Bom, já que eu toquei no assunto, vamos a alguns pontos que me - TopicsExpress



          

Bom, já que eu toquei no assunto, vamos a alguns pontos que me exasperam na atual configuração simbólica do país. Vejamos o caso da música. Música popular de massas. Éramos , há uns 30 anos, um mercado grande de música nacional, com boa variedade, elencos diversificados, e uma programação radiofônica mais ou menos espontânea. Mais do que isso, a música brasileira florescia em contato contínuo com as influências metropolitanas, na maior parte das vezes, sem perder suas características, sem abandonar o português , e propondo curiosas hibridizações estilísticas que contribuíam para uma poderosa cultura musical, afora o reconhecimento mundial de gênios como Tom Jobim, João Gilberto, Milton Nascimento, Edu Lobo, Eumir Deodato, e toda uma geração de instrumentistas que veio a se integrar na nata da música instrumental mundial. Depois de três décadas do império do jabá, aniquilou-se esse quadro. Por certo, ainda temos qualificadíssimos compositores, letristas, cantautores, arranjadores, instrumentistas e intérpretes. Mas a relação da música popular com o país se empobreceu terrivelmente. Um patrimônio cultural tão potente foi transformado em cinzas, e sobrevive agora de distintos expoentes que são resquícios de um outro paradigma cultural e social. Expoentes máximos que , hoje, em vez de fazer qualquer crítica ou tomar qualquer iniciativa pelo bem da música popular, do campo que tanto lhes deu, preferem botar a cara a tapa para proibir biografias não-autorizadas. Enquanto isso, nas cidades típicas , tanto capitais quanto interior, predominam gêneros odiosos, e aqui, vejam bem, não se trata de uma crítica estética subjetiva, mas simplesmente do reconhecimento de um fato : sertanejo universitário é cristalinamente um gênero de extrema superficialidade, que só reforça estereótipos, e é feito como uma luva para setores cafonas, ignorantes, e rasos se locupletarem do agro-negócio e berrarem a 100 decibéis sua indigência espiritual. O funk carioca, é , apesar de nitidamente tão rebaixado quando o sertanejo, pelo menos mais original e autêntico. Continuo achando que pode ser tema inspirado para teses de doutorado, mas como expressão artística não passa de um grito de desespero. O resto é padrão industrial, na pior acepção da palavra : tudo padronizado, empobrecido, simplificado e falseado. Alguém sempre pode objetar : mas sempre houve música ruim no Brasil , sob vários pontos de vistas, alguns inclusive opostos ; ao que eu replico que , antigamente, havia disputa, havia partilha dos espaços radiofônicos. Hoje, não. É virtualmente proibido para mim almejar tocar em 95 % das rádios da cidade onde vivi e gravei todo o meu trabalho. Rádios , hoje , embora concessões públicas, são meros repetidores de gravadoras, como a maioria esmagadora das rádios que ainda se dizem musicais, fora a praga de rádios religiosas. Não posso esquecer da nossa querida Rádio Inconfidência, que, apesar de abrir espaços aos músicos locais, o faz em conta-gotas, enquanto se mantém amarrada a uma programação completamente ossificada, um mausoléu musical. Canções que ninguém aguenta mais escutar tocando diariamente há 30, 40 anos na mesma rádio. Enquanto outras, excelentes, contemporâneas, vão ficando esquecidas , largadas, como que produzidas numa não terra, para não ouvintes.
Posted on: Thu, 31 Oct 2013 19:10:05 +0000

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