As manifestações que vêm ocorrendo no Brasil nas últimas semanas têm despertado na população em geral a esperança de que as coisas mudarão. Ver nas ruas de todo o país centenas de milhares de pessoas manifestando pacificamente contra o modus operandi dos políticos brasileiros de forma continuada justificam essa expectativa. Eu, particularmente, fiquei maravilhado ao ver os manifestantes tomando conta da marquise do Congresso Nacional, da Av. Paulista, da Ponte estaiada, da Praça da Sé e de vários outros pontos relevantes das principais cidades brasileiras. Mas algumas questões andam rondando minha cabeça 1. Partindo do fato de que as manifestações são pacíficas, suponho que a intenção é modificar a realidade brasileira a partir dos mecanismos institucionais democráticos já instituídos. Estando eu certo, as manifestações deverão dialogar com os Poderes de forma racional, coordenada e objetiva. Infelizmente não é possível colocar 10 mil pessoas numa mesa para debater com parlamentares as reivindicações a serem atendidas. Por isso que há algum tempo atrás se estabeleceu a representação como forma de exercício do poder popular. Se os parlamentares e os partidos não representam os manifestantes, estes devem escolher, dentre os seus, pessoas para os representarem. Acredito que isso é vital para o amadurecimento dos movimentos e para que as reivindicações sejam atendidas. 2. Além disso, as ações devem ser coordenadas em conjunto. Em Brasília existe uma profusão de eventos criados para o mesmo dia, em horários diferentes, com pautas similares. Se houver maior coordenação entre os idealizadores desses movimentos as ações podem ser mais bem planejadas e concentradas em eventos únicos, eliminando as confusões relativas a esse mundo de eventos distintos no facebook que pretendem basicamente o mesmo. 3. Outro ponto que me faz pensar concerne à dispersão das pautas. É compreensível que nesses momentos iniciais haja essa vontade em se propor diversas pautas e resolver tudo de uma vez. Como não existe coordenação, cada grupo define sua pauta (ainda que no geral elas sejam similares) e as pautas ficam confusas. A causa defendida pelos manifestos é óbvia, fazer do Brasil um país mais justo e fazer os governantes entenderem que eles têm sim que prestar contas e que têm sim que responder aos anseios da sociedade. Agora, cada falha do sistema que gera essa frustração deve ser atacada de por vez: o efeito será mais imediato e perceptível. Um exemplo é a manifestação contra a PEC 37, o objetivo é claro e a pressão popular é direcionada a um tema da agenda, por conseguinte o resultado será notado mais rapidamente. 4. Por fim, as mudanças do porte dessas que são pretendidas pelas manifestações não acontecem da noite para o dia. Elas exigem paciência, persistência (para não dizer teimosia), perseverança e mais uma série de outras coisas. As pessoas não podem se desmotivar se os resultados demorarem a aparecer. Dentre as diversas reivindicações que estão rolando nos manifestos, a redução dos preços das passagens é a mais simples e ainda assim levou duas semanas para que se concretizasse. Agora imagina uma CPI da Copa do Mundo, imagina aprovar uma lei que seja mais rígida para os corruptos, imagina acabar com o foro privilegiado para os parlamentares, imagina uma reforma eleitoral. É preciso que os manifestantes estejam conscientes que essas batalhas não serão vencidas em mais duas semanas ou em mais dois meses. Honestamente eu espero que as manifestações tornem-se um hábito. Desejo profundamente que o brasileiro finalmente tenha compreendido o que é a prática democrática. E, principalmente, desejo que as mudanças ocorram e que tenhamos um país mais justo, livre da corrupção sistêmica e da impunidade em voga hoje.
Posted on: Thu, 20 Jun 2013 02:06:48 +0000
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