Atos 17.16-34: A FÉ DIANTE DA RAZÃO E-mail Font Size Larger - TopicsExpress



          

Atos 17.16-34: A FÉ DIANTE DA RAZÃO E-mail Font Size Larger Font Smaller Font A FÉ DIANTE DA RAZÃO Atos 17.16-34 1. INTRODUÇÃO Um dos maiores filósofos do século 20 foi Martin Heidegger (1889-1976), autor de importantes obras classificadas como existencialistas. Seu pensamento ajudou o homem, que ele considerava uma clareira do ser, a compreender seu ser e seu tempo. Quando a Europa se debatia diante da falta de perspectiva, por causa do longo túnel, que bem representa o clima da época, que produziu duas guerras mundiais no curto espaço de duas décadas, Heidegger deu, em 1966, uma entrevista na qual dizia: tal é a nossa tragédia que só um Deus pode nos salvar. A filosofia não poderá conseguir uma mudança imediata do atual estado do mundo. Isto não vale apenas para a filosofia, mas para todos os sentidos e costumes humanos. Somente um Deus ainda pode nos salvar. A única alternativa que nos resta é preparar, no pensamento e na poesia, uma disposição para a aparição deste Deus, ou aceitar a ausência deste Deus no declínio; aceitar que estamos sucumbindo na presença deste Deus ausente. (Entrevista reproduzida no jornal Valor, de 28.9.2001, caderno Fim de Semana, p. 5) O filósofo falava de um deus vago e impessoal, ao qual não conhecia. Ao fazê-lo, Heidegger pode ser comparado aos homens comuns e pensadores ilustrados da época do apóstolo Paulo. Eles também esperavam por um deus desconhecido, vago e impessoal, como o apóstolo sabiamente observou: [TEXTO BÍBLICO] Atos 17.16-34 [Estando Paulo em Atenas], enquanto esperava [por Silas e Timóteo, que ficaram na Beréia], o seu espírito se revoltava em face da idolatria dominante na cidade. Por isso, dissertava na sinagoga entre os judeus e os gentios piedosos; também na praça, todos os dias, entre os que se encontravam ali. E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele, havendo quem perguntasse: -- Que quer dizer esse tagarela? E outros: Parece pregador de estranhos deuses; pois pregava a Jesus e a ressurreição. Então, tomando-o consigo, o levaram ao Areópago, dizendo: -- Poderemos saber que nova doutrina é essa que ensinas? Posto que nos trazes aos ouvidos coisas estranhas, queremos saber o que vem a ser isso. Pois todos os de Atenas e os estrangeiros residentes de outra coisa não cuidavam senão dizer ou ouvir as últimas novidades. Então, Paulo, levantando-se no meio do Areópago, disse: -- Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos; porque, passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio. O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais; de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós; pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração. Sendo, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem. Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam; porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos. Quando ouviram falar de ressurreição de mortos, uns escarneceram, e outros disseram: A respeito disso te ouviremos noutra ocasião. A essa altura, Paulo se retirou do meio deles. Houve, porém, alguns homens que se agregaram a ele e creram; entre eles estava Dionísio, o areopagita, uma mulher chamada Dâmaris e, com eles, outros mais. 2. AS CRENÇAS DA RAZÃO O conhecimento da historia do pensamento mostra-nos que todas as épocas são dominadas por ideais majoritariamente estranhos à Revelação, como entendida pela religião cristã bíblica. Estes ideais estão relacionados tanto ao modo como conhecemos as coisas quanto ao deus em quem cremos, com reflexos sobre o estilo de vida que adotamos. Como aprendemos da leitura de Atos 17, os atenienses do primeiro século cristão se caracterizavam por um grande interesse pelas novidades (verso 21). Paulo lhes lhes elogia o espírito investigativo (verso 19). Quanto ao modo de conhecer a realidade, três tendências disputavam as preferências dos pensadores, tanto os