“As mesmas angústias AS MESMAS ANGÚSTIAS Alex - TopicsExpress



          

“As mesmas angústias AS MESMAS ANGÚSTIAS Alex Calheiros Resumo: Pretende-se aqui articular a corrente artística expressionista alemã com a cinematografia Pós-Moderna. Considera-se para isso o cenário sócio-econômico em sua relevância na concepção das obras. Isso significa dizer que o artigo propõe a degradação social como ponto comum entre esses dois modelos e como principal influência do movimento artístico. Trata-se assim, especificamente para o cinema, dos efeitos estéticos provocados pelas mudanças políticas no início do século XIX e meados do século XX. Introdução A violência, os atos de corrupção, os sequestros e os crimes hediondos. Cada vez mais, entre outros, os desvios comportamentais e a intolerância ganham destaque em nossa sociedade. Há uma sensível inversão de valores e a ética, a moral e o caráter vem, com o passar dos anos, sucumbindo a partir das leis do mercado, do consumo e do espetáculo. A Pós-Modernidade se estabelece em um universo de alta competitividade em que a lógica da acumulação de bens e das aparências é ponto chave. Tudo é válido e permitido. De acordo com essa realidade, a busca pelo “sucesso” faz com que as pessoas passem umas por cima das outras, sem qualquer constrangimento ou culpa. O pior: não há luz no fim do túnel. Pessimismos a parte, a Pós-Modernidade apresenta mudanças significativas provocadas e vividas pelo homem. Entre as mais evidentes, e que desencadearam muitas outras, pode-se apontar a globalização. Tendo em vista a desconstrução de princípios, conceitos e sistemas, no momento atual desfaz-se de todas as amarras da rigidez, outrora imposta ao homem moderno, e por conta disso, percebe-se a época como o período das incertezas, das fragmentações, do vazio, do niilismo, da deserção, do imediatismo, da efemeridade, do hedonismo, da substituição da ética pela estética, do narcisismo, da apatia, do consumo de sensações e do fim dos grandes discursos. Diante desse novo modelo, os reflexos propõem o declínio da esfera pública e política, a crise ecológica, o impasse histórico do socialismo, os tribalismos, a expansão dos fundamentalismos, as novas formas de identidade social e as conseqüências incontroláveis da informatização sobre a produção e sobre o cotidiano. Essas mudanças, entre outras, fizeram com que o futuro se tornasse incerto e ameaçador. A crença na posteridade se desfaz a cada novidade e somente o presente conduz as ações humanas nas mais diversificadas áreas de atuação. Se essa incerteza sobrepõe antigas referências, é possível perceber que a agitação política e cultural (os anos 60 são seu momento histórico mais contundente), a despolitização, o enfraquecimento da sindicalização e o repúdio as políticas voltadas para o grupo, adquiriram grandes proporções e foram determinantes para isso. A individualidade, a decadência das grandes ideias, valores e instituições permeiam uma nova realidade. As obras cinematográficas bem como toda e qualquer expressão artística têm por meio de seus realizadores, representações estéticas reflexivas desse momento de angústia vivido pelo ser humano. Ponto comum entre momentos distintos da história. Ao nos deslocarmos no tempo, é possível perceber a correlação entre os períodos. Ao contextualizar o final do século XIX, percebem-se as mudanças políticas, particularmente a fundação do Segundo Reich Alemão (1871), como principal pano de fundo para o surgimento de grupos artísticos associados à origem do expressionismo. Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, o expressionismo ganha consistência com a caminhada do império alemão para a “fase superior do capitalismo”, o imperialismo. Em uma sociedade dominada pela burguesia, a arte propunha estética autoritária, acadêmica e oficializada em suas representações. A ruptura se deu a partir do desejo de se rebelar contra esses valores. A inquietude provocada pelo desconforto das incertezas e diferenças sociais foi motor propulsor do expressionismo. A angústia, seu combustível. O expressionismo No primeiro momento, o expressionismo pretendeu romper com os modelos estéticos e com os pensamentos anteriores. A chamada fase do “destrucionismo” deu lugar ao “alto-expressionismo”. Nesta segunda fase, vivida em plena guerra, o movimento passa a ser considerado por sua maturidade e auge de criação. Em uma época marcada pela busca de alternativas e saídas para a humanidade, o expressionismo extrapola os limites e passa a exercer forte influência nas artes. Considerada como terceira