Bem, difícil não ser parcial sendo médico, mas vou tentar intensamente não soar "coorporativista". Com pouco tempo de profissão pude ter o pouco reservado a mim do choque com uma realidade de condições medievais de trabalho, irregularidade trabalhistas, desrespeito, etc. Mas minha história pessoal e o desencanto com a profissão não cabem aqui, estamos discutindo a saúde no Brasil e a vinda de mais médicos para reforçar o time. Nosso número de médicos por habitante e 1/622 enquanto a OMS preconiza 1/1000. Adiciono que no sudeste esse número sobe para 1/455, para concluir que não falta em termos absolutos, não excluindo que há concentração de fato. Quanto a concentração, há informação de sobra por aí sobre o porque. O que eu gostaria de trazer para a discussão, com muito respeito a todos que debatem isso, é a maneira como o Brasil vai de fato trazer médicos de fora para suprir as necessidades de onde não existe disponibilidade/interesse dos profissionais brasileiros. Vamos enfim suprir demandas e atender populações descobertas? Na minha opinião, ótimo. Digo isso contrariando a massa de respeitosos colegas indignados. Entretanto, segundo o CFM (conselho federal de medicina), quase 90% dos estrangeiros pesquisados falharam na avaliação de equivalência de competência desta entidade. Até o momento não há menção por parte do governo em submeter os estrangeiros ´a revalidação de diploma. Ressalto que muitos médicos por aqui são de fora e revalidaram num processo que é dificílimo. Tenho o privilégio de conhecer alguns e sei que contribuem com uma excelente qualidade de serviço. Os cubanos demonstram uma prática da medicina segundo um outro paradigma. Existem alguns analistas que ressaltam o sucesso deste profissional adaptado a uma realidade de carências, de um estado que sofre há décadas com privações, restrições ao acesso a recursos, crédito e os mercados mundiais. Coisas do embargo... Não cabe a mim julgar se é melhor ou pior médico. O interessante é que trazendo os cubanos estaremos admitindo o fracasso do SUS. Resignamos que este não pode ser estendido a todos os brasileiros pois não há verba ou disponibilidade de profissionais para oferecer exames, consultas, internações, enfim, a saúde que o Brasil tenta oferecer ao resto do país. Resignamos de exigir o SUS de acordo como foi idealizado. Isso divide nosso país entre os que ainda recebem o SUS e os que passam a receber os cuidados desse outro paradigma de se atuar na medicina. Não me sinto ameaçado. Digo com muita sinceridade que se após algum tempo, este o suficiente para constatarmos que o modelo cubano é melhor, ficarei feliz em humildemente aprender com eles. Até lá, ao contrário de muitos queridos compatriotas que não terão essa escolha, opto por me tratar em nossos hospitais públicos e particulares, assim como vocês, bem como nossa respeitosa presidenta.
Posted on: Sun, 23 Jun 2013 03:55:19 +0000
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