Biógrafos podem ser qualificados como bisbilhoteiros, alguns - TopicsExpress



          

Biógrafos podem ser qualificados como bisbilhoteiros, alguns podem até chegar a charlatães – caso de uma tentativa biográfica de Paulo Francis, em boa parte responsável pelo enfarte que o matou –, mas o biógrafo egresso do jornalismo traz em sua bagagem os procedimentos deontológicos que adquiriu nos anos de Redação como repórter, redator, editor ou colunista. Uma entrevista sem pinceladas biográficas não será uma boa entrevista – esta talvez seja a grande falha dos papos sem diálogo, tipo pingue-pongue, hoje uma praga; um personagem recém-aparecido no noticiário precisa ser introduzido como pessoa, não basta reproduzir o seu currículo; o obituário é uma biografia genuína, ao revés, por força da cronologia, o pretexto é a morte do sujeito. Nas diferentes esferas que compõem o relato jornalístico as técnicas da biografia estão presentes em quase todas, da análise política à crônica esportiva. Fatos não existem sem gente e quem sabe tratar de gente, gentificar, são os jornalistas quase sempre dublês de biógrafos. É evidente que a capacidade de retratar seres humanos não é exclusiva dos profissionais de imprensa: críticos literários que não se contentam em avaliar obras e avançam em direção dos autores e os raros historiadores capazes de humanizar a história são igualmente confiáveis em matéria ética. A má vontade do coletivo das celebridades com os biógrafos vem justamente do fato de que muitos são jornalistas qualificados, portanto menos vulneráveis a pressões e/ou seduções. Curioso que esta surpreendente caça aos biógrafos é obra de duas empresárias muito bem sucedidas. Acostumadas com os releases e a comandar dóceis assessores de imprensa nas duas pontas do processo de comunicação, querem transferir este tipo de relacionamento para a esfera literária. (Alberto Dines – Na falta de debates, um arranca-rabo)
Posted on: Tue, 15 Oct 2013 21:52:02 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015