Austerices moderadas -- Não, não vou dizer umas quantas - TopicsExpress



          

Austerices moderadas -- Não, não vou dizer umas quantas ordinarices que desagradem à dona Mónica. Muita gente se espanta com a sobrevivência do austerismo, mesmo quando é criticado pelos das suas próprias famílias, alguns dos quais chegaram ao top da comentocracia. O austerismo sobrevive porque muita gente bem e ilustrada -- desde conservadores a economistas neo-clássicos a keynesianos bastardos arrependidos pelas abébias dadas aos sectores não-transacionáveis e a alguns rentistas durante a primeira fase de resposta à crise (2008-2009)-- acha que os rapazes da austeridade fazem o trabalho sujo, que alguém teria de fazer, acrescentam. Limpar a porcaria Alguns das esquerdas e do centro-direita passaram-se mesmo para compagnons de route do austerismo, porque essa missão histórica de limpar a porcaria tem de ser feita. Vou dar de barato que não o fazem porque estão sentados em lugares que os conduziram à viragem. Admito que mudaram de ideias. Ponto. Esta gente semi-crítica é sensível a dois argumentos dos austeristas: por causa dos mercados (é preciso regressar a mercado e as yields para isso têm de baixar, vamos lá para os 5%) ou, noutra versão, por causa dos credores (pois estamos sob protetorado), é preciso fechar o ciclo troika, e que, depois, depois, no pós-troika, se verá. Por isso, a solução é aceitar, temporariamente (dizem), a política deflacionista (em alguns casos fanaticamente deflacionista para precarizar o emprego até ao extremo e destruir os sectores económicos sem interesse para a renovação) e de esmagamento das classes médias, pois com esse esmagamento virá o quebrar de espinha ao sindicalismo (em larga medida alimentado por essas classes médias seja sindicalismo vermelho ou cor-de-rosa) e ao centrão político (liquidando o espaço tradicional do que em Portugal se chama de cristãos democratas, social democratas e socialistas que, apesar das diferenças por vezes de substancia, bebem nas mesmas matrizes europeístas democráticas). Ensanduichar é o lema O objetivo dos austeristas é, em termos sociais e políticos, simples, parecido com a tática bolchevique (antes de ser corrigida para o frentismo): ensanduichar a principal fonte de massas da democracia (burguesa, dirão os herdeiros do leninismo; ou ineficaz e despesista, dirão os austeristas). A chatice são os danos estruturais que vão para além dos colaterais. Os rapazes austeristas fazem a coisa «à bruta» sem sensibilidade social (cristã, dirão uns) e sem olhar aos seus próprios eleitorados massacrados nas pensões, nos IVAs, no esmagamento da procura interna, na falta de crédito à economia real, no confisco fiscal, na descoberta, já endividados e lixados, de que nem todos podem ser casos de sucesso na exportação, na inovação, no empreendedorismo, de que isso da destruição criativa e do renascimento como fénix tem muito que se lhe diga, que isso do mérito é uma treta, de que há o mais filhos e os menos filhos no ecossistema ligado ao orçamento do Estado (os que recebem à cabeça ou certinho, e que os que esperam para além dos 120 dias; os que têm a batota feita ou os que descobrem nos concursos que foram tramados), etc. Ai minha nossa senhora que isso conduz à fadiga da economia real e da sociedade e à agitação nas bases eleitorais. Então, os ilustrados, com sensibilidade social e eleitoral, clamam, é pá, abrandem, moderem a coisa, façam um grande entendimento que dê ao povo uma austeridade moderada, mais ritmada. Ponto de viragem O problema é que a moderação, neste caso, é a morte do artista e o artista quer completar o máximo do trabalho sujo até julho de 2014 e deixar o template (ou powerpoint) para a fase seguinte. Por isso, os integristas da austeridade, apontam a outra saída, de um modo simulado ou aberto, pela própria voz ou através de ventríloquos, de preferência académicos, ou cromos senatoriais com ou sem assento nos órgãos de consulta - a da radicalização, a da emergência, a do estado de exceção, por necessidade. Pressionam o que restam de válvulas de segurança da arquitetura do sistema democrático -- a Presidência e o TC - já que a maioria no Parlamento, com algumas exceções, se transformou em câmara de ressonância. O país chegou, na realidade, a um ponto de viragem. Todos os que são democratas têm de se decidir.
Posted on: Sun, 03 Nov 2013 09:16:42 +0000

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