CADÊ O MÉDICO? Alguma noite de inverno em 2007, 2h da manhã, telefone do quarto do plantão toca. "Doutor, acidente grave na faixa (estrada)"... Me preparo para receber. Dois rapazes, se perderam na curva e colidiram com uma árvore. O menos grave tinha fraturas de costelas, lesões profundas sangrantes, respirava com dificuldade. O outro. TCE (Trauma crânio encefálico) grave. Chegou já com comunicação mínima e piorava rapidamente. Aqui vale um parêntese. Você, que insiste que "pobre" só tem vermes e doenças onde um médico é "melhor que nada". Estes rapazes eram humildes trabalhadores, estavam em um carro velho. Ser arremessado para fora do Chevette onde estavam ou de um BMW exige EXATAMENTE O MESMO recurso. Coloquei o tubo na garganta do rapaz com TCE. Próximo passo? Instalar ventilação mecânica (aparelho de respiração) e medidas para diminuir a pressão no cérebro, exames gerais e radiografias completas, tomografia de crânio, avaliação com neurocirurgião, transfusão de sangue se necessário. Minha realidade: Tanto laboratório quanto RX não eram 24h, dependiam da boa vontade dos técnicos saírem de suas residências no meio da madrugada de um sábado. Consegui, com algum choro, RX. ventilação mecânica? Tomografia? Neurocirurgião? Sangue? Passei a noite mantendo o rapaz vivo, que piorava progressivamente, e insistindo com diversos hospitais da região, os mais próximos à 75km de ambulância. Todos recusavam, estavam superlotados. Ao fim da madrugada, depois de bastante telefone, transferi o rapaz, já com lesão cerebral bastante evoluída. Semanas depois fiquei sabendo que sobreviveu. Ficou em estado vegetativo. Sabe porque os prefeitos tanto fazem esta pergunta? Porque não importa a estrutura que o município tenha. Naquela noite, ele, o prefeito, dormiu bem. Ter um médico ali, mesmo que totalmente desamparado, traz um belo sono ao gestor. PS: Preciso dizer que a história é verídica?
Posted on: Sun, 28 Jul 2013 21:01:48 +0000
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