pensadores profissionais quanto as pessoas comuns. Estas visões são as mesmas dos dias dias de hoje, tanhamo consciência delas ou não. Eram e são elas o relativismo, o niilismo e o fundamentalismo. Para os relativistas, tudo é verdade. Jesus é o caminho, a verdade e a vida, assim como outros deuses o são. O Cristianismo não pode reinvidicar ser o caminho exclusivo para Deus, porque todos os caminhos levam o homem a Ele. Afinal, não é politicamente nem filosoficamente correto excluir qualquer experiência religiosa, mesmo aquelas que escravizam seus seguidores ao medo. Para os niilistas, nada é verdade. Se a vida tem algum sentido, ainda não o descobrimos. Não só viemos do acaso, como iremos para o acaso. Não existe uma verdade que devemos buscar. Todo esforço humano resulta em nada, como na música de Zeca Baleiro: a seta da vida aponta para o nada. Para os fundamentalistas, só a sua verdade é a verdade, excluídas todas as outras. Por esta razão, esta verdade há que ser imposta a todas as pessoas, seja pelo convencimento, seja pela violência. Há fundamentalistas nas várias religiões. No entanto, não deveria haver no Cristianismo. Quando repetimos que Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida, afirmamos a nossa fé, que compartilhamos com outras pessoas, na certeza que sua aceitação abre as portas para uma vida com plenitude de significado e de respeito a todas as tradições religiosas. Não devemos abrir mão de nossas convicções, as quais apresentamos com inteligência, mas com suavidade. Entendemos que convencer as pessoas acerca do Evangelho (a novidade de vida que Jesus Cristo possibilita) é obra do Espírito Santo, jamais da retórica publicitária e nem do concurso das armas. Quando dizemos a uma pessoa que Jesus Cristo é o único Salvador e deve ser o Senhor de todos, apenas relembramos o que a Bíblia nos ensina e apenas queremos ser meios de comunicação desta verdade que mudou para melhor as nossas vidas. Assim como Ele se ofereceu como a porta para a comunhão entre os seres humanos e Deus, nós nos oferecemos para ser mensageiros deste oferecimento. Os gregos em geral e os atenienses em particular tinham um enorme prazer prazer na discussão pela discussão. Como não tinham uma base revelada, como nós temos a Bíblia, o sentido da vida estava em perguntar pelo sentido da vida. Por isto, no plano do comportamento, eram, como também o somos, eram cativados por diferentes formas de epicurismo e de estoicismo (verso 18). Os epicureus, seguindo Epicuro (341-270 a.C.), tendiam para o ceticismo e o apóstolo Paulo define parte de sua visão de mundo, em uma de suas cartas: "Comamos e bebamos porque amanhã morreremos." (1 Coríntios 15.32). Por sua vez, na trilha de Zenão (340-265 a.C.), os estóicos achavam, como os panteístas em geral, que Deus é a razão (logos) inerente na matéria. Conseqüentemente, o sentido da vida consiste em viver em harmonia com a natureza. Tanto os epicureus quanto os estóicos e toda a tradição filosófica greco-romana tendiam a subordinar as experiências humanas à aprovação da razão. A pressuposição deles, e também de todo o Ocidente, é que só aquilo que a razão pode aceitar deve ser aceita pelos seres racionais. Esta visão, no entanto, não lhes impediu de mergulharem na mais profunda idolatria, vigorosamente ironizada e condenada pelo apóstolo Paulo, no discurso que lhes fez no areópago, em Atenas (versos 16 e 23). O apóstolo também não aceita neles a recusa ao novo. Eram curiosos e buscam as novidades, desde que não tivessem que mudar. Especulavam com a verdade, mas não queriam ser envolvidos com a Verdade (verso 32). Aliás, como sabemos, não se deixar envolver por Deus é um comportamento bem típico dos intelectuais, que, no entanto, não têm dificuldades de aceitar quinquilharias como duendes e gnomos e mesmo as várias manifestações das bruxarias e os inúmeros tipos de esoterismo. Eles precisavam de uma visão correta acerca de Deus, que não se encontra no panteísmo, nem