Artigo do Washington hoje no POP sobre o absurdo da insistência - TopicsExpress



          

Artigo do Washington hoje no POP sobre o absurdo da insistência do governo em manter este projeto falido da transposição do São Francisco. Resta saber quem pagará a conta do tamanho do desastre mais os 9 bilhões já gastos na obra. Uma grande bandeira para levarmos para as ruas. OPINIÃO 18/07/2013 O deserto nosso de cada dia Há poucos dias, a TV mostrou um quadro impressionante da situação às margens do rio São Francisco, onde estão obras do projeto de transposição de águas. Ali, estão comprometidas áreas em que se pretende implantar projetos de agricultura irrigada para exportação, porque os solos são rasos, pedregosos, de drenagem problemática. E a previsão é de salinização exacerbada em pouco tempo. A TV mostrou imagens impressionantes do solo rude esbranquiçado pelo processo. Até aí, nenhuma novidade. Quando o projeto de transposição teve de submeter estudo de impacto ambiental ao Ibama, há uns 20 anos, o órgão licenciador já chamava a atenção: metade das terras destinadas à irrigação já estavam em processo de erosão ou desertificação; não era aconselhável a aplicação de recursos vultosos para algo inviável. Quem deu atenção? Quem se importou? Mesmo agora, a presidente da República promete, em viagem à Paraíba, entregar um dos canais da transposição até 2014. E ainda dizendo que “o São Francisco é a fonte de água que resolverá os problemas da região semiárida; e a Paraíba será um dos maiores beneficiários”. Não têm faltado advertências sobre a impossibilidade de a transposição “matar a sede de milhões de vítimas da seca, levando uma caneca de água a cada uma”, como disse tantas vezes o então presidente Lula. Não há nem haverá adutoras para levar água a comunidades isoladas, onde o caminho é o das cisternas de placas, capazes de estocar água de chuva para os meses de estiagem. Mas até agora, há apenas 500 mil delas implantadas, graças principalmente à iniciativa de instituições privadas. É alarmante ver que tudo isso ocorre ao mesmo tempo em que o Semi-Árido nordestino enfrenta a maior estiagem em 50 anos, apesar das recentes chuvas em algumas áreas. E a previsão agora é de que ela se estenda até 2015 segundo os jornais O Globo (30/4) e Folha de S. Paulo. “O rio está morrendo aos poucos”, diz o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco”, Anivaldo Miranda (5/6). “Falta planejamento do governo federal sobre exploração desordenada na agricultura irrigada, na pesca, no turismo, na retirada de recursos naturais”. As perdas com a estiagem são imensas, calcula-se que tenha sido perdida metade da lavoura e das criações. Mais grave ainda, um mapeamento do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens por Satélites da Universidade Federal de Alagoas alerta (9/7): a desertificação já está em processo em 340 mil quilômetros quadrados, principalmente por causa da desidratação do solo, “grave ou muito grave” em núcleos do Ceará, Piauí, Paraíba e Pernambuco. Na Paraíba, em mais de metade do território, onde a vegetação não reage mais à chuva. Em Alagoas, mais de 60% dos municípios estão incluídos nesse processo. “Se o Estado fosse propriedade privada, nem teria como manter 20% como reserva legal”, diz o diretor do núcleo de combate à Desertificação no Ministério do Meio Ambiente, Francisco Campello. E por esses caminhos o Brasil incorpora-se às regiões do planeta já áridas ou em processo de desertificação, onde vivem perto de 200 milhões de pessoas, segundo a UNESCO (7/6). Numa reunião em Bonn, em abril, a Convenção da ONU sobre Desertificação e Mitigação dos Efeitos de Secas alertou que as áreas críticas ampliam-se muito e já estão em mais do que os 110 países apontados no relatório anterior. E esse é o maior obstáculo para os programas de redução da pobreza no mundo. A África perdeu 12% de seu PIB com a “devastação ambiental”, o Paraguai 6%, a Guatemala 34%. No Brasil, a Unicamp adverte (25/4) que o avanço da soja e da pecuária, que poderiam ocupar áreas já desmatadas, continua provocando desmatamento e degradação de solos, além de desalojar parte das lavouras de arroz e feijão da agricultura familiar (que responde por 70% da alimentação no país). Em todo o nosso território a perda de áreas verdes no período 1999/2010 chegou a 55,3 milhões de hectares, segundo o relatório Global Forest Resources Assessment, da FAO/ONU (EcoD. 16/5). E pode aumentar muito agora, se a Câmara dos Deputados também aprovar projeto que já passou pelo Senado, alterando o zoneamento agroecológico e permitindo o plantio de cana-de-açúcar em “áreas alteradas” dos biomas Cerrado e Campos Gerais da Amazônia Legal. Em 1958, na época da grande seca, o então ministro Celso Furtado disse que na origem do problema social na região está a ocupação de praticamente toda a faixa litorânea de mata nordestina com a cana-de-açúcar – obrigando parte da população mais pobre a se transferir para as áreas de Caatinga, onde só podia ter lavouras de subsistência e gado para produção de carnes no local, extremamente vulneráveis à estiagem já naquele tempo. Nada mudou. Como de nada adiantaram advertências, publicações, artigos de jornal durante 30 anos dizendo que a transposição de águas do São Francisco não significaria solução para esses problemas e essas áreas. Quando o próprio Comitê da Bacia do São Francisco, por 44 votos a 2, foi contra a transposição, o Ministério do Meio Ambiente, ainda na gestão Lula, levou a questão para o Conselho Nacional de Recursos Hídricos – onde o governo, sozinho, tem maioria de votos – e ali a aprovou. O resultado está agora na TV e nos jornais. Washington Novaes é jornalista 1.3611
Posted on: Thu, 18 Jul 2013 21:03:09 +0000

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