fase, o “expressionismo tardio”, tem na diversidade sua mais significativa característica. O expressionismo chegou ao cinema em 1919. Com origem na República de Weimar (1919-33), o cinema passa a falar de temas comuns aos seus antecessores, como a morte, a angústia da grande cidade e o conflito de gerações. Com o declínio da literatura, a inovação estética se destaca. Com forte influência do teatro, principal fonte de atores e diretores, o cinema expressionista passa a utilizar técnicas muito comuns aos palcos. As luzes e os holofotes ganham espaço e passam a ser elementos essenciais na maioria dos filmes. Os movimentos de câmera dão lugar a iluminação de um detalhe, a aparência fantástica das sombras ou mesmo a máscara nas lentes da câmera. Por sua vez, os espelhos são usados regularmente e a deformação por eles provocada acaba por definir essa como outra marca característica do expressionismo. Com a ascensão do nazismo ao poder na Alemanha e a consequente emigração dos principais diretores para os Estados Unidos, o expressionismo alemão tem praticamente seu fim anunciado. Suas influências, por meio desses mesmos diretores, levam a novas propostas ao cinema como os filmes de terror e os filmes noir. Cinema Pós Moderno Um cinema sintomático, ligado à cultura do capitalismo tardio e definido por acontecimentos extremistas no que diz respeito a comportamentos, culturas e artes. Com as novas tecnologias, frequentemente usadas no dia a dia, o excesso passa a figurar em primeiro plano. O encontro da ficção com a realidade faz com que o espectador possa viver o real. Ele se aproxima do relato exibido no cinema e o seu universo transcende os limites narrativos. Para o filósofo Gilles Lipovetsky, o mundo vive um período no qual as grandes ideologias que marcaram a modernidade, perderam força, forma e estabilidade. Nas sociedades contemporâneas, o interesse por temas públicos tornou-se um prato a ser servido e regurgitado. Segundo Lipovetsky, o vazio é uma desorientação, uma lacuna de referências estruturantes que não vem do fato de não existirem, mas de simplesmente terem se transformado em flutuantes e muito numerosas. A arte se mistura com a não-arte e com o marketing. Há uma situação de confusão, de complexidade, a perdição entre as referências e isso angustia. Esse sentimento frente a liberdade de escolha oferecida por essa “segunda modernidade” transita por todas as áreas de atuação do indivíduo, todas as dimensões, da criação à promoção até a difusão e o consumo. A linguagem diluída, fragmentada em várias telas ou mesmo em velocidade alta são possibilidades estéticas para retratar essa inquietude em que vivemos. O cinema Pós-Moderno mostra isso. Quando se assiste um filme, não é muito difícil saber em que gênero ele se enquadra. Romance, aventura, suspense, terror, animação, drama e ficção são características peculiares que qualquer pessoa consegue distinguir. Mas, se os gêneros estão interligados, dispensáveis à regra e circulantes ao mesmo tempo pela comédia, aventura e suspense, embaralhados em diversas temáticas e estilos, pode-se classificá-los como filmes pós-modernos. Ausente de qualquer tentativa de definição, o cinema pós-moderno surge como uma forma de derrubar todas as barreiras e conceitos. Se alguém desejar analisar um filme típico pós-moderno em busca de respostas intermináveis para as perguntas que surgirão, esta será uma tentativa frustrada. A heterotopia, (vários mundos em um só), simulacro (irrealidade), pastiche (colagem estilística sem intenção de elogiar ou criticar), falta de linearidade, utopia, anarquia e desafeto, o cinema pós-moderno gera controvérsias. As sequências rápidas, sem muita ligação entre si, mas causadoras de uma sensação momentânea no telespectador, caracterizam esse novo modelo de cinema. Bem como a ausência de um sentido moral e profundo dos problemas sociais, além da existência de uma crítica velada, também faz parte de suas características Cinema Expressionista As primeiras pesquisas estéticas do cinema expressionista abordavam em suas obras o tema da angústia e da loucura. Os efeitos produzidos nas cenas de alucinação obrigavam os cineastas a recorrerem a novas técnicas fotográficas. Os cenários eram adaptados a fim de permitir o jogo de luzes sobre ângulos vivos e volumes claros. Dentre várias referências cinematográficas, o filme O Gabinete do Dr. Caligari (1919), dirigido por Robert Wiene (1880-1938) pode ser considerada como a primeira tentativa de produzir um cinema estritamente expressionista. Nos filmes produzidos após Caligari, os efeitos