politeísmo, nem no gnosticismo. O panteísmo afirma que tudo é Deus. A visão permanece inalterada e tem muitos adeptos. O politeísmo defende que há muitos deuses, com sentimentos próximos aos dos seres humanos. A expressão contemporânea que melhor traduz esta velha visão, que não exclui completamente o panteísmo, é a teologia dos cultos afro-brasileiros. O gnosticismo está convencido que Deus é um abismo (bytos), logo inefável (bonito, grandioso, mas inalcançável). Este gnosticismo se traveste hoje em agnosticismo, que se traveste agora de agnosticismo, para o qual, se existe, Deus não tem intesse pela história humana e, se tem, não interfere nesta história, de modo que estamos totalmente entregues ao império da razão ou do acaso. O apóstolo lembra que estes ensinos devem ser substituídos pela aceitação do monoteísmo cristão como revelado e vivenciado por Jesus Cristo. Os versos 24 e 25 são um autêntico hino antipanteísta: O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais. Deus, portanto, não habita literalmente em lugar algum, a não ser simbolicamente. Ele fez o mundo como algo distinto (separado) dEle. O Senhor da criação nos fez como pessoas distintas dEle. Com a Bíblia, aprendemos a como pensar. Aprendemos com ela que fé e razão não são contraditórias. Em seu discurso, ele lançou mão das convicções dos seus ouvintes e citou inclusive os filósofos que lhe eram contemporâneos (verso 28). A perspectiva espiritual cristã não se contrapõe ao mundo natural. Existir é uma dimensão natural; ser feliz, no entanto, é uma dimensao espiritual. Há a razão humana, que devemos explorar até esgotá-la. No entanto, há a razão revelada por Deus, que devemos investigar para aprendermos a ser. A Bíblia é o livro da mente e do coração de Deus para nossa razão e para nossas emoções. Para usar um certo recurso recente, a Bíblia é o livro cuja leitura nos pode fazer espiritualmente inteligentes. Não é o livro para mumificar a nossa mente, mas para estimulá-la. No sonolento filme "Inteligência Artificial", Steven Spielberg mostra um mundo construído pela razão, um mundo monótono, com uma eternidade absolumente vazia. Não lemos a Bíblia para parar de perguntar, mas para continuar perguntando. As pessoas espiritualmente inteligentes perguntam-se sempre. Aqueles que não crêem pensam que os cristãos somos aqueles que abrimos mão da intelegência e nos tornamos robôs mentais, como se renunciássemos à capacidade reflexiva de que Deus nos dotou. De vez em quando eu ouço, por exemplo, alguns cristãos dizerem, no uso de sua disposição racional: "Quando eu chegar no céu, vou perguntar a Jesus porque Moisés não entrou na terra prometida". Eu, então, brinco: "Lá nossas perguntas serão outras, e talvez não façamos nenhuma das indagações que fazemos hoje". Estou certo que também no céu continuaremos perguntando, assentados agora aos pés de Jesus que responde e também pergunta. Com a Bíblia, aprendemos a como pensar mas também e principalmente em Que pensar. Depois de perceber a alta racionalidade, tendente ao panteísmo e ao ateísmo, combinada (a racionalidade) estranhamente com uma alta idolatria, Paulo fala do DEUS DESCONHECIDO e O apresenta como Aquele que se deu a conhecer. Por isto, Ele não está longe de nenhum de nós (verso 27). Se é verdade que Deus é irrepresentável pela mente ou pela mão dos homens e é incognoscível (inconhecivel) apenas pela racionalidade humana, também é verdade que o esforço para conhecê-Lo deixou de ser algo doloroso e espinhoso, incerto e interminável. Ele se deu e se dá a conhecer por meio de Jesus Cristo. Conhecê-lO por meio de Jesus Cristo é encontrá-lO, relacionar-se pessoalmente com Ele, submeter a Ele os pensamentos e as emoções. E eis algo muito difícil: submeter-se a um Deus pessoal. Fernando Pessoa preferiu, e com ele muitos homens e mulheres de hoje, submeter a um Rei desconhecido e fazer-se um emissário dEle... Se leu, Fernando Pessoa não entedeu que o Rei desconhecido já revelou toda a sua face