Bairros em mutação definem novo perfil do Rio O Globo, Opinião/Editorial, 31/out As duas últimas grandes obras de infraestrutura no Rio de Janeiro foram as linhas Vermelha (inaugurada em 1992) e Amarela (1997). Mas a inclusão da cidade na agenda de dois megaeventos internacionais (Copa e Olimpíadas) e a decisão da prefeitura de aproveitar para realinhar o crescimento do município, também com o projeto Porto Maravilha (aprovado pela Câmara dos Vereadores em 2010), fizeram disparar um volume de intervenções com impacto incomparavelmente mais profundo do que o daquelas duas obras viárias. É natural que, em razão de um fenômeno que movimenta investimentos grandiosos (R$ 15, 9 bilhões somente em obras para Copa e Jogos de 2016, mais o que se aplica na revitalização da Zona Portuária, e fora aportes futuros decorrentes do pré-sal), decorram modificações substanciais no processo de ocupação da cidade. A série de reportagens do GLOBO sobre a gentrificação de tradicionais bairros cariocas - processo de mudança do perfil de moradores e de negócios - dá uma boa medida de como o Rio se redesenha, em marcha típica de cidades que se modernizam para se adequar a novos tempos. A mudança de hábitos decorrente das migrações não é nociva. Ela evidencia que a cidade está viva, pulsante, realinhando o espaço urbano e descobrindo novas formas de ocupação. Mas cabe ao poder público saber como administrar esses movimentos, cuidando para que tal dinamismo não seja contaminado por equívocos. A história da cidade mostra que esta não é uma preocupação infundada: no início do século passado, a falta de ações para manter sob controle o processo de migração de famílias de baixa renda resultaram na ocupação alternativa de morros, que hoje abrigam imensas favelas. Mas, além da experiência passada, outros fatores contribuem para que esse processo seja positivo para a cidade. Para isso, o poder público não pode renunciar ao papel de indutor das transformações. É o caminho para assegurar que não se desvaneçam em equívocos de gestão os benefícios da irreversível modernização da cidade, e também para mitigar, nesse processo, desdobramentos que dessirvam ao município. Caso, por exemplo, da necessidade de oferecer às famílias de baixa renda que saem de bairros em processo acelerado de modernização redes de serviços, infraestrutura (transportes, etc.) e educação nas novas áreas que as acolham. Cabe-lhe também implementar ações que facilitem o reassentamento desses moradores (o que se aplica igualmente às políticas de desfavelização) e que assegurem a diversificação nos bairros em transformação. A mudança do perfil carioca é irrefreável; administrá-la de forma competente, mas sem amarrar as forças do mercado, é um grande desafio.
Posted on: Fri, 01 Nov 2013 02:37:52 +0000
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