Brain Storm " Ah, Se eu sei, não nascia, ah se eu sei, não - TopicsExpress



          

Brain Storm " Ah, Se eu sei, não nascia, ah se eu sei, não nascia.A loucura é vizinha da mais cruel sensatez. Engulo a loucura porque ela me alucina calmamente.O anel qu tu me deste era de vidro e se quebrou e o amor não acabou, mas em lugar de, o ódio dos que amam.A cadeira me é um objeto.Inútil enquanto a olho.Diga-me por favor que horas são para eu saber que estou vivendo nesta hora.A criatividade é desencadeada por um germe e eu não tenho hoje esse germe mas tenho incipiente a loucura que em si é criação válida.Nada mais tenho a ver com a validez das coisas.Estou liberta ou perdida.vou contar-lhes um segredo: a vida é mortal.nós mantemos esse segredo em mutismo cada um diante de si mesmo porque convém, senão seria tornar cada instante mortal.Ibrahim Sued disse que era um mortal sem fardão.O objeto cadeira sempre me interessou.olho esta que é antiga, comprada num antiquário em berna, e estilo império: não se poderia imaginar maior simplicidade de linhas, contrastando com o assento de feltro vermelho.Eu amo os objetos na medida em que eles não me amam.Mas se não compreendo o que escrevo a culpa não é minha.Tenho que falar pois falar salva.Mas não tenho uma palavra só a dizer.As palavras já ditas me amordaçaram a boca.O que é que uma pessoa diz a outra? Fora "como vai?" Se desse a loucura da franqueza, que diriam as pessoas as outras? E o pior é o que se diria uma pessoa a si mesma, mas seria a salvação, embora a franqueza seja determinada no nível consciente, e o terror da franqueza vem da parte que tem no vastíssimo inconsciente que me liga ao mundo e à criadora inconsciência do mundo.Hoje é dia de muita estrela no céu, pelo menos assim promete esta tarde triste que uma palavra humana salvaria.A pior cegueira é dos que não sabem que estão cegos..Abro bem os olhos, e não adianta: apenas vejo.Mas o segredo, este não vejo nem sinto.A eletrola está quebrada, o conserto é muito caro, e não viver com música é trair a condição humana que é cercada de música.Aliás música é uma abstração do sentimento, falo de Bach, de Vivaldi, de Haendel.Aquele abraço, eu já não aguento mais essa canção que no entanto é tão fraternal.Só posso escrever se estiver livre de censura, senão sucumbo.Olho a cadeira estilo império e dessa vez foi como se ela tivesse me olhado e visto.O futuro é meu enquanto eu viver.No futuro, vai-se ter mais tempo de viver, e de emcambulhada, escrever.No futuro se diz: se eu sei, eu não nascia.Aliás só sei em todas as circunstâncias ser íntima: por isso sou mais uma calada.Tudo o que nunca se fez, far-se-á um dia? O futuro da tecnologia ameaça destruir tudo que é humano no homem, mas a tecnologia não atinge a loucura: e nela então o humano do homem se refugia.vejo as flores na jarra: são flores do campo, nascidas sem se plantar, são lindas e amarelas.Mas a minha cozinheira disse: mas que flores feias.Só porque é dificil compreender e amar o que é espontâneo e franciscano.Entender o difícil não é vantagem. mas amar o que se é fácil de se amar é uma grande subida na escala humana.Quantas mentiras sou obrigada a me dar.Mas comigo mesma é que eu não queria ser obrigada a mentir.Senão, o que me resta? A verdade é o resíduo final de todas as coisas e no meu inconsciente esta a verdade que é a mesma do mundo.A lua como diria Paul Eluard, éclante de silence.Hoje não sei se vamos ter uma lua visível porque já é tarde e não a vejo no céu.Uma vez numa estação de água em Minas, eu olhei de noite para o céu, circunscrevendo-o com a cabeça deitada para trás, e fiquei tonta de ver tantas estrelas no campo, pois o céu, é limpo.Não há lógica, se for pensar um pouco, na ilogicidade perfeitamente equilibrada da natureza.Se eu pudesse escrever assim sempre, em plena tempestade de cérebro que significa brain storm: nunca se sabe o que pode nos vir a assustar.O monstro sagrado morreu, em seu lugar nasceu uma menina que era órfa de mãe.Bem sei que terei que parar, não por causa da falta de palavras, mas porque essas coisas sobretudo as coisas que eu só pensei e não escrevi, não se usam publicar em jornais." Clarice Linspector.
Posted on: Sun, 23 Jun 2013 08:34:27 +0000

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