em Jesus Cristo, de quem somos emissários. O mistério acabou. Deus existe. Jesus Cristo é a sua perfeita revelação. Jesus Cristo nos mostra (verso 28) o sentido da vida. Fomos feitos por Ele (verso 29). Ele nos ama (verso 30). A razão não é capaz de nos nos dar o sentido da vida. Depois de tanto buscá-la, Nietzsche, Wittgenstein e Debord, por exemplo, acabaram literalmente loucos, sem compreender e sem se permitir abraçar por Jesus Cristo, que acolhe a todos quantos os buscam, com a simplicidade da fé, fé que não abre mão da especulação e da razão, mas que mostra a sua insuficiência, para agigantar o todo-suficiente o amor de Deus em Cristo por nós. Esta é a verdade que a razão não revela, porque já revelada por Jesus Cristo. CONCLUSÃO A discussão de Paulo com os gregos mostra a grande dificuldade da fé em Jesus, especialmente quando incluímos a ressurreição de Jesus no conteúdo das crenças essenciais Uma certa razão se recusa a aceitar, como ensinou Paulo aos gregos e nos ensina a nós, que Jesus Cristo um dia haverá de julgar o mundo com justiça. Como nos mostra a Bíblia, Deus o destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos (verso 31). Qual é o papel da razão? Servir de aferidor, regra, padrão, julgamento para nossos pensamentos e ações. Paulo ensina que Jesus Cristo é o julgamento de Deus para os homens. Neste sentido, Jesus Cristo é o crivo (filtro, regra, padrão) pelo qual todos precisamos passar. Quem passa por Ele chega ao coração de Deus. Para passar por este crivo, precisamos, e aqui vai o paradoxo maior da fé cristã, aceitar a graça de Deus manifesta em Jesus Cristo. Todos estávamos condenados. A razão, tipificada pela lei, não conseguiu restabelecer a comunhão com Deus. Como esforço final da razão amorosa de Deus paraa nos alcançar, Ele mesmo veio ao nosso encontro na pessoa de Jesus, que morreu por nós para que não precisemos permanecer mortos em nossos pecados e possamos, antes, ter vida transpordante na sua presença. Diante dEle, precisamos tomar uma decisão, a decisão de aceitá-lO como Salvador e Senhor. Eis o que Paulo disse aos atenienses. Alguns do que o escutaram, entre os quais Dionísio e Dâmaris (verso 34), arrependeram-se dos seus pecados e, desejando se reconciliar com Deus, entenderam (aceitaram, creram) que Jesus é o Salvador e o Senhor. Sejamos como Dionísio e Dâmaris. Chega de panteísmo. Chega de politeísmo. Chega de agnositicismo. Mesmo que embrulhados com o papel da razão, a mehor razão nos aponta para a cruz de Cristo, onde as nossas tentativas foram cravadas junto com Aquele que morreu por nós. A razão nos faz tatear. A razão, mediada pela fé em Cristo, nos faz caminhar para a frente e para o alto, para uma vida plena aqui e depois, para todo o sempre.. Isto lhe soa estranho, como soou aos que estavam no areópago (verso 18)? É você daqueles que não crêem em nada, mergulhados completamente na incredulidade? É você daqueles que crêem em tudo? Eu lhe convido a dar uma chance a você mesmo, aceitando como uma verdade pessoal para você mesmo que Deus fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra. [Ele] não habita em santuários feitos por mãos humanas. [Por isto] nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais. [Ele] de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação, para buscarem a Deus. [Pare de tatear, porque Ele] não está longe de cada um de nós. [Afinal] nEle vivemos, e nos movemos, e existimos. Somos geração de Deus, Por isto, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem. [Não importa o que você tem pensado acerca de Deus nem como você tem vivido, desde você se arrependa e aceite como seu Salvador e Senhor Àquele a Quem o Pai] destinou e acreditou diante de todos (versos 24-29). Venha conhecer a Deus. Venha permitir que Ele se apresente a você. Venha deixar que Ele tome você nos seus braços. Deixe-se envolver por Deus.
Posted on: Wed, 19 Jun 2013 00:13:36 +0000

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