BEBETO Bebeto era confiante na vida. Suportou tudo com a tenacidade de uma formiga que carrega sem azedume a fadiga diária da existência. Nada se apresentou como páreo para sua força psicológica e física que derrubava tudo sem piedade, transformando em escombros qualquer empecilho que lhe atravessasse o caminho. Os mistérios para ele era coisa de gente tola, pois tudo se apresentava na mais clara luz de um domingo de sol. Suportou os meandros da existência apoiando-se em imperativos, a vida toda. Mas havia uma coisa que Bebeto não suportava, na verdade havia algo que Bebeto desconhecia por completo e mesmo assim fugia de imediato: a dúvida. Fato é que desde criança, Bebeto sentiu as pontadas de uma coisa ainda desconhecida que lembrava-lhe de imediato as águas frias que se banhava anos atrás — que de tão fria espetava-lhe a parte do corpo submerso na água; e sua permanência de nada ajudava para que se extinguisse a dor, mas do contrário, as pontadas aumentavam gradativamente. O que o levou, em sua breve reflexão, a uma única e inevitável possibilidade de contornar o problema: sair da água. Também, certa vez, na escola primária, a professora perguntou-lhe o que queria ser quando crescer. Mas Bebeto sentiu-se ruborizado, pois não sabia responder de pronto, o que seria quando crescesse. E a partir desse dia, pensou consigo mesmo, que teria de se decidir completamente o mais cedo possível. Para que não mais existissem dúvidas. E nessa época, talvez inocentemente, disse que "a vida não é para os tolos, mas sim para aos touros". E as vezes se assombrava por pensar compreender isto ainda em idade tão tenra. Mas Bebeto não tinha dúvida nenhuma quanto ao que pensava. As coisas eram exatamente como se lhe apareciam e ele não tinha culpa nenhuma por isso. Em breve resumo, este é Bebeto, uma pessoa que nunca se construiu, não porque não quisesse, mas porque não havia precisão. — Bebeto era ser a que nada faltava, por isso era triste.
Posted on: Fri, 06 Sep 2013 11:42:04 +0000
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