de luz, os atores, a decoração, a maquiagem, os vestuários, os cenários, tudo muito exagerado, definiu a estética expressionista. As linhas e planos tortuosos, oblíquos e abruptos do cenário provocam no público um efeito muito diferente do que teria se conseguido por uma composição visual harmônica. Os planos são inclinados, janelas são mais largas na parte de cima do que na base. Todas essas imagens somadas representam um mundo interior, uma construção mental que nega a realidade objetiva. A partir daí, uma série de filmes passou a fazer udo desse tipo de estética. M – O vampiro de Düsseldorf (1931), de Fritz Lang (1890-1976), sem dúvida foi uma das maiores obras-primas da história do cinema expressionista. A mesma angústia O historiador Wilhelm Worringer (1881-1965) em sua tese de doutorado, parte da ideia de que a abstração “nasce da grande inquietação que experimenta o homem aterrorizado pelos fenômenos que constata ao seu redor e dos quais é incapaz de decifrar as relações, os mistérios contrapostos” (Eisner, 1985, p. 21). Se a sensação de agonia, segundo Worringer, provoca no homem o desejo de arrancar os objetos de seu contexto natural no mundo exterior, para Lipovetsky, essa mesma sensação se faz presente nos dias de hoje, na hipermodernidade¹. Para Edschmid: a terra é uma paisagem imensa que Deus nos deu. É preciso olhar para ela de tal forma que chegue até nós sem deformação. Ninguém duvida de que a essência das coisas não seja a sua realidade exterior. A realidade tem que ser criada por nós. A significação do assunto deve ser sentida. Os fatos acreditados, imaginados, anotados não são o suficiente; pelo contrário, a imagem do mundo tem de ser espelhada puramente e não falsificada. Mas isso está apenas dentro de nós mesmos. (1978, p. 105) O pintor norueguês Edvard Munch (1863-1944) em seu quadro O grito, de 1893, mostra, de forma bastante clara, a visão de composição estética das obras do expressionismo – captando impressões do mundo exterior e expressando-as de forma deformada. O estado de espírito de Munch expressa exatamente o momento vivido pelos artistas. A decadência do capitalismo propõe uma fase de angústias, de medos, de indefinições, de crises econômicas e sociais para a humanidade O expressionismo se desenvolveu como um movimento estético em que os jovens artistas reagiam pelo exagero e a deformação contra os códigos morais anacrônicos e repressivos. Neste sentido, o que se pode concluir é que a “visão expressionista” é a expressão (refletida e distorcida) de uma profunda crise econômica, política e social. * Mundo hipermoderno é o conceito utilizado por Lipovetsky (2010) para caracterizar o mundo atual. Segundo o autor, não significa contestar a modernidade, já que apresenta características presentes nesse período. Para Lipovetsky, o termo pós-modernidade não faz mais sentido hoje; não consegue representar o mundo atual. O autor propõe a partir desse conceito, “superar a temática pós-moderna e reconceituralizar a organização temporal que se apresenta.” (LIPOVETSKY, Gilles e CHARLES, Sébastien. Os tempos hipermodernos. São Paulo, Barcarola, 2004. Op. Cit. HTTP://pt.wikipedia.org/WIKI/Hipermodernidade. Acessado em 29/04/2011 às 12h30). O texto desta nota foi adaptado do mesmo endereço eletrônico citado. O termo “hiper” é utilizado em referência a uma exacerbação dos valores criados na Modernidade, elevados de forma exponencial, de acordo com Lipovetsky e Serroy (2010) Referências bibliográficas EDSCHMID, Kasimir. Expressionismo na poesia. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda européia e modernismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1978. EISNER, Lotte. A tela demoníaca. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985. FISCHER, Ernst. A necessidade da arte. 6ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1977. NAZÁRIO, Luiz. As sombras móveis. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda européia e modernismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1978. BAUMAN, Sygmunt. Amor Líquido. Sobre a fragilidade dos laços humanos. São Paulo, Ed. Zahar, 2004. LIPOVETSKY , Gilles e SERROY, Jean. A cultura-mundo. Resposta a uma sociedade desorientada. Lisboa, Edições 70, 2010. Filmes O Gabinete do Dr. Caligari (Das Kabinett des Doktor Caligari, Alemanha, 1920), dirigido por Robert Wiene. M – O vampiro de Düsseldorf (M, Alemanha, 1931), dirigido por Fritz Lang. Tarnation (2003), dirigido por Jonathan Caouette.
Posted on: Tue, 17 Sep 2013 18:56:56 +0000

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