A tela como púlpito e a câmera como microfone. Malcoml X é um filme que grita, mesmo nos dias de presidente negro na Casa Branca. A Terra dos Livres definitivamente nunca pretendeu ser o Lar dos Iguais. Deus nos salve da América! Akira Riber Junoro
Posted on: Mon, 02 Dec 2013 03:59:46 